Rumsfeld fala de “erro de marketing” em invasão do Iraque

Donald Rumsfeld, que está deixando o cargo de secretário da Defesa, é um homem de poucos arrependimentos, mas reconheceu que tinha “dúvidas” em relação à frase “guerra contra o terror” usada com freqüência pelo governo Bush para descrever as invasões mili

Ao ser perguntado pelo comentarista de direita (conservador, como a mídia corporativa americana descreve) Cal Thomas sobre o que teria feito diferente durante seus quase seis tempestuosos anos como chefe da Defesa do presidente Bush, Rumsfeld respondeu: “Eu acho que não a teria chamado de 'guerra contra o terror'”.


 


Thomas entrevistou Rumsfeld na última quinta-feira e o Pentágono divulgou na terça-feira a transcrição da entrevista.


 


Rumsfeld prosseguiu: “A palavra 'guerra' remete mais à Segunda Guerra Mundial do que à Guerra Fria, e cria um nível de expectativa de vitória e um final dentro da duração de 30 ou 60 minutos de uma novela. Só que não acontecerá desta forma”, ele disse.


 


“Além disso”, acrescentou Rumsfeld, “não é uma guerra contra o terror. O terror é a arma preferida dos extremistas que estão tentando desestabilizar os regimes e impor — nas mãos de um pequeno grupo de clérigos — sua visão sombria sobre todas as pessoas que podem controlar”.


 


“Assim, 'guerra contra o terror' tem um problema para mim, e trabalhei para tentar reduzir seu uso, para aumentar nosso entendimento de que se tratava de uma longa guerra, luta ou conflito, não contra o terrorismo, mas contra um número relativamente pequeno, mas terrivelmente perigoso e letal, de extremistas violentos”, desculpa-se Rumsfeld.


 


Rumsfeld reconheceu que usou regularmente a frase para descrever os esforços americanos após os ataques de 11 de setembro de 2001, atribuídos à suposta rede terrorista al-Qaida, e acrescentou que não visa criticar aqueles no governo que ainda a usam.


 


Mas seus “esforços” para reescrever a comunicação pública do governo sobre as guerras no Iraque e Afeganistão não subiram a cadeia de comando. Na segunda-feira, Bush disse sobre o Iraque: “Sucesso é um país que governa e defende a si próprio, que tenha uma sociedade livre, que sirva como aliado nesta guerra contra o terror”.


 


Rumsfeld também disse a seu entrevistador que poderia ter feito um “trabalho melhor” para explicar ao povo americano por que o atual número de soldados americanos ocupando ilegalmente o Iraque — mais de 140 mil — é o “certo”.


 


“As pessoas que freqüentemente defendem a presença de mais soldados, eu acho, estão pensando na Segunda Guerra Mundial (…) um conflito entre exércitos, marinhas e forças aéreas”, ele disse. A presença de mais soldados no Iraque “pode aumentar o recrutamento para o extremismo, pode aumentar o financiamento para os extremistas, pode tornar mais persuasivas as mentiras dos extremistas de que estamos lá pelo petróleo, por sua água ou para tomar seus países”.


 


“Quanto mais pessoas você coloca lá, mais pessoas vão morrer. Eu acho que o argumento não é impressionante, não é bem pensado, não é multidimensional e é um pouco estreito em sua perspectiva”, alega.


 


Rumsfeld se referia a comentários que o senador John McCain, republicano do Arizona, fizera, pedindo o envio de mais 20 mil soldados para o Iraque.


 


Nem o entrevistado, nem o entrevistador, esclarecem que o tempo de ocupação americana do Iraque é maior que o tempo gasto para derrotar o império japonês no Pacífico e lutar com os outros aliados na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.


 


Rumsfeld tem dado regularmente entrevistas para comentaristas conservadores, que refletem fielmente as posições da administração Bush. Thomas não foi diferente. Perto do final da entrevista, Thomas convidou Rumsfeld e sua esposa para irem à sua casa para assistirem um filme em um sistema de home theater.


 


Da transcrição oficial do Departamento de Defesa:


 


“Rumsfeld: Eu ouvi falar destes home theaters, você tem cadeiras que…


 


Thomas: Ah, elas são divertidas. Sim, sim é possível isto. É possível dormir, fazer qualquer coisa. É muito bacana.


 


Rumsfeld: Minha esposa adora cinema.


 


Thomas. Que bom.


 


Rumsfeld: Ela sempre vai com um grupo de mulheres, mas faz seis anos que não vou ao cinema.”


 


Então Thomas convidou Rumsfeld para ir e assistir o filme “Akeelah and the Bee”, sobre uma menina afro-americana que se destaca em um concurso de soletrar palavras, um filme que Thomas disse a Rumsfeld que lhe fez chorar.


 


Novamente da transcrição:


 


“Thomas: Eu garanto que lhe devolvo o dinheiro se não adorar este filme. Você o adorará. Tem de tudo. Não tem nenhum branco – o único branco é o diretor da escola. Todos os demais são minorias, todo mundo convive bem.


 


Rumsfeld: Você gostou de “A Noviça Rebelde”?


 


Thomas: É claro que gostei de “A Noviça Rebelde”.


 


Rumsfeld: Eu também.”


 


Thomas se gabou de ter lutado por 40 anos para obter um autógrafo da estrela do filme, Julie Andrews, e que o conseguiu há dois anos.


 


Rumsfeld disse: “Ela está aparentando sua idade”.


 


“Não, ela está ótima”, contestou Thomas, com Rumsfeld respondendo com uma risada.