Derrota de Delgado foi resposta à “fome de poder” do PT

Abandonada pelos partidos da base na eleição para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), a bancada do PT reconheceu ontem que terá de negociar mais com os aliados se quiser emplacar o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) na presidência

Ainda sob o impacto da derrota de quarta-feira, o líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), avaliou que entre 100 e 110 deputados de partidos da base votaram a favor do candidato Aroldo Cedraz (PFL-BA) e derrotaram o deputado governista Paulo Delgado (PT-SP).


 


“A eleição para o TCU mostrou um problema real que nós temos de enfrentar”, afirmou Fontana. “A base tem de assumir outra postura em relação à presidência da Câmara. Não vamos ter a repetição de ontem (anteontem) na eleição de fevereiro.” Fontana mais uma vez defendeu o direito de o PT lançar um candidato à disputa pela presidência da Casa. “Se o recado foi o veto ao PT, é um erro político da base. Não vetamos ninguém nem aceitamos ser vetados nessa disputa”, disse. Fontana atribuiu a um 'erro da base' a derrota de Delgado e a vitória do deputado pefelista.


 


O revés imposto pelos partidos governistas na eleição para o TCU no dia seguinte ao lançamento da candidatura de Chinaglia à presidência da Câmara foi avaliado na Casa como um aviso dos aliados ao projeto de poder do PT. Os petistas acreditavam que os partidos aliados que realizaram a prévia que escolheu Delgado votariam no candidato oficial. Delgado obteve só 148 votos no plenário, mas teria vitória garantida se os 213 deputados que participaram da eleição preliminar votassem a seu favor. Cedraz conseguiu 172 votos.


 


“O PT precisa descobrir que há vida inteligente fora do PT”, avaliou o deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), um dos candidatos que abriram mão da candidatura ao TCU a favor de Delgado, depois da prévia.


 


Irritados, petistas criticavam ontem o comportamento dos aliados que ajudaram na derrota de Delgado. “Isso não é traição, é falta de escrúpulos. Quem participa de um acordo tem de cumpri-lo”, disse o deputado Carlito Merss (PT-SC). “Até na guerra há acordos que são cumpridos. Aqui não há regra. Se nem uma regra acordada vale, o que vai valer daqui para frente, qual vai ser a relação de confiança, sangue no sangue?”


 


Integrantes do PMDB, PSB, PCdoB e outras siglas reclamam da resistência do PT em dividir espaços e poder. Por isso, culpam o Partido dos Trabalhadores por desagradáveis surpresas passadas e “se o PT não tomar jeito”,  não descartam futuros episódios como o da votação que escolheu o novo ministro do TCU.


 


“Se o Lula quer fazer um casamento feliz, não tem jeito, o PT precisa mudar de comportamento para vivermos sob o mesmo teto. Afinal, não tem casamento forçado'', disse à Reuters o deputado Renato Casagrande (PSB-ES).


 


O aliado puxou na história recente um exemplo simbólico. A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), no ano passado, foi uma reação ao candidato “imposto” pelo PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Greenhalgh não era um nome popular e acabou derrotado pelo “parlamentar azarão''.


 


Fontes próximas ao presidente Lula dizem que ele aposta no tempo para que haja consenso em torno de um candidato que represente os partidos da coalizão. O PMDB, estrela desse casamento programático, promete ter um postulante, mas não descarta negociar uma eventual desistência.


 


“O problema é que o PT, até em eleição de síndico, lança candidato sem combinar com os inquilinos”, ironizou Renato Casagrande.


 


Da redação,
com informações das agências