Mel Gibson volta ao racismo em seu novo filme

Assim como seu épico sangrento sobre a morte de Cristo irritou meio mundo, a nova produção de Mel Gibson também provocou, mesmo antes da estréia, a ira de membros da cultura maia. Ativistas do setor indígena da Guatemala, que abrigou grande parte do impér

Há dois anos e meio, A Paixão de Cristo foi acusado de ser anti-semita – muito antes do rompante de Gibson contra um policial judeu em Malibu. Um dos ataques partir do crítico Inácio Araújo, da Folha de S.Paulo: “Não há em que seguir Mel Gibson, que, além de racista, é um cineasta muito limitado. Sua Paixão tem sangue, mas não tem força”.


 


Segundo o crítico, “é triste (…) a maneira como (o filme) usa os recursos da montagem clássica para jogar o espectador contra os judeus e produzir, sim, o espetáculo mais anti-semita desde que Veit Harlan realizou O Judeu Süss, sob a supervisão de Goebbels”.


 


Agora, com seu novo filme, foram exibidos na Guatemala apenas trailers de Apocalypto, que será lançado na sexta-feira nos Estados Unidos. Mas líderes dizem que as cenas mostrando maias amedrontadores, com adornos de ossos, lanças, e sacrificando humanos promovem estereótipos em relação à sua cultura.


 


Quem são os maias?
“Gibson reproduz, em Technicolor com grande orçamento, uma noção ofensiva e racista de que o povo maia era bruto entre si muito antes da chegada dos europeus e que por isso merecia, de fato precisava, de resgate”, disse Ignacio Ochoa, diretor da Fundação Nahual, que promove a cultura maia.


 


Lucio Yaxon, ativista maia dos direitos humanos, de 23 anos, disse que o trailer do filme é irreal. “Basicamente o diretor está dizendo que os maias são selvagens”, disse Yaxon, que fala kaqchikel, um dos 22 idiomas maias, bem como espanhol. Já Richard Hansen – arqueólogo que Gibson consultou para fazer o filme – afirma que o diretor tentou garantir autenticidade e precisão histórica.


 


O filme é falado em maia yucatec, e a estrela é um dançarino de origem indígena dos Estados Unidos chamado Rudy Youngblood. O uso de atores indígenas recebeu elogios de grupos latinos e indígenas nativos dos EUA. “Estou um pouco apreensivo sobre como os maias vão reagir”, disse Hansen, que dirige um projeto arqueológico no norte da Guatemala. “Mas Gibson está tentando fazer uma manifestação social.”


 


Tradição racista?
Apocalypto estréia em janeiro no Brasil. Apenas o trailer foi visto na Guatemala, mas líderes maias dizem que cenas de índios com piercings de ossos fazendo sacrifícios humanos promovem estereótipos negativos sobre a cultura.


 


Segundo Inácio, em texto de 1º de dezembro, “Mel Gibson merecia uma condecoração dos críticos de cinema”. A razão, segundo o jornalista da Folha, é que “eles não se cansaram de dizer que seu A Paixão de Cristo era, antes de tudo, um detestável ato de racismo”.


 


“Tempos depois”, prossegue Inácio, o diretor “fez o favor de tomar um porre e manifestar seu anti-semitismo não mais com imagens, mas com palavras. Aí não dava mais para ignorar o sentido de seu filme”. A história, ao que parece, está-se repetindo.