Com Agripino candidato, PSDB e PFL vão ter de discutir relação

Por Franklin Martins em sua coluna no iG*
A decisão do PFL de lançar a candidatura de José Agripino Maia à presidência do Senado está provocando, nos bastidores, um estremecimento nas relações entre pefelistas e tucanos. A avaliação do PSDB é de que o

Até aí não há nada demais, dizem em conversas reservadas importantes senadores do PSDB, para quem o PFL tem todo o direito de seguir o caminho que achar mais conveniente. O problema é que, na prática, ele estaria exigindo que o PSDB embarcasse na mesma canoa que ele. Caso contrário, a aliança dos dois partidos, eixo da oposição ao governo Lula até agora, estaria ameaçada.
“Se o PSDB entender”…



Agripino Maia foi explícito em suas declarações: “Se o PSDB entender que sua prioridade é a eleição de um companheiro da oposição para a presidência da Casa, a candidatura está consolidada”. Numa reunião com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, foi mais explícito ainda: se os tucanos não marcharem com Agripino, estarão rompendo o bloco de oposição no Senado.



Publicamente, o PSDB, ainda atordoado, resolveu não bater de frente com o ultimato dado pelo comando do PFL. Mas, o mal estar é muito forte. Para dizer o mínimo, os tucanos estão sentindo-se constrangidos com a situação. Afinal, não foram consultados antes do lançamento de Agripino e agora querem que eles comam um prato feito.



Tudo ou nada intransigente



A avaliação é de que dificilmente Renan perderá a disputa. Terá o apoio de quase todo o PMDB, do PT e dos partidos de esquerda e da base governista. Como o escrutínio é secreto, provavelmente colherá votos também no PSDB, qualquer que seja a decisão da cúpula do partido. E, como o presidente do Senado já avisou que os partidos que lançarem ou apoiarem candidaturas avulsas, desrespeitando o princípio da proporcionalidade, ficarão sem representação na chapa encabeçada por ele, a candidatura de Agripino é um “tudo ou nada”. Se ele ganhar, a oposição controlará o Senado. Se perder, ficará fora da mesa, alijada das decisões mais importantes do dia-a-dia. Mesmo dentro do PFL, há senadores que consideram a tática uma temeridade.



No momento, os tucanos tateiam entre três possibilidades. A primeira é associar-se à tática do PFL – e seja o que Deus quiser. Mas a maioria da bancada não quer partir para essa aventura. A segunda é convencer o aliado de que a candidatura avulsa é um erro e levá-lo a recuar. O problema é que o PFL está intransigente na posição. A terceira hipótese, que tende a prevalecer, consistiria em dar tempo ao tempo. O PSDB evitaria se chocar ou se comprometer ostensivamente com o nome de Agripino, deixando que os fatos semeassem obstáculos no caminho de sua candidatura. Mais à frente, se tentaria encontrar uma saída honrosa para todos. Mas quem disse que o galo topa entrar na panela para ser cozinhado? Ao contrário, o PFL está exigindo uma definição pública do PSDB, sem maiores delongas.



Linha da oposição extrema



Um influentíssimo senador do PSDB disse-me ontem que, na verdade, a eleição para a mesa do senado é apenas a ponta do iceberg de uma divergência mais séria. O PFL, sem perspectivas de comandar o país, está optando pelo caminho da oposição extrema e quer obrigar os tucanos a andarem pela mesma trilha. Já o PSDB aposta todas suas fichas no retorno do partido ao poder em 2010, seja com José Serra, seja com Aécio Neves, seja com uma chapa composta pelos dois. Por isso mesmo, não tem interesse no envenenamento do ambiente político.



Mais ainda: preocupado em restabelecer pontes com a maioria dos eleitores, quer fazer uma oposição programática e responsável, bem distante do “quanto pior, melhor”. O mesmo senador apelou para uma imagem: “No primeiro mandato de Lula, vivemos uma situação parecida com a da época da ditadura. Era Arena de um lado, MDB de outro. E não tinha conversa”, lembrou. Agora, segundo ele, o momento se assemelharia mais ao da transição da democracia, marcado pela combinação de enfrentamento com entendimento, onde cada partido teria um estilo próprio de fazer política.



O fato é que a aliança entre o PSDB e o PFL chegou a uma encruzilhada. Não pode mais ser a mesma de antes, nem sobreviver na base do piloto automático. Como nos casamentos em crise, os dois partidos vão ter de discutir sua relação. E o que é pior: por mais recatados que sejam, terão de faze-lo em público.



* Intertítulos do Vermelho