Fóssil do elo perdido é apenas um primo que não deu certo, diz Science

Australopiteco chegou a ter idade estimada em 4 milhões de anos. Novo estudo mostra que fóssil tem “só”  2,2 milhões.

O fóssil de australopiteco mais completo já encontrado, que chegou a ser evocado como possivelmente um ancestral importante na linha evolutiva humana, é provavelmente apenas mais um beco sem saída — uma espécie que não conseguiu vingar no longo trajeto até o surgimento do Homo Sapiens. E é muito mais jovem do que antes se pensava.


 


Little Foot, ou “Pezinho”, foi descoberto na Caverna Sterkfontein, na África do Sul. O local chegou a ser apelidado de “Berço da Humanidade” pelo tesouro de relíquias de hominídeos que abrigava.


 


Até hoje, este fóssil é o esqueleto de australopiteco mais completo já encontrado, melhor conservado até que a célebre Lucy, descoberta na Etiópia. Ele atravessou os séculos quase intacto, deitado onde caiu morto, em um terreno úmido que o sepultou, antes de se transformar em um sarcófago natural de rocha calcária.


 


O fóssil foi encontrado nos anos 1990, graças a um trabalho diligente e muita sorte. Inicialmente, sua idade foi calculada entre 3 e 3,5 milhões de anos e depois, em mais de 4,1 milhões de anos. Essas datas geraram grande empolgação entre os antropólogos.


 


De um lado, elas indicavam que “Pezinho” era contemporâneo de Lucy, o famoso fóssil Australopithecus afarensis encontrado no Vale do rio Awash, na Etiópia, em 1974, e, até então, principal concorrente do “título” de ancestral da humanidade.


 


Mas segundo um artigo publicado na edição desta sexta-feira (8/12) da revista americana Science, a idade de “Pezinho” provavelmente é de cerca de 2,2 milhões de anos. Se assim for, ao invés de ser um ancestral direto da humanidade, o “Pezinho” provavelmente seria apenas um primo distante.


 


O método de datação se baseia em uma medição do isótopo de chumbo, Pb 206, derivado do decaimento do urânio-238, em camadas de rochas acima e abaixo do fóssil. Quanto mais chumbo houver na amostra, mais antiga é a rocha.


 


Sterkfontein, situada 50 km ao norte de Johannesburgo, produziu cerca de um terço dos fósseis conhecidos de hominídeos do mundo.


 


“Pezinho” ganhou fama graças ao paleoantropólogo sul-africano Ronald Clarke. Em 1994, Clarke localizou quatro ossos do pé esquerdo de hominídeos enquanto examinava sacos de ossos de animais fossilizados que haviam sido retirados de uma gruta depois da explosão de uma mina, décadas antes.


 


Ele os atribuiu ao gênero do hominídeo australopiteco e, porque os ossos eram relativamente pequenos, o espécime recebeu o apelido de “Pezinho”. Clarke passou os cinco anos seguintes examinando exaustivamente outros sacos de fósseis e acabou encontrando outros ossos dos pés do mesmo indivíduo.


 


Isso levou a uma busca por mais vestígios da gruta, que resultou na descoberta dos ossos de seu dono: o esqueleto quase completo do hominídeo.