Rosales reconhece a vitória de Chávez: “Não podemos dizer mentiras”

O candidato da oposição conservadora, Manuel Rosales, reconheceu no início da madrugada desta segunda-feira (4) a vitória do presidente Hugo Chávez nas eleições de domingo na Venezuela. Sua derrota já era matematicamente certa, a partir do resultado parci

Embora admitindo a derrota, Rosales contestou os números do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), dizendo que a diferença foi “estreita”, e não os 22,96% de folga que a parcial indicou.



 “Hoje não vencemos”



“Continuamos a ser a expressão máxima do reclamo de todo o povo. Arriscamos tudo e continuaremos a arriscá-lo. Mas não podemos jogar sujo na Venezuela, nem dizer mentiras”, afirmou o governador licendiado de Zulia, um dos dois únicos estados governados pela oposição, num total de 24.



“Eu, com fidalguia, com a fronte alta, digo o que tenho de dizer”, agregou ainda Rosales. “Hoje não vencemos”, admitiu.



“Ainda que com uma margem mais estreita, reconhecemos que hoje nos venceram. Mas seguiremos na rua, que não é tempo de se render, de se esconder, e eu estarei ali”, garantiu.



Reconhecimento quebra uma tradição



O reconhecimento da derrota por Morales, poucas horas depois de abertas as urnas, mesmo contestando os números do CNE, ajuda a desanuviar o tenso cenário político venezuelano. A tradição dominante na oposição venezuelana tem sido nunca admitir que perdeu, mesmo quando todos os observadores internacionais que acompanharam a votação dizem o contrário.



Também desta vez, setores mais belicosos da oposição não queriam dar a Chávez o gostinho do reconhecimento, pelo menos enquanto não se processasse a contagem manual, como forma de auditoria, de 54% dos comprovantes eleitorais que a máquina emite. O que prolongaria por dias, inutilmente, o processo decisório.



Aparentemente outras forças, além da oposição venzuelana, decidiram não puxar a corda desta vez. Diasn antes da eleição, o subsecretário do Estado americano para a América Latina, Thomas Shannon, reconheceu que as instituições democráticas funcionam na Venezuela. A imprensa estadunidense que acompanha a linha da administração Bush também foi notavelmente rápida em admitir a derrota desta vez.



A mudança de comportamento é atribuída ao desgaste, interno e internacional, que a oposição conservadora provocou com seus comportamentos anteriorfes. A tentativa de negar a derrota no referendo revogatório de agosto de 2004, em especial, foi vista como infantil mesmo por muitos dos seus correligionários. A recusa em participar das eleições parlamentares de 2005 também. Desta vez, a oposição preferiu refrear tais tendências.



Recomposição oposicionista



Ao reconhecer a derrota, Rosales espera preservar-se e manter o capital político-eleitoral que amealhou na campanha. Ele recordou várias vezes que, quatro meses atrás, não chegava aos 4% de intenção de vfotos na campanha.



Seu avanço se deu na medida em que outros candidatos conservadores desistiram do páreo para se somar a ele. No final, 41 partidos, organizações e grupos conservadores o apoiaram, reunificando uma oposição que parfecia condenada à fragmentação.



Um político vindo da AD



Manuel Rosales, de 53 anos, iniciou sua vida política no partido Ação Democrática, a AD, do ex-presidente Carlos Andrés Perez, hoje um político tão rejeitado que exilou-se voluntariamente em Miami, EUA. AD e Copei revezavam-se à frente da política venezuelana tradicional, antes do surgimento do fenômeno Hugo Chávez.



Quando Chávez se elegeu pela primeira vez, em 1998, Rosales se distanciou da desgastada AD e em 2000 criou com outros políticos da mesma origem uma pequena sigla, chamada Um Novo Tempo, com expressão quase somente em Zulia, onde se elegeu governador.



Em abril de 2002, participou do golpe de Estado de Pedro Carmona, mas depois do fracasso da intentona declarou-se arrependido. “Uma pessoa comete erros na vida, mas o que vale é a boa fé”, disse a respeito.



Seu nome surgiu como possível denominador comum oposicionista quando ele se reelegeu, em novembro de 2004, como um dos dois únicos governadores estaduais oposicionistas do país, em contraste com 22 pró-Chávez.



Na campanha presidencial, Rosales evitou o anticomunismo raivoso usado por muitos correligionários, preferindo uma linha de “vou manter o que Chávez fez de bom e mudar o que fez de ruim”. Sua principal proposta, vista como populista por aliados mais puros e duros, foi dar a cada venezuelano pobre um cartão, “Mi Negra”, permitindo-lhe receber uma parte do que o país arrecada com as vendas de petróleo.



Da redação, com agências