Lula reitera preferência por Aldo na Câmara

PT tenta convencer líder do governo, Chinaglia, a não disputar vaga; Aldo resiste a lançar candidatura antes de haver consenso.

No momento em que o PT ensaia indicar o nome do deputado federal Arlindo Chinaglia (SP) ao comando da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou ontem à cúpula do PCdoB sua preferência pelo deputado Aldo Rebelo (SP).
Mais tarde, durante encontro com dirigentes do PSB, o presidente reafirmou sua preferência por Aldo e também deixou claro seu desejo por mais um mandato de Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado. Porém, o presidente também tem reafirmado que não irá se envolver na disputa do legislativo.


 


O PCdoB, mesmo diante do apoio a Aldo, manifestou a Lula que deseja ter mais espaço no governo, independentemente do resultado da eleição no Legislativo. A sigla, que apóia Lula desde 1989, comanda atualmente o Ministério do Esporte.
Em outubro, o PCdoB elegeu 13 deputados federais (o partido hoje tem 12) e um senador.


 


“Uma coisa é a presidência da Câmara. Outra coisa são cargos no governo. Separamos essas duas coisas”, disse o presidente do PC do B, Renato Rabelo, após reunião com Lula. O PCdoB e o PSB fecharam apoio à coalizão que dará apoio ao segundo mandato de Lula.


 


Segundo o presidente do PCdoB, a candidatura de Aldo só será possível se houver “amplo apoio da base do governo”. O PSB já o definiu. “Da nossa bancada há claramente simpatia pela reeleição do companheiro Aldo Rebelo”, disse Eduardo Campos, presidente nacional do partido e governador eleito de Pernambuco, após conversa com Lula.


 


Adiamento


 


Hoje, a direção do PT tentará uma última cartada para convencer Chinaglia a adiar o lançamento de sua candidatura.


 


Até a noite de ontem, entretanto, Chinaglia tendia a ignorar os apelos e assumir sua intenção. Pela manhã, a comissão política do partido (instância que reúne um representante de cada tendência interna) se encontra com a coordenação da bancada federal. À tarde, em reunião entre atuais e futuros deputados, Chinaglia, que é líder do governo na Câmara, espera reunir apoio para tornar sua candidatura irreversível. Ontem, ele passou o dia em reuniões com parlamentares.


 


No final da tarde, achava provável que conseguisse se lançar. O grande empecilho para o líder do governo é a direção petista. O presidente interino, Marco Aurélio Garcia, e o presidente afastado, Ricardo Berzoini, entre outros, acham temerário o partido lançar um nome antes de pelo menos ter uma conversa com o PCdoB. Os dirigentes petistas defendem um adiamento do anúncio por pelo menos duas semanas.


 


De todos os dirigentes partidários, quem tem posição menos confortável é Garcia. Muito próximo de Lula, ele tenta evitar a divisão e insiste em que o PT seja flexível para dialogar com outras siglas -não só o PCdoB mas também o PMDB, que ameaça lançar seu candidato. Ao mesmo tempo, por presidir o PT, Garcia não pode bombardear o projeto de Chinaglia.


 


Testes


 


Caso confirme a candidatura, Chinaglia já terá logo de cara dois testes para seu poder de aglutinar partidos aliados. Para amanhã estão marcadas a eleição do novo ministro do Tribunal de Contas da União e a cassação do ex-líder do PP José Janene (PR), último remanescente do escândalo do mensalão.


 


Aldo Rebelo disse que espera um consenso para se reeleger. “A presidência da Câmara não é um projeto pessoal. Exige um projeto para o Legislativo, a Câmara e o país. Creio que deva ser uma decisão conjunta de todos os partidos ou de uma parte deles”, disse Aldo, em seminário na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio.


 


Aliança


 


Indagado se poderia haver uma aliança entre o PCdoB, o PT e o PMDB, sorriu. “Talvez. Os caminhos da política não estão previamente escritos, como na fórmula matemática. São muito mais imprevisíveis.”


 


Ele afirmou que considera legítimas as pré-candidaturas de Chinaglia e de um eventual representante do PMDB, que pode lançar um nome nesta semana, mas afirmou que pretende esperar e não anunciar suas intenções agora.


 


Sobre o fato de Chinaglia vir sendo apoiado pelo ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, Aldo disse ter “grande respeito” por Dirceu e ser legítimo que queira influenciar na vida de seu partido. Aldo afirmou ainda que considera legítima a aspiração de Dirceu de ser anistiado politicamente no âmbito da Câmara, mas considerou que “esse debate não deve presidir a eleição na Câmara”.


 



Fonte: Folha de S. Paulo