Ato da UNE lança movimento por uma nova política econômica

Por Fernando Damasceno


A Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo (SP), foi palco nesta segunda-feira (4/11) do Ato Nacional por Mudanças na Política Econômica.  O evento foi promovido pela União Nacional dos Estud

A idéia defendida pela UNE é clara: após a reeleição de Lula, é possível vislumbrar uma outra política econômica para o Brasil, com valorização do trabalho, desenvolvimento e distribuição de renda. Para consolidar essa idéia, o ato foi marcado por um debate entre lideranças intelectuais e políticos de diferentes partidos de esquerda, que manifestaram seu apoio às necessárias mudanças no rumo da economia do país.


 


O presidente da UNE, Gustavo Petta, mostrou qual deverá ser o tom da campanha, ao cobrar enfaticamente do governo federal mudanças urgentes da condução da política econômica. ''O presidente Lula tem falado muito em crescimento e ousadia, mas para isso é necessário tomar algumas decisões. Este ato tem esse componente: incentivar e pressionar o governo a adotar medidas que de fato tragam desenvolvimento, crescimento e distribuição de renda ao país'', disse.


 


Petta também fez uma reflexão sobre as transformações pelas quais a América Latina está passando, em virtude do esgotamento da fórmula neoliberal. ''Alguns países, como o Brasil e a Argentina, passaram por mudanças políticas importantes, mas mesmo nesses países ainda não foi possível criar uma alternativa viável para suas políticas macroeconômicas'', comentou o presidente da UNE.


 


Momento ideal
Para o economista Paulo Nogueira Batista Jr., o Brasil tem hoje um ambiente econômico e político propício a mudanças que norteiem o país para uma direção menos conservadora. ''Agora há menos amarras, especialmente após a saída do (ex-ministro da Fazenda, Antonio) Palocci, embora no Banco Central ainda existam nomes alinhados ao pallocismos'', disse.


 


Batista Jr. defende a tese de que o governo Lula não tomou posse da área econômica do governo em 2003. Para ele, diante de um cenário econômico com alguns bons resultados – como o controle da inflação, por exemplo -, o segundo mandato pode significar o começo de uma nova etapa da história da política econômica brasileira, que descarte de uma vez por todas o continuísmo da era FHC.


 


Luta de classes
Para o economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, um ponto é fundamental para que realmente aconteçam mudanças significativas na política econômica brasileira: a pressão da sociedade, aliada a uma profunda reflexão.


 


''Não basta sair às ruas para pedir mudanças. É necessária uma reflexão permanente também'', defendeu Belluzzo. ''É isso que faz com que as boas idéias vençam, junto com uma vigilância permanente. Temos que fazer aquilo que no meu tempo nós chamávamos de luta de classes.''


 


O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) se posicionou de modo semelhante a Belluzzo, ao defender a necessidade de a sociedade se mobilizar de forma organizada para que mudanças concretas ocorram. ''Não é possível fazer mudanças sem conflito. Nessa hora é preciso relembrar Che Guevara e não perdermos a capacidade de nos indignar'', afirmou.


 


Unidade
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, defendeu a necessidade de se criar uma unidade sólida, formada por todos os movimentos sociais do país e pela sociedade organizada, a fim de pressionar o governo federal pelas mudanças. Ele teme que, sem dispor de propostas concretas, as forças conservadoras do país aproveitarão a primeira brecha para impedir qualquer mudança significativa na política econômica.


 


Esse ponto de vista foi compartilhado pelo presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Thiago Franco. ''Como há pressão de todo lado nessa questão da política econômica, a gente precisa nos organizar e pressionar do lado de cá, de forma unificada – pois do outro lado estão o mercado, a mídia e todo o poder econômico, que não querem saber de mudanças'', defendeu.


 


A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lembrou que a unidade é importante, mas destacou a necessidade de atrair mais forças políticas para essa luta. ''Há um programa mais avançado para o segundo mandato, mas, para enfrentar a mídia e as instituições financeiras, não bastam força política e sustentação institucional. Temos que formar uma frente realmente ampla de brasileiros, em suas mais variadas organizações, para lutar por mudanças concretas'', afirmou.


 


Que fazer?
A parlamentar comunista ainda falou de um sentimento que atinge grande parte dos brasileiros comprometidos com as mudanças. ''A marca desses atos, parodiando a poesia, deve ser: 'E agora, José?'. Vencemos as eleições, mas o que fazer agora?'', perguntou Jandira.


 


Paulo Batista Nogueira Jr. e João Paulo Rodrigues não responderam diretamente à deputada, mas dois trechos de suas intervenções indicam o caminho a ser escolhido. O primeiro foi enfático: ''Se não houver mudanças agora, dificilmente haverá depois''.


 


O segundo é mais prático: ''Falta ao Brasil uma proposta de projeto nacional para orientar as lutas que os movimentos sociais devem fazer. Os novos rumos da política econômica precisam estar dentro desse projeto''.