Filha de Che Guevara fala sobre Fidel e futuro cubano

“Cuba sobreviverá à morte de Fidel Castro porque nem mesmo ele conseguiria se manter no poder se não tivesse por trás um povo unido. Mas o momento do adeus está longe porque ele é um homem muito forte e tem vontade de viver”.

A filha de Che Guevara, Aleida Guevara, falou à imprensa estrangeira sobre o futuro de Cuba e a situação de Fidel Castro em Milão no final do último mês. “Cuba sobreviverá à morte de Fidel Castro porque nem mesmo ele conseguiria se manter no poder se não tivesse por trás um povo unido. Mas o momento do adeus está longe porque ele é um homem muito forte e tem vontade de viver”, disse Aleida.


 


Aleida Guevara é médica pediatra em Havana e presidente do Centro de Estudos Ernesto Che Guevara. Convidada pela Associação da Amizade Itália-Cuba para realizar uma série de viagens internacionais, com o intuito de derrubar “o muro de silêncio sobre a realidade cubana”, mostrou-se veemente ao apresentar suas idéias e nas respostas que deu às perguntas sobre os direitos humanos e liberdade de expressão em seu país.


 


Aleida, que no futuro pretende continuar praticando a medicina, mas sem excluir (“apenas se necessário”) a possibilidade de uma participação ativa no governo, lembrou os princípios da revolução socialista cubana. “Somos contra o neoliberalismo, que há 25 anos está piorando as condições de vida na América do Sul, e o Nafta, acordo de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. Este último, mesmo sendo produtor de petróleo e manufaturados têxteis, é obrigado a importar algodão e diesel dos Estados Unidos”, disse.


 


Denunciou também o “bloqueio econômico contra a ilha, com o qual o governo norte-americano impede nossas relações comerciais com outros países e proíbem navios estrangeiros que nos trazem mercadorias de atracarem na costa americana por seis meses. Perdemos centenas de milhões de dólares, mas a nossa economia cresce mesmo assim”.


 


Sobre a hipótese de quem poderia substituir Fidel Castro, a filha de Che disse: “Fidel é o melhor resumo da história deste povo, mesmo se ele não estivesse lá, a revolução cubana continuaria. Agüentamos pressões e ataques terroristas durante 47 anos, mas continuamos a avançar graças a um consenso popular. Muitas vezes não é clara a diferença entre um sistema socialista e a sociedade capitalista: nas nossas eleições não há partidos, mas as pessoas expressam livremente a cidadania em nível municipal e nacional. Para nós são importantes os valores, não os homens, e há muitas pessoas capazes de representá-los, do presidente do Parlamento ao ministro das Relações Exteriores e muitos outros. Esperamos que Fidel lhes possa passar sua experiência”.


 


Sobre jornalistas condenados a longos períodos de prisão por discordar do governo, Aleida, fazendo referência aos últimos casos, respondeu: “Eram pessoas que forneciam informações ao FBI sobre firmas que faziam negócios em Cuba e que eram ameaçadas pelo governo. Causaram um grande prejuízo para nós. Somos 11 milhões de pessoas e nem sempre concordamos uns com os outros. Nós também cometemos erros, mas tentamos aprender com eles”. Ela concluiu pedindo a soltura dos cinco heróis cubanos presos injustamente nos EUA, acusados pela administração Bush de “terrorismo”, e que mobilizam várias associações internacionais pela sua liberdade.