Juventude e trabalho

Por Regina Abrahão – Secretaria de Políticas Sociais CUT RS
No contexto de um elevado excedente de mão-de-obra, os jovens em idade de trabalhar (no Brasil, entre 16 e 24 anos) constituem um dos segmentos mais frágeis na disputa por um posto

No Brasil, as profundas transformações pelas quais a economia vem passando dificultam a inserção ocupacional da força de trabalho, sobretudo da população jovem. No contexto de um elevado excedente de mão-de-obra, os jovens em idade de trabalhar (no Brasil, entre 16 e 24 anos) constituem um dos segmentos mais frágeis na disputa por um posto de trabalho e para quem o problema do desemprego é mais latente. Neste sentido, mesmo quando o jovem consegue uma ocupação, verifica-se que esta apresenta características diferenciadas – normalmente é menos regular e mais precarizada. (DIEESE – Estudos e Pesquisas n 24, set/2006).


 


A par da fixação do conceito de jovem trabalhador acima descrito, é necessário considerarmos as mudanças na estrutura social para delimitarmos outro padrão de idade para jovem trabalhador, uma vez que o aumento da expectativa média de vida pulou de 42 anos no início do século passado para cerca de 70 anos neste século. Este fato altera profundamente o limite entre juventude/idade adulta. O jovem entra hoje no mercado de trabalho mais tarde. Apesar do ainda grande contingente de trabalhadores que ingressam no mercado informal de trabalho ainda na infância, campanhas pela erradicação do trabalho infantil e uma legislação avançada colaboram para que o ingresso no mercado formal de trabalho se dê cada vez mais tarde, embora mais cedo do que o desejável.


 


Calculamos que a população jovem no Brasil hoje em 24% da população total, ou seja, 45 milhões. Destes, 30 milhões fazem parte PEA (população economicamente ativa), seja como ocupado, seja como desempregado. Entre os ocupados, os jovens representam cerca de 20%. E, entre os desempregados, encontramos 45% de pessoas na faixa etária citada acima. Finalmente, se ampliarmos a margem de idade para 30 anos, teremos ainda mais jovens em plena fase produtiva, muitas vezes alijados da vida escolar pela impossibilidade de conciliar vida profissional com vida escolar, ou precocemente comprometidos com estruturas familiares resultantes de gestações não planejadas (que comprometem o ingresso principalmente das jovens mulheres no mercado formal de trabalho e a permanência na escola).


 


Os jovens oriundos de famílias de baixa renda têm ainda mais impeditivos no tocante ao ingresso no mercado de trabalho e em conciliar trabalho e estudo. A proporção de jovens ocupados que somente trabalha aumenta nas periferias e no campo, onde o acesso à escola é comprometido pela baixa qualidade e pela carência de cursos técnicos e de políticas específicas que estimulem jovens pais/mães de baixa renda a permanecerem estudando. O ensino médio completo é o nível de escolaridade mais freqüentes entre famílias com maiores rendas mensais, enquanto para os jovens ocupados oriundos de famílias com menor renda o nível predominante é o ensino fundamental incompleto. Estes fatores, além de dificultar o ingresso proporcionam menores salários e piores condições de trabalho e funções com menor possibilidade de carreira.


 


A precarização do trabalho entre a juventude apresenta-se de três formas: Através do mercado informal, sem garantias trabalhistas, dos estágios desconectados do ensino, e de condições de trabalho/salário diferenciadas em função da idade.


 


Por fim, a necessidade de políticas públicas voltadas para a juventude trabalhadora se impõe como forma de garantir não só melhores condições de trabalho para os já inseridos no mercado, mas promover melhores condições de emprego, distribuição de renda, melhorias na possibilidade de ingresso, qualificação e permanência no mercado de trabalho.


 


Programas como o Primeiro Emprego, Primeira Terra, Programa Nacional de Inclusão de Jovens, Pró-Uni já demonstraram capacidade de absorver uma parcela significativa da juventude, mas precisam ser ampliados. Necessária também uma reforma universitária que reserve cursos e turnos para jovens trabalhadores. Deve-se ainda considerar as cooperativas de economia solidária, capazes de absorver de forma organizada contingentes de jovens do mercado informal, não se descuidando das armadilhas preparadas pelas “cooperativas” de prestação de serviços, quando este cooperativismo presta-se apenas para precarizar ainda mais as relações e condições de trabalho.


 


Como o crescimento do PIB tem sido equânime ao crescimento desta população, a conseqüência natural é que o contingente de desempregados seja aumentado por jovens. Desta forma, uma política econômica voltada para o desenvolvimento e a geração de empregos será um dos fatores que contribuirão para aumentar as chances da juventude. A retomada do desenvolvimento da indústria possibilitará, além da criação de vagas, melhores salários e necessidade de capacitação destes trabalhadores. O setor que hoje concentra a maior parte dos jovens trabalhadores, comércio e serviços, apresenta grande rotatividade da mão de obra, justamente por exigir menor qualificação, o que resulta em menores salários e maior precarização.


 


Outra preocupação é com o baixo número de sindicalizações entre jovens e a pouca participação nas entidades de classes. A estrutura sindical vigente não apresenta atrativos para a participação da juventude. As políticas específicas para formação direcionadas a esta faixa etária são poucas, e muitas vezes desconsideram necessidades e interesses próprios. Atividades culturais, sociais e de integração raramente são preparadas levando em conta as especificidades geracionais. E, por fim, como o “novo” costumeiramente encontra resistências, ainda é significativamente pequena a participação de jovens nas direções sindicais.


 


Na Central Única dos Trabalhadores, um grande avanço foi a formação de coletivos da juventude vinculados às secretarias de políticas sociais. Em alguns estados (MG, SP, DF e RS) já foram realizados encontros estaduais, visando a preparação do I Encontro Nacional da Juventude Trabalhadora da CUT, que se realizará em dois e três de fev./07, em SP.


 


Neste encontro, a juventude espera ampliar e garantir espaços de participação na central e nos sindicatos filiados. As propostas desenhadas no encontro do RS, ocorrido dias 18 e 19 em Caxias do Sul, incluem uma campanha institucional de sindicalização de jovens trabalhadores, a criação de uma secretaria de juventude nas CUT’s estaduais, criação de um espaço para a juventude no REPERCUT, além de campanhas pela valorização dos jovens trabalhadores.


 


Finalmente, esta juventude trabalhadora, do campo e da cidade, já não aceita mais ser chamada de “futuro da nação”. Acertadamente, dizem eles serem o presente que desenhará um futuro diferente para esta nação.