Plano da Petrobras para 2015: produzir “meia Arábia Saudita”

O plano de investimentos de longo prazo da  Petrobras prevê que em 2015 a estatal brasileira estará extraindo 4,5 milhões de barris de petróleo por dia. “É a metade da Arábia Saudita de hoje, é maior do que a Exxon, a maior produtora privada do mundo

A auto-suficiência se mantém com um crescimento mais pujante da economia?



A Petrobras investiu entre janeiro e novembro deste ano R$ 22,6 bilhões. No ano que vem, vamos investir R$ 47 bilhões. Esse investimento independe do curto prazo. Vamos sair da produção atual de 2,4 milhões de barris para 3,4 milhões de barris em 2011. Em 2015, nossa meta é de 4,5 milhões de barris por dia. É a metade da Arábia Saudita de hoje, é maior do que a Exxon, a maior produtora privada do mundo. Estamos projetando, em termos de auto-suficiência, crescimento médio de 4% do PIB até 2011. Projetamos produção 20% acima do consumo nacional. Temos uma folga.



O senhor está preparado para outros quatro anos discutindo preços aqui na Petrobras?



Olha, se o presidente Lula e o governo brasileiro indicarem meu nome para continuar, eu estou. Agora, não depende de mim. Depende do Conselho de Administração da Petrobras, que é controlado pelo governo.



A diretoria da Petrobras continuará como está?



Não posso responder a essa pergunta. Tudo isso depende do Conselho de Administração. Em nenhum momento é minha a decisão. Posso aceitar ou não, claro. Posso dizer: aceito ou não. Agora dizer qual vai ser a decisão do conselho…



É possível sair para exercer um cargo no ministério?



Não comento rumores. Estou presidente da Petrobras e serei presidente da Petrobras enquanto o conselho quiser me manter. Quando não quiser, voltarei a ser professor universitário.



Já há uma avaliação sobre a situação no Equador?



Não. Precisamos esperar o presidente eleito (Rafael Correa) tomar posse para definir as políticas dele. Estamos satisfeitos com o resultado da eleição. Achamos que todo resultado eleitoral expressa avanço democrático de diversos povos, são processos legítimos.



No caso da Bolívia, houve críticas à atuação do governo, que poderia ter sido mais forte no episódio.



A posição do governo foi fundamental para abrir possibilidades de continuar um diálogo empresarial. Foi extremamente importante para chegar aos resultados a que chegamos. Os contratos são equilibrados. As empresas, a Petrobrás, a Repsol e a Total (sócios nos dois maiores campos produtores do país) não vão ter prejuízos. Os contratos permitem a retomada de investimentos, garantem condições de rentabilidade atraente. É claro que a Bolívia mudou a cobrança de tributos sobre hidrocarbonetos, mas isso é uma decisão do povo boliviano e é legítima.



Como fica a expansão da empresa na América do Sul com a onda nacionalista?



Continuamos com a intenção de investir na América do Sul. Em 2006, assinamos memorando de entendimentos com a Petroperu, no Peru, que amplia nossas atividades naquele país. Estamos ultimando as negociações em vários projetos na Venezuela. Assinamos compromisso de investimentos na Colômbia. Temos possibilidade de retomar investimentos na Bolívia. Estamos com estudo de impacto ambiental para exploração de um bloco no Equador. Compramos atividades de distribuição no Uruguai, Paraguai e na Colômbia. Estamos em várias frentes de atividades na América do Sul.



Existe espírito xenófobo com relação à Petrobrás?



Não. O que há hoje no mundo é que, à medida que se tem uma fase longa de preços altos do petróleo, é evidente que governos queiram aumentar sua participação na renda. É um processo cíclico. O grande problema da segurança energética força um aumento de novos investimentos, a disputa pela renda petroleira, e os agentes todos, incluindo o governo, querem maior papel. Ou aceitamos isso ou saímos do setor. Conviver com a crise faz parte do nosso negócio.



Isso pode também acontecer no Brasil?



No Brasil estamos vivendo conflitos intensos. Agora mesmo na questão da 8ª Rodada. É um exemplo de conflito que existe na sociedade. É normal que existam diferentes posições de como fazer o acesso aos recursos de hidrocarbonetos e se tem que, democraticamente, solucionar conflitos.



Fopnte: O Estado de S. Paulo