Encontro de reitores esboça perfil da Universidade Nova

Por Tiago Décimo, da Agência Estado
Representantes de 57 Instituições Federais de Ensino Superior do Brasil (Ifes) e do Ministério da Educação (MEC) chegaram neste sábado (2) às primeiras definições relacionadas ao projeto Universidade Nova, d

O projeto propõe alterações no ingresso dos estudantes nas universidades federais e na estrutura curricular dos cursos superiores.



De acordo com o reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Naomar Almeida Filho, um dos idealizadores do Universidade Nova, já é consenso, por exemplo, que os Bacharelados Interdisciplinares (BIs) – cursos de três anos em áreas como saúde, artes e humanidades – que os estudantes teriam de freqüentar antes de começar um curso superior de formação específica – como Direito, Medicina e Engenharia – passariam a ser aplicados a todos os estudantes de ensino superior.



“Apesar dessa definição, ainda não chegamos à conclusão de quantas serão essas grandes áreas do conhecimento. Partimos de quatro (ciências, humanidades, artes e tecnologia), mas há quem defenda até sete (as anteriores, acrescidas de saúde, ciências da natureza e ciências humanas e sociais)”, afirmou o reitor.



Uma primeira experiência com os BIs já vem sendo feita no Brasil, desde setembro, na Universidade Federal do ABC (UFABC). “São 1.500 alunos que estão freqüentando o curso de tecnologia”, conta o reitor Hermano Ferreira Tavares. “Depois dos três anos, eles terão diploma de curso superior e poderão optar por cursos profissionalizantes de dois anos em oito áreas de engenharia, também disponíveis na instituição.”



Fim do vestibular



De acordo com Almeida Filho, também ficou estabelecido no seminário que o vestibular, como é aplicado hoje, seria descartado na Universidade Nova. “Como prevemos dobrar a capacidade de estudantes das universidades com a reforma, existe a possibilidade de adotarmos mesmo o Enem como processo seletivo, desde que fossem feitas algumas alterações no exame”, afirma.



O reitor da Ufba acrescenta que representantes das instituições que adotarem os conceitos da Universidade Nova deveriam fazer parte do conselho para que o Enem fosse adotado como padrão de seleção unificado.



Segundo o coordenador-executivo da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), Leandro Tessler, o exame deve ser mais bem sistematizado. “Para começar, ele precisa ser gerido por um conselho que hoje não está atuando como foi previsto quando da sua implantação”, acredita Tessler.



Um dos pontos controversos que não tiveram uma conclusão durante as reuniões de ontem foi o relativo à passagem dos estudantes dos BIs para os cursos profissionalizantes. Como não há previsão de ampliação de vagas nesses cursos, um novo modelo de seleção de alunos precisaria ser aprovado.



“Vamos promover um segundo seminário para discutir os pontos em aberto, como este, entre março e abril, na Universidade de Brasília”, ressalta Almeida Filho. Segundo o reitor, porém, as primeiras definições e os pontos em discussão serão enviados nesta semana a todas as 57 Ifes, para que elas promovam discussões internas nas universidades acerca da Universidade Nova.



As idéias foram discutidas no 1.º Seminário Nacional da Universidade Nova – Reestruturação da Arquitetura Acadêmica da Educação Superior no Brasil, realizado entre a quinta-feira e este sábado em Salvador. No total, participaram das discussões 193 representantes das Ifes e do MEC.



Entenda a proposta



Estrutura acadêmica
Como é hoje


Estudantes freqüentam aulas focadas na carreira profissional escolhida desde o início do curso superior. Ao fim do curso – que dura de quatro a seis anos, em geral – o aluno recebe a certificação de conclusão de ensino superior e, em tese, está preparado para exercer a atividade cursada no mercado de trabalho.



Com a mudança


Nos três primeiros anos de ensino superior, os estudantes freqüentariam Bacharelados Interdisciplinares (BIs), divididos por áreas de conhecimento – como ciências, artes, humanidades e tecnologia.



A partir do segundo ano do curso, os alunos teriam opções de disciplinas mais focadas na profissão de interesse, mas continuariam tendo de freqüentar as aulas gerais da área.



Após a conclusão do BI, o estudante receberia o diploma de bacharel na área de conhecimento escolhida e poderia optar por fazer complementação profissionalizante (estima-se que dure de um a dois anos), bacharelado ou licenciatura em uma disciplina específica, como Física, Matemática ou História (mais um ou dois anos) ou uma pós-graduação na área de interesse.


 
Benefícios apontados
– Ampliação de conhecimentos e competências cognitivas do aluno;
– Adiamento do processo de escolha profissional por parte do estudante, o que diminuiria as chances de arrependimento;
– A flexibilização curricular, que daria aos alunos a possibilidade de escolher os percursos de aprendizagem que ele gostaria de seguir.



Problemas apontados
– Ao fim do BI, o estudante teria um diploma de curso superior, mas não estaria apto a ingressar no mercado de trabalho em profissões que exigem formação superior específica (Medicina, Engenharia e Direito, por exemplo);
– Não há garantia de que o estudante do BI consiga vaga nos cursos complementares de profissionalização ou nos bacharelados específicos.
Seleção dos estudantes e distribuição de vagas



Como é hoje


As vagas são limitadas pela estrutura física das universidades de acordo com as necessidades dos estudantes de cada carreira. Os estudantes interessados são selecionados por meio do vestibular. Têm acesso aos cursos os que obtiverem as maiores notas no exame.



Com a mudança.


 Como nos Bacharelados Interdisciplinares (BIs) estudantes de várias carreiras acompanham as mesmas aulas, tende a crescer o número de vagas durante os três primeiros anos do ensino superior. Os estudantes passariam a ser selecionados pelo rendimento no Enem.



Como não está prevista a ampliação imediata da estrutura física das universidades federais, porém, ainda não se sabe como vai ser feita a seleção dos estudantes que tiverem interesse em seguir um curso profissionalizante após os Bis.



A tese mais aceita é que as vagas sejam preenchidas pelos alunos com melhor aproveitamento nas avaliações durante os Bis.



Benefícios apontados
– Maior acesso dos estudantes ao ensino superior público.



Problemas apontados
– Por causa da maior quantidade de alunos, os cursos perderiam qualidade;
– Como não existe previsão de aumento de estrutura física dos cursos profissionalizantes, a grande seleção dos alunos, em vez de ser feita pelo vestibular, apenas seria adiada por três anos para quem estivesse procurando um curso profissionalizante.



Fonte: Agência Estado