Volkswagen demite 4 mil trabalhadores na Europa

A montadora de automóveis alemã Volkswagen alega que o mercado europeu está saturado e que a elevada cotação do euro impede as exportações. Na passada semana anunciou a redução de quatro mil dos cerca de cinco mil trabalhadores da sua fábrica na Bélgica.

Após semanas de incerteza e expectativa, a Volkswagen confirmou a decisão de cessar a montagem na Bélgica do modelo Golf, o mais popular da marca, que passará a ser exclusivamente produzido nas fábricas de Wolfsburg e Mosel, na Alemanha.


 


Em greve desde sexta-feira, 17, os trabalhadores da unidade de Bruxelas foram igualmente informados da extinção de três quartos dos atuais postos de trabalho. A notícia foi recebida, na terça-feira, 21, com protestos e indignação por parte dos trabalhadores e das autoridades do país.


 


Para além dos cerca de 5.500 empregos diretos, a fábrica belga da Volkswagen garantia perto de 10 mil outros postos de trabalho em empresas subcontratadas. A retirada daquele modelo deixará a unidade com uma atividade residual, já que, dos 204 mil veículos ali produzidos anualmente, 190 mil eram Golf.


 


Apesar de a sede afirmar que não pretende encerrar a unidade de Bruxelas, os sindicatos consideram que com menos de 1.500 trabalhadores a produção deixará de ser viável.


 


Por seu turno, o primeiro-ministro, Guy Verhofstadt, declarou-se “chocado” e lembrou “os esforços feitos nos últimos anos para transformar a unidade numa das mais produtivas da Europa”. Ao mesmo tempo manifestou “decepção” com o fato de “considerações nacionais” estarem na origem desta decisão.


 


Com efeito, esta nova vaga de cortes e reduções de pessoal começou no inverno passado, com a divulgação de um plano draconiano na Alemanha, cujo objetivo era eliminar 20 mil postos de trabalho nos próximos três anos, ou seja 20 por cento do total de efetivos em solo germânico.


 


A ofensiva passou pelo congelamento de aumentos salariais e pelo aumento da jornada semanal sem compensação salarial. Em vez das 28,8 horas, os operários alemães cumprem, desde setembro último, 33 horas semanais.


 


Este agravamento das condições trabalhistas foi possível graças a um acordo com o poderoso sindicato IG Metall que, de acordo com a imprensa internacional, exigiu em troca o regresso às fábricas Alemanha de parte da produção internacionalizada, de modo a aumentar o nível utilização de capacidade instalada.


 


Excesso de capacidade


 


A direção da Volkswagen alega que a “reestruturação” na Europa ocidental se deve a um excesso de produção nesta região (note-se que no Brasil também está em curso um plano que visa a redução de 3.800 de postos de trabalho até 2008).


 


“O mercado de automóveis está saturado e sofre de excesso de capacidade instalada. As fábricas da Volkswagen na região não funcionam na sua plena capacidade, apesar do aumento da quota de mercado”, afirma a empresa em comunicado.


 


Como agravante, o grupo sublinha ainda que as possibilidades de exportação são limitadas devido aos valores cambiais do dólar e às taxas aduaneiras sobre os veículos importados impostas pelos países emergentes.


 


Neste contexto, vendo perspectivas de crescimento futuro apenas nos mercados da Rússia, Índia e China, os responsáveis da Volkswagen advertem que “outras localizações devem ser agora incorporadas no programa de reestruturação para assegurar uma produção e capacidade de utilização competitivas no conjunto das fábricas da Volkswagen na Europa Ocidental”.


 


Na opinião de vários analistas, citados pela agência France Press, esta posição da montadora significa que a Bélgica não é mais do que o começo de uma série de outros cortes que irão afetar unidades do sul da Europa. Em concreto, são referidos os casos das fábricas de Pamplona, na Espanha, e também as instalações da AutoEuropa, em Palmela.


 


Em Pamplona, a Volkswagen produz o modelo Pólo, que está em fim de vida, o que explica que a unidade trabalhe a 75 por cento da sua capacidade. No caso da fábrica portuguesa, a situação é distinta uma vez que lá são produzidos exclusivamente o monovolume Sharan e o cabriolet Eos, pelo que a sua transferência para a Alemanha não se afigura como provável.


 



Comitê de empresa da Volkswagen


Corrupção continuada


 



No mesmo dia em que responsáveis da direção da Volkswagen comunicavam a demissão aos trabalhadores da fábrica belga, as autoridades judiciais da Baixa Saxónia detiveram o antigo presidente do Comitê de Empresa do grupo, Klaus Volbert, acusado de corrupção no desempenho das suas funções de representante dos trabalhadores.


 


Volbert foi obrigado a abandonar o grupo em 2005, quando rebentou o escândalo de corrupção, desfalques e subornos. Consigo foi arrastado o antigo diretor dos recursos humanos, Peter Hartz, autor das contestadas reformas sociais aplicadas pelo governo social-democrata/verdes de Gerhard Schröder.


 


No passado dia 16 de novembro, Hartz foi acusado de 44 crimes, 23 dos quais se referem a atos de “favorecimento do comitê de empresa da Volkswagen”. Os investigadores judiciais declararam que se trata de “um caso de desfalque de especial gravidade”, de que beneficiou “durante dez anos um dos membros do comitê de empresa”, precisamente Klaus Volbert.


 


Hartz terá autorizado pagamentos ilícitos a Volbert no valor de cerca de dois milhões de euros. A amante deste, Adriana Barros, também terá recebido quase 400 mil euros. Em troca, a direção dos recursos humanos obteve do comitê de empresa a garantia de paz social.