Limeira, SP: indústria de jóias explora 6 mil crianças

Pesquisa realizada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) junto às escolas estaduais de Limeira e região (a cerca de 150 km de São Paulo), identificou que pelo menos 6 mil crianças e adolescentes trabalham para as indústrias de bijuterias da c

A maioria dessas crianças e jovens trabalha com pais ou irmãos na montagem de folheados brutos, que abastecem as 450 empresas do setor existentes na cidade. O ramo de bijuterias fatura anualmente no país cerca de 220 milhões de dólares, 60% dos quais em Limeira.



Esse bom desempenho econômico, no entanto, não garante remuneração justa para seus trabalhadores, muitos dos quais trabalham em oficinas clandestinas de fundo de quintal. “Ganho R$ 5 por milheiro. Então tem de fazer bastante para tirar pelo menos uns R$ 300 por mês. Com isso, o salário mínimo do marido e os R$ 95 do Bolsa-Família, a gente monta uma renda”, diz uma mulher procurada pela reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Trabalham com ela as duas filhas, Janaina e Jéssica, de 16 anos, e o filho de 8. “As crianças de 5 e 3 não fazem nada, só olham”, diz.



Esforços repetitivos



Além dos problemas sociais advindos da entrada prematura no mercado de trabalho, jovens ouvidos pelo estudo da Unimep relataram dores nos braços e ombros. Segundo o estudo, 62,1% das crianças e adolescentes afirmaram que realizam trabalhos repetitivos, 42% reclamaram de dores nos ombros e pescoço e 32% reportaram dores nas mãos e nos braços, configurando sintomas de LER (Lesão por Esforços Repetitivos).



A Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região do Ministério Público do Trabalho (Campinas) e o Ministério do Trabalho abriram duas linhas de investigação nas indústrias de jóias de Limeira. Uma em relação ao trabalho infantil e outra para controlar os danos ao meio ambiente causados, principalmente, por empresas clandestinas.



O Ministério já chegou a realizar audiência pública em setembro de 2006 com empresários do setor para se buscar uma solução de consenso para os problemas. Segundo Humberto Luiz Mussi, da Procuradoria Regional, o órgão busca fórmulas para resolver a questão sem romper de maneira brusca com uma fonte de renda de milhares de famílias pobres. “Não podemos atuar diretamente na empresas pois corremos o risco de extinguir a única fonte de renda de muitas famílias”, diz Mussi.
A reportagem do Portal do Mundo do Trabalho procurou conversar com o autor da pesquisa, mas foi informada pela secretaria da Unimep que o campus encontra-se em recesso escolar e não disponibilizou o telefone do autor.



O trabalho infantil é uma das piores chagas das sociedades modernas, que deve ser combatido de todas as maneiras. Não se pode conviver com esse problema sob a alegação de que o trabalho infantil representa uma fonte de renda para as famílias. O governo e a sociedade têm que empreender todos os esforços possíveis para acabar de vez com essa mancha na história do mundo do trabalho no Brasil.