Raúl Castro prevê derrota inexorável da “cruzada” de Bush

“Aos olhos do mundo inteiro, a chamada 'cruzada contra o terrorismo' se encaminha inexoravelmente para uma derrota humilhante”, comentou o presidente em exercício de Cuba, Raúl Castro, ao discursar em Havana neste sábado, na festa do desembarque do Granma

“Vivemos um momento especial da história. A muitos parecia que a queda do campo socialista e a desagregação da União Soviética representavam a derrota definitiva do movimento revolucionário internacional. Alguns se aventuraram a surerir-nos o abandono dos ideais aos quais gerações inteiras de cubanos tinham dedicado suas vidas. Enquanto o governo norte-americano, com seu oportunismo característico, iniciou nos últimos anos uma escalada sem precedentes de hostilidade e agressividade contra Cuba, na esperança de sufocar economicamente o país e derrubar a Revolução intensificando o trabalho subversivo.



Neste sentido, foi grande a surpresa e frustração de nossos inimigos, e muito maior a admiração das maiorias oprimidas, ao presenciar o exemplo de firmeza, equanimidade, maturidade e autoconfiança de nosso povo nos últimos quatro meses.
Apesar das manobras e pressões dos EUA e seus aliados, o prestígio internacional de Cuba se fortaleceu. Prova disto foi a realização exitosa nesta capital da 14ª Conferência de Cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados, em setembro, e mais recentemente o apoio recorde obtido ba Assembléia Geral das Nações Unidas para a resolução que condena o bloqueio dos EUA contra noisso país.



América Latina: “novos líderes”



Na América Latina, a aplicação das receitas neoliberais impostas pelos EUA e seus sócios europeus conduziu o continente à triste condição de região do mundo onde é mais insultante e vergonhosa a opulência da oligarquia, estreitamente vinculada com o capital estrangeiro, face à pobreza, insalubridade e ignorância em que vive a maioria da população.



Os povos latino-americanos, progressivamente nos últimos tempos, têm expressado seu repúdio às políticas entreguistas e de subordinação ao império, seguidas pelos governos e partidos tradicionais. Os movimentos populares e revolucionários se robustecem e, apesar das multimilionárias campanhas de desinformação, chantagem e ingerência desfechadas por Washington, novos e experimentados líderes assumem a condução de suas nações.



A anexação econômica da América Latina por parte dos EUA, através da Alca, foi derrotada. No seu lugar surge, para o benefício das massas despossuídas, o projeto integrador da Alternativa Bolivariana para as América, a Alba, proposta pelo presidente irmão Hugo Chávez.



“Missão cumprida” no Iraque?



Os recentes acontecimentos na arena internacional atestam o fracasso das políticas aventureiras da atual administração norte-americana. O povo desse país demonstrou nas urnas, no dia 7 de novembro passado, sua rejeição ao conceito estratégico de guerra preventiva, ao uso da mentira para justificar intervenções militares, ao emprego do seqüestro e das prisões clandestinas, à desprezível legalização do emprego da tortura na chamada guerra contra o terrorismo.



A três anos e sete meses da eufórica declaração de “missão cumprida” no Iraque, por parte do presidente Bush, a bordo de um porta-aviões, continuam chegando aos EUA os cadáveres de jovens soldados norte-americanos, tombados numa guerra motivada pelo domínio dos recursos energéticos da região.



Ninguém mais se atreve a prognosticar o fim da guerra. O governo dos EUA está numa encruzilhada. Por um lado, compreende que não pode prolongar a ocupação do Iraque. Por outro, admite que não possui as condições mínimas para abandoná-lo deixando em segurança os seus interesses, enquanto cresce o número de mortos e mutilados entre a população, mergulhada numa guerra civil derivada da anarquia e desgoverno que a invasão norte-americana gerou.



Alguns nos EUA propõem agora a simples retirada do caos que eles próprios criaram. Não sabemos o que farão, neste caso, com a Otan, embarcada por seus sócios norte-americanos no conflito afegão, que também se torna cada vez mais perigoso e fora de controle.



O povo dos EUA vai pôr fim a estas guerras



Aos olhos do mundo inteiro, a chamada “cruzada contra o terrorismo” se encaminha inexoravelmente para uma derrota humilhante.



O povo norte-americano, tal como fez com o Vietnã, vai pôr fim a estas guerras injustas e criminosas. Esperamos que as autoridades dos EUA aprendam a lição de que a guerra não é a solução para os crescentes problemas do planeta; que proclamar o direio de atacar irresponsavelmente a “sessenta ou mais obscuros rincões” do planeta, quando já estão atolados em dois deles, só torna mais complexas e profundas as diferenças com o resto dos países; que o poder baseado na intimidação e no terror nunca passará de uma ilusão efêmera; que são visíveis as suas terríveis conseqüêncoias para os povos, inclusive o dos EUA.



A saída não está nas guerras



Estamos convencidos de que a saída para os agudos conflitos que a humanidade enfrenta não está nas guerras, mas em soluções políticas.



Que esta ocasião sirva para declararmos novamente nossa disposição de resolver na mesa de negociações o prolongado dissenso entre os Estados Unidos e Cuba, é claro que desde que aceitem, como já dissemos, nossa condição de país que não tolera sombras em sua independência e com base nos princípios de igualdade, reciprocidade, não-ingerência e respeito mútuo.



Enquanto isso, depois de quase meio século, estamos dispostos a esperar, pacientemente, o momento em que o bom-senso se imponha à conduta dos círculos de poder de Washington.”



* Interítulos do Vermelho