Estudantes azedam festa da elite paulista na Oscar Freire

Um grupo com cerca de 20 jovens, protestando contra o aumento da tarifa de ônibus, roubou a cena na reinauguração das obras da rua mais chique de São Paulo – a Oscar Freire. Com cartazes que lembravam a desigualdade social, eles foram questionar o prefeit

Kassab ficou menos de meia-hora na festa, no começo da tarde de domingo (10/12). Próximo à rua Bela Cintra, começou a falar aos jornalistas. A entrevista foi interrompida pela chegada do grupo de estudantes, e o prefeito decidiu se retirar do evento, sem falar com os manifestantes. O grupo pertence à Frente de Luta contra o Aumento de Ônibus.


 


Já a presidente da Associação dos Lojistas da Oscar Freire, Rosângela Lyra, diretora da Dior no Brasil, chegou a bater boca com os jovens. Minutos depois, ela conversou com alguns deles mais calmamente. “É uma falta de respeito esse pessoal, de tênis Adidas e All Star nos pés, que custam caro, vir estragar uma festa que é um presente para a cidade”, dizia, exasperada.


 


“Se eles não podem pagar o ônibus, também não podem comprar os tênis. Além disso, faltaram com respeito com nossos convidados – participantes de ONGs da periferia que vieram apresentar seus trabalhos”. Durante todo o dia, espetáculos coordenados por ONGs como Projeto Guri, Arrasta-Lata, Aprendiz, Jovens Mestres e Aliança da Misericórdia tomaram conta dos palcos espalhados pelas ruas do entorno. Para Rosângela, “a campanha eleitoral para a Prefeitura já começou”.


 


A líder da elite paulista – que declarou que votaria em Kassab se ele se candidatasse à reeleição – questionou: “Por que eles (os estudantes) não apareceram quando o prefeito foi a Parelheiros ou à Cidade Tiradentes? Tudo que tem mídia, eles vão”. Os estudantes afirmaram que estavam ali somente para protestar contra o aumento das tarifas.


 


Não é para a elite?
Outros participantes do evento argumentavam com os jovens que não é correta a informação de que a Prefeitura gastou tantos milhões assim na revitalização da rua. “Eu não queria que vocês vinculassem que a Prefeitura está gastando dinheiro com a elite”, pediu Rosângela aos estudantes.


 


Em alguns momentos, o debate com os estudantes tornou-se mais acalorado. “O socialismo já acabou – e você sabe que não deu certo”, disse um participante do evento ao grupo. “E o capitalismo, por acaso, está dando certo?”, retrucou um estudante.


 


A manifestante Nina, que preferiu não revelar o sobrenome, indignou-se com o desconhecimento de alguns participantes do evento do aumento do ônibus. “Muita gente me parou porque não sabia que o ônibus tinha subido”, disse. Mesmo assim, ao final da conversa, Rosângela Lyra abraçou os estudantes e pediu para eles “amolecerem o coraçãozinho”.


 


Hipocrisia
Os estudantes surgiram na esquina com a Rua Bela Cintra gritando palavras de ordem contra o aumento das tarifas de ônibus e de táxi na cidade. Também se disseram incomodados com o convite distribuído para a imprensa. “Poeira, marteladas e barulho acabaram. No lugar dos operários, homens e mulheres bem vestidos e com a aparência favorecida em todos os aspectos voltam a circular pelas calçadas da rua Oscar Freire”, dizia um trecho.


 


Camila Gomes, uma das manifestantes, questionava se isso não era preconceito. “O pior é que gastam dinheiro em uma rua onde só rico passa e aumentam o ônibus de quem precisa trabalhar. A gente pega mais de uma condução por dia e ficou caro demais. É um abuso.”


 


Assim que os manifestantes apareceram, o prefeito se retirou rapidamente do local sem dizer nada. Minutos antes, explicava à imprensa os motivos do investimento. “Essa obra faz parte do programa de recuperação de ruas de comércio da cidade e só nos trará benefícios. Com o aumento das vendas, milhões de reais serão arrecadados em ICMS e ISS. Tivemos uma decisão acertada.”


 


Projeto polêmico
As obras da Oscar Freire – que deixaram a região com calçadas mais amplas e uniformes, promoveram o enterramento de todos os fios e padronizaram o mobiliário urbano – foram entregues com alguns detalhes ainda não-concluídos, como a colocação do piso em algumas esquinas.


 


A revitalização custou R$ 8,5 milhões. Desse total, R$ 4,5 milhões foram pagos pela Prefeitura, R$ 3 milhões por uma operadora de cartão de crédito e R$ 1 milhão pelos lojistas. A reforma abrangeu cinco quarteirões, entre as ruas Padre João Manoel e Dr. Melo Alves. O primeiro prazo previa a conclusão das obras em maio. Uma série de atrasos acabou adiando os trabalhos, que envolveram também a remoção de cem postes.


 


Fonte: Folha de S.Paulo e G1


 


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