Platéia para cinema nacional encolheu 12% este ano

Socorro, a platéia encolheu! O público de cinema caiu 3% em 2006. Foram 73 milhões de ingressos, contra 75 milhões em 2005, mas a produção nacional perdeu mais. Seu público foi de 8,5 milhões de pessoas, contra 9,6 milhões em 2005, uma queda de 12%, embor

 A comédia Se Eu Fosse Você, de Daniel Filho, com Glória Pires e Tony Ramos, salvou a pátria. Ficou em terceiro lugar geral, com 3,6 milhões de espectadores, mas não repetiu 2 Filhos de Francisco, campeão de 2005, visto por 6 milhões. E Se Eu Fosse… foi exceção. O segunda bilheteria nacional , Didi – O Caçador de Tesouros, teve 1 milhão de espectadores e não está entre as dez maiores.


 


Os dados são da revista eletrônica Filme B e apontam um fato preocupante: 2006 é o terceiro ano consecutivo de queda. Comparado com 2004, o cinema perdeu 24% do público e a produção nacional ficou sem 44% de seus espectadores. A renda caiu 15% nesses dois anos, mesmo com o ingresso 15% mais caro. O diretor da Filme B, Paulo Sérgio Almeida, no entanto, não se alarma, embora lembre que a queda brasileira é fato isolado na América Latina. “Nos outros países, as bilheterias cresceram”, comenta. “Mas vínhamos numa curva ascendente desde os anos 90 e estabilizamos.”

 

Agora, segundo ele, crescer depende de novas salas e da colocação dos filmes no mercado. A entrada das distribuidoras americanas (como a Buena Vista, que terá dez títulos em 2007) profissionalizou os lançamentos nacionais, pois elas trabalham o filme da concepção à exibição. Abrir novas salas é mais complicado, embora o governo incentive fundos e haja um mercado a conquistar. “O cinema foi para os shoppings e tornou-se âncora para outras lojas. Mas só atinge o público A e B e as grandes bilheterias (Carandiru, Cidade de Deus e 2 Filhos de Francisco) se fazem com as classes C e D. É preciso criar opões para esta platéia”, ensina Paulo Sérgio. “E o Brasil tem só 2 mil salas mal distribuídas, em 10% dos municípios. Mesmo no Rio e São Paulo, há vácuos, como a Avenida Paulista ou Copacabana, onde quase não há cinemas.”

 

O editor da Filme B, Pedro Butcher, acrescenta que o ranking nacional pode mudar este mês. “Há filmes cuja carreira está longe de se encerrar. O Ano em Que Meus País Saíram de Férias é um exemplo. Até o fechamento do ranking, tinha 129 mil espectadores e estava em décimo lugar. No último fim de semana, fez mais 100 mil, o que o coloca em oitavo lugar, com tendência a subir”, cita Butcher. Para ele, o resultado em geral deve-se à falta de títulos com apelo comercial. “Parte dos bons resultados de 2005 deveu-se ao Harry Potter que não teve filme este ano. Já o estouro de Se Eu Fosse Você é surpresa igual a 2 Filhos de Francisco no ano passado.”

 

Como boa dupla, eles discordam nos detalhes. Paulo Sérgio diz que o filme de Daniel Filho foi, não por acaso, o produto certo no momento exato. “Tinha Tony Ramos e Glória Pires, casal romântico na novela da Rede Globo, que entrou com força no lançamento. E era uma comédia hilariante, para todas as classes sociais, níveis intelectuais e faixas de idade”, lembra. Mas Pedro diz que a receita não funcionou nos filmes do Casseta e Planeta ou em A Máquina, sucesso teatral que teve elenco global na telona e 440 mil espectadores. “O sucesso depende de elenco, tema, época de lançamento, público-alvo, ponto de exibição, marketing. Se uma das variáveis falha, 50% do trabalho é prejudicado. Por isso, é arriscado prever o estouro de 2007 e esta é a graça do cinema.”

 

Ao falar no ano que vem, Paulo Sérgio faz merchandising. “Diga que 2006 foi normal e 2007 será Inesquecível”, brinca ele, com o título de sua volta à direção, previsto para agosto, com Guilhermina Guinle, Murilo Benício e Caco Ciocler. Pedro completa: “Devem ser lançados 50 títulos nacionais, alguns de forte apelo comercial, como A Grande Família e Cidade dos Homens, que aproveitam sucessos da televisão, os filmes de Renato Aragão e da Xuxa, Caixa Dois, de Bruno Barreto, O Homem Que Desafiou o Diabo, de Moacyr Góes, Primo Basílio, de Daniel Filho, e pelo menos dois que podem surpreender, Ó Paí Ó, da Monique Gardenberg, e Antônia, de Tata Amaral.”

 

Este, segundo Paulo Sérgio, teve lançamento inovador. A diretora o mostrou a Fernando Meirelles (diretor de Cidade de Deus), que propôs à Globo a série para popularizar o quarteto de mulheres rappers da periferia paulista. “O filme conta a história anterior à da série ora em exibição. É uma aposta audaciosa”, completa Pedro. “Mas as estratégias de tradicionais têm falhado”, enfatiza Paulo Sérgio. “O maior público de cinema, o adolescente, vive hoje diante do computador, falando com amigos virtuais e com um fone no ouvido ligado no iPod. É muito difícil atingi-lo.”


 


Fonte: O Estado de S. Paulo