A lógica hipócrita do FMI em relação à América Latina

Parem as máquinas. O diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, reconheceu, nesta quinta-feira (30/11), que há insatisfação social em alguns países latino-americanos devido a desigualdades. ''Eis o óbvio ululante'', talvez dissess

Durante sua intervenção, Rato destacou o crescimento pelo qual a região vem passando nos últimos anos, mas se mostrou preocupado com o clima de cisão existente entre ricos e pobres em alguns países. Até aí, seguem as obviedades. A parte engraçada (ou trágica) vem agora: para o diretor-geral do FMI, o lado bom da história tem relação com o trabalho desempenhado pelo Fundo no América Latina, enquanto o lado ruim deve-se ''aos gastos públicos sem controle de alguns países'' e ''suas políticas populistas''.



Ao longo da reunião, Rato não citou quais seriam as nações que precisam controlar seus gastos com mais eficiência, mas o diretor do Centro para a Liberdade e Prosperidade Global, Ian Vasquez, citou os governos da Bolívia e da Venezuela como exemplos de ''administrações populistas'' que se encaixam nesse perfil.



Assim como deixou de citar quais países não têm rezado a cartilha do FMI, Rato também prefere ignorar os efeitos catastróficos sofridos pelos latino-americanos nas últimas décadas, em virtude da política econômica neoliberal seguida à risca por brasileiros, argentinos, colombianos, venezuelanos… Da mesma forma, a responsabilidade do Fundo no citado processo de ampliação da desigualdade social obviamente não foi mencionada.



Rato pode não ter dado a cara a tapa, mas recente relatório do FMI sobre a América Latina aponta qual seu modelo de administração preferido. De acordo com o texto, a política que vem sendo feita por México, Colômbia e Chile é a ideal, pois nos três países os gastos públicos subiram abaixo da média latino-americana de 9% registrada em 2006. Pois não, senhor.



A cada novo resultado eleitoral na América Latina, o FMI perde um bocado de sua influência. As urnas têm demonstrado que a política defendida pelo Fundo não é bem-vinda, pois já provocaram tragédias sociais em quantidade suficiente. Mas Rodrigo Rato é sábio. Ele descobriu que há insatisfação social entre os latino-americanos e, a continuar nessa toada, cedo ou tarde notará que o processo de mudanças na região não inclui o FMI.