Franklin Martins: Conseguirão os governistas se entender na Câmara?

Por Franklin Martins, no iG
O PT lançou ontem a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara. Já a bancada do PMDB deve proclamar hoje que lhe cabe indicar o próximo ocupante do cargo. Apesar disso, deputados influentes dos dois pa

A avaliação predominante é de que a base governista chegará a algum tipo de entendimento nas próximas semanas. Muitos acreditam que o fato de o PMDB, até o momento, ter se limitado a defender uma tese – a de que tem o direito de presidir a Câmara –, sem ter se aglutinado ainda em torno de um candidato, seja um sinal de que o partido poderá recuar da postulação mais adiante. Em conversas reservadas, os caciques pemedebistas admitem que dificilmente a legenda terá condições de emplacar, ao mesmo tempo, os presidentes da Câmara e do Senado. Se Renan Calheiros se consolidar no Senado, como parece o mais provável, o partido terá de abrir mão da reivindicação de comandar a Câmara.


Nesse caso, restariam dois nomes da base governista no páreo: Chinaglia e o atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo. O PMDB se converteria, então, no fiel da balança da disputa, credenciando-se a receber compensações significativas do vencedor, seja na formação do ministério, seja na composição da mesa e das comissões da Câmara. Nessa negociação, evidentemente, não entraria a eleição no Senado, porque se dá por descontado que Renan Calheiros terá o apoio de toda a base governista, em qualquer circunstância. Afinal, é seu único candidato.



Em tese, o PMDB tende mais para Chinaglia do que para Aldo. Afinal, o PT, por ocupar mais posições no Executivo e no Legislativo, tem mais condições do que o PCdoB de fazer concessões em outras áreas. No entanto, se a candidatura de Aldo mostrar-se mais viável que a de Chinaglia, desenhando-se o desfecho preferido por Lula, o PMDB poderia inclinar-se nessa direção, cacifando-se junto ao presidente.



Assim, tudo indica que, nas próximas duas semanas, Chinaglia e Aldo medirão força nos bastidores. Chinaglia larga com o apoio do PT e da maioria dos deputados do PTB, do PP e do PR (ex-PL). Além disso, enfrenta menor resistência no baixo clero, que não gostou de algumas decisões moralizadoras do atual presidente da Casa.



Já Aldo conta com a simpatia dos partidos situados mais à esquerda: o PCdoB, o PSB e o PDT. Em termos numéricos, considerando-se apenas a base governista, sai, portanto, em desvantagem. Mas tem um trunfo importante: o apoio discreto do PFL e de parcelas do PSDB. Se houver uma disputa em plenário entre os dois, a oposição descarregará seus votos no parlamentar do PCdoB, não porque morra de amores por ele, mas porque não deseja ver novamente um petista no comando da Câmara.



Tudo somado, o quadro está indefinido. E, por mais que se fale que o clima é de convergência e não de confrontação, a dinâmica da disputa poderá empurrar os candidatos para um ponto de não-retorno. É muito fácil falar em consenso e em entendimento; construí-lo é bem mais complicado. Estivesse a tarefa nas mãos do antigo PSD mineiro, as chances de sucesso da empreitada seriam imensas. Era um partido de conciliadores profissionais. Mas como os atores principais agora são o PT e o PMDB, não deve ser desprezada a hipótese de que o processo escape do controle. Afinal, os dois partidos têm uma impressionante vocação para a disputa e a divisão. São bons de briga e ruins de entendimento.