IBGE mostra 14 mil bebês mortos a menos, a metade no Nordeste

A taxa brasileira de mortalidade infantil caiu de 30,1 por mil, em 2000, para 25,8 por mil em 2005, informou nesta sexta-feira (1º) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A queda, de 14,3%, significa cerca de 14 mil crianças brasileiras

Alagoas continua a ser o estado com maior mortandade: 53,7 por mil no ano passado. No ranking mundial da mortalidade infantil, isto coloca o estado numa situação semelhante à de países africanos como o Senegal e Botsuana; acima da Índia (54,6 por mil), mas abaixo da Bolívia e do Zimbabue (51,7 por mil). E muito abaixo do Maranhão, segundo pior estado do ranking, com 42,1 por mil (veja os números completos na tabela ao lado).



(Os dados mundiais deste artigo são tomados do Wordld Factbook, mantido na internet pela… Agência Central de Inteligência dos EUA. Sim, ela mesma, a CIA. Independente do juizo que se faça sobre sua atuação passada e presente, a agência americana de espionagem mantém na rede um serviço estatístico bastante acurado, atualizado, e aparentemente fidedigno. No ranking mundial da mortalidade infantil, por exemplo, ela registra que Cuba, com 6,2 mortes por mil, está em posição melhor que os Estados Unidos, com 6,4 por mil. Clique aqui para ver.)



O grande bolsão retardatário



Os dados do IBGE na Tábua completa de mortalidade do Brasil 2005 mostram o Nordeste ainda como o grande bolsão retardatário no combate à mortalidade infantil. A região tinha no ano passado o índice médio de 38,2 por mil: 48% pior que a média brasileira e mais que o dobro das regiões Sul e Sudeste, as que trouxeram os melhores índices.



Na comparação mundial, a mortalidade infantil nordestina fica abaixo da da Turquia (40,7 por mil) ou do Marrocos (40,2 por mil) mas acima da Indonésia (34,4 por mil) ou da Guiana (32,2).



O estado melhor colocado, em 2000 e em 2005, é o Rio Grande do Sul (16,7 e 14,3 por mil, respectivamente). Na comparação mundial, fica melhor situado que a Argentina (14,7 por mil) e a Rússia (15,3 por mil), mas pior que a Arábia Saudita (12,8 por mil) ou o Uruguai (11,6 por mil).



Os números do IBGE mostram portanto que uma criança que nasça em Alagoas tem quase quatro vezes mais chances que uma gaúcha de não chegar ao seu primeiro aniversário.



Uma desigualdade que declina



Repare porém nos dois mapas que ilustram esta página. O de cima mostra a tragédia nordestina de uma mortalidade infantil bem maior que a do restante do país (a Região Norte é a segunda pior colocada). Mas o mapa de baixo indica que a diferença está diminuindo em vez de aumentar. Nos cinco anos em tela, o índice recuou 15,5% no Nordeste, contra 14,3% na média nacional.



O recuo não segue um padrão regional uniforme, nem pode ser atribuido linearmente às virtudes do Bolsa Família. Os dois estados que mais avançaram entre 2000 e 2005 (veja o mapa de baixo) foram o Piauí e o Paraná, empatados em 16,7% de redução. Seguem-se, porém, quatro estados nordestinos: Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Sergipe.



Tendência geral à redução



Todos os estados apresentaram recuo das suas taxas de mortalidade infantil. E esta tendência se mantém pelo menos desde 1930, segundo o documento Evolução e perspectivas da mortalidade infantil no Brasil, também do IBGE. Ao longo destas quase quatro gerações, os índices foram melhorando paulatinamente, graças aos progressos na saúde pública, em especial as campanhas de vacinação, no saneamento básico, ao êxodo para as cidades e à maior escolaridade (o estudo mostra uma discrepância de dez para um na mortalidade de crianças, entre as pontas de escolaridade materna, menos de um ano num extremo e mais de 12 anos no outro, um fosso que provavelmente também tem muito a ver com os níveis de renda).



No mundo como um todo, e pelos mesmos motivos básicos, a mortalidade infantil recua paulatinamente, ao passo que cresce a expectativa de vida. Essa gradual melhoria dos índices só se interrompe em situações de guerra e ocupação estrangeira, ou em casos excepcionais de colapso econômico-social, como a depressão de 1929 nos EUA ou o imediato pós-socialismo nos países do ex-bloco soviético, nos anos 90.



Discrepância que diminui antes aumentava



Os ritmos de redução, porém, podem variar bastante. No Brasil, segundo a citada Evolução, o período de redução mais acelerada (média de 4,5% ao ano) foi entre 1975 e 1985, época da ditadura mas também da urbanização acelerada.



O mesmo estudo mostra também discrepâncias na evolução regional do fenômeno. Em 1930, a mortalidade infantil no país era mais de seis vezes superior à atual: 162,4 crianças mortas antes de um ano de idade para cada mil nascidas vivas. No entanto, as desigualdades entre as taxas regionais eram bem menores: 193,3 por mil no Norte, 192,2 por mil no Nordeste, 153.0% por mil no Sudeste, 146,0 por mil no Centro-Oeste e 121,0 por mil no Sul. Depois o Nordeste foi ficando para trás, sobretudo nos anos 70 e 80; e agora dá sinais de que começa a recuperar o terreno perdido.