Pinochet foi um símbolo de “ódio e violência”, diz Bachelet

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse nesta quarta-feira (13/12) que a morte do ex-ditador Augusto Pinochet representa a partida “de um símbolo de divisões, ódio e violência”. Bachelet , no entanto, descartou que uma nova fase comece no Chile.

“Não acho que seja uma nova etapa. Acho que a nova etapa que viveu o país começou em 1990, quando conquistamos a democracia e se iniciou um processo de reencontro”, disse a presidente, em suas primeiras declarações após a morte do ex-ditador. “É claro que, com a história que o Chile tem, as dores e os sentimentos persistem por muito tempo”, ressaltou.


 


Em entrevista coletiva, Bachelet também se referiu às declarações no funeral de Pinochet de um dos netos do ex-ditador, o capitão Augusto Pinochet Molina, que fez um discurso político sem autorização nem conhecimento de seus superiores. Bachelet considerou inaceitável a atitude “de um oficial em serviço ativo”, e disse que o Exército tem normas claras a respeito e deve aplicar o regulamento.


 


“O governo não vai dizer ao Exército o que tem que fazer”, disse a presidente que, por outro lado, não quis falar sobre a atitude de um neto do que ex-chefe do Exército Carlos Prats – antecessor de Pinochet no cargo – que cuspiu no caixão do ex-ditador durante o velório. Prats e sua esposa, Sofía Cuthbert, foram para Buenos Aires após o golpe militar de 1973, sendo assassinados nessa capital em setembro de 1974 pela Dina – a Polícia secreta da ditadura de Pinochet (1973-90).


 


O Chile hoje
Bachelet também destacou que o Chile vem consolidado desde 1990 uma democracia forte, sólida e estável. “Os chilenos conseguiram se reencontrar. Foi nosso mais prezado bem e devemos defendê-lo”, disse.


 


“Nas últimas horas, vimos expressões de divisão que, por momentos, nos lembraram os tristes episódios que o Chile superou”, disse, acrescentando que “a mote do general ameaçava dividir os chilenos novamente, dada as fortes emoções e sentimentos que este fato provocaria em nossos cidadãos”.


 


Segundo organizações de direitos humanos, a “herança do general” inclui 3 mil desaparecidos políticos e quase 30 mil torturados – entre eles, a própria Michelle Bachelet.


 


Um funeral atípico
Cerca de 5 mil fervorosos admiradores de Augusto Pinochet participaram na terça-feira do funeral do ex-ditador chileno, realizado no pátio da Escola Militar de Santiago. Houve vaias à ministra da Defesa por causa da decisão do governo de não conceder honras de chefe de Estado a Pinochet – nome que se tornou um sinônimo mundial de abusos dos direitos humanos.


 


“Que se vá, que se vá”, pediram os simpatizantes do ex-ditador, quando a ministra entrou no recinto para onde o corpo do ex-governante foi levado para receber as honras militares programadas pelo Exército do Chile. Ao mesmo tempo, milhares de esquerdistas faziam uma manifestação no centro da cidade. Vários manifestantes, vestidos de diabos, jogaram um caixão no rio Mapocho, onde corpos de dissidentes eram atirados durante a ditadura (1973-90).


 


Uma das filhas de Salvador Allende, Carmen Paz Allende, justificou sua presença, numa das raras vezes, numa manifestação pelo pai, que, oficialmente, se suicidou ao ser alvo do golpe de Pinochet, em setembro de 1973. “São tantas feridas abertas. Tantos processos judiciais sem resposta. Eu só lamento, lamento e lamento muito que Pinochet tenha morrido sem responder por tantos crimes.”