Lula cobra responsabilidade da oposição para país crescer

Em cerimônia de posse da nova diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta terça-feira (28) declarações contundentes contra setores da oposição que, agindo de forma irresponsável, prepõe aument

Cláudio Gonzalez,
com informações das agências


 


Ao participar da posse de Armando Monteiro Neto, que foi reconduzido na direção da CNI até 2010 e que acumulará o cargo com a função de deputado federal, o presidente Lula falou prioritariamente sobre economia. A solenidade também contou com a participação de diversos ministros, como Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Também estiveram presentes o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados Aldo Rebelo(PCdoB-SP), entre outros.


 


Em seu discurso, Lula fez vários ''desabafos'' e disse que parte do baixo desempenho da economia é culpa de um setor irresponsável da oposição, que faz jogo político-eleitoral fora de época.



Lula lembrou recentes movimentos da oposição que aprovaram projetos no Congresso Nacional que acarretam gastos extras para a União.



''Acabamos de sair de um episódio em que políticos aprovaram o 13º para o Bolsa Família e um reajuste de cerca de 17% para os aposentados, como se fosse peça de campanha, sem que haja conseqüência no dia seguinte'', afirmou o presidente, em cerimônia de posse da nova diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI).



''Não é possível o país ser sério se os politicos forem volúveis. Só será construído um país sério se agirmos com a seriedade que a sociedade espera de nós, do governo Federal, da Câmara dos Deputados, do Senado, dos empresários, dos intelectuais, da imprensa brasileira'', acrescentou.



O presidente também responsabilizou a imprensa por vender ''desgraceiras'' que dão a ''impressão que o Brasil vai acabar''. Para o presidente, os veículos de comunicação não refletem o dia-a-dia do país.



''A impressão que tenho é que um dia o Brasil vai acabar e, no outro, o país não vai acabar. Às vezes, eu me pergunto se esse é o Brasil que eu estou vivendo ou não'', disse Lula na CNI.


 


Crescimento sem mágicas


 


O presidente voltou a afirmar que não permitirá o retrocesso econômico do país e criticou o atual estado de imobilidade do país para financiar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). ''Um país que tem que cumprir um superávit primário (de 4,25%) e tem uma Lei de Responsabilidade Fiscal dessas, precisa de um bando de mágico para encontrar uma saída para esse país voltar a crescer'', disse.


 


''E sem mágica vamos voltar a crescer. É uma determinação do nosso governo: crescer sem voltar a inflação, sem bulir com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Só não queremos vender ilusões porque às vezes o discurso fácil torna-se difícil na prática'', acrescentou.



Previdência


 


O presidente Lula defendeu ainda o sistema de previdência social e rebateu as afirmações de que o déficit da Previdência é um dos principais entraves para o crescimento.


 


Mais cedo, Lula havia estado com o presidente do PDT, Carlos Lupi, que saiu do encontro dizendo que o governo não encaminhará uma proposta de reforma da Previdência. ''O presidente disse que não pretende fazer reforma, que não quer tocar nesse assunto e que não é programa de governo dele fazer qualquer mudança na Previdência. Ele quer melhorar a arrecadação e continuar o esforço do recadastramento dos aposentados'', afirmou Lupi.


 


Ainda na solenidade de ontem, o presidente da CNI foi claro ao elencar a agenda que os seotres conservadores querem impor ao governo Lula neste segundo mandato. Monteiro bateu duro na relutância do governo em propor reformas profundas na estrutura do gasto público. ''Ligar a ignição do crescimento exige atacar frontalmente a questão fiscal. Este não é um problema que admite soluções simplistas. Reconhecer sua complexidade é o primeiro passo para acertar'', afirmou. Ele acrescentou que a realização das reformas necessárias ao País, como a trabalhista, a previdenciária, a tributária e a política ''exigem elevado capital político, determinação e clareza sobre o que é prioritário, o que representa um obstáculo adicional para os governos''.


 


Lula não deixou por menos. ''Eu vejo agora que a moda é jogar a culpa na Previdência Social. Agora todo e qualquer problema se resolve com a Previdência Social'', disse. Ele explicou que, levando em conta apenas o total de contribuições recebidas e benefícios pagos pelo sistema, o déficit ''não seria motivo de discurso de nenhum de nós''.


 


O presidente Lula acredita que a fonte do déficit são a aposentadoria rural e os benefícios da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), que beneficia deficientes e idosos de baixa renda e o Estatuto do Idoso, que garante um salário mínimo mensal para pessoas de baixa renda com mais de 67 anos. Ele acredita que esses programas deveriam ser lançados na conta do Tesouro e não da Previdência. ''Isso não é política de Previdência, é política de seguridade. E nós não podemos jogar nas costas de quem contribui'', afirmou.



Desde a vitória do segundo turno, este foi o pronunciamento mais revelador sobre o que o presidente pensa da situação atual da economia e sobre os rumos que pretende seguir em seu segundo mandato.


 


Confira abaixo a íntegra do discurso:


 


Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de posse da diretoria e do conselho fiscal da CNI 2006-2010
Confederação Nacional da Indústria – Brasília-DF, 28 de novembro de 2006


 



 Meu querido companheiro José Alencar, vice-presidente da República,
 Meu querido companheiro Renan Calheiros, presidente do Senado Federal,
 Meu querido companheiro Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados,
 Deputado federal, nosso querido companheiro, Armando Monteiro Neto, presidente reeleito da CNI,
 Meu querido companheiro Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
 Demais companheiros e companheiras ministros aqui presentes,
 Nossa querida governadora Maria de Lourdes Abadia, governadora de Brasília,
 Senhores governadores Alcides Filho, de Goiás; Eduardo Braga, do Amazonas; Marcelo Miranda, de Tocantins, e Paulo Hartung, do Espírito Santo,
 Nossa governadora Yeda Crusius, governadora eleita do Rio Grande do Sul,
 Nossos governadores eleitos Cid Gomes, que está perto do Gerdau, já vão discutindo, aí, a Siderúrgica do Ceará. Cid Gomes, do Ceará; Eduardo Campos, de Pernambuco, e Jackson Lago, do Maranhão,
 Senhoras e senhores embaixadores acreditados junto ao governo brasileiro,
 Deputados federais,
 Ministros,
 Prefeitos das capitais e das cidades do interior,
 Meu caro presidente do Sebrae,
 Presidente do Sesi,
 Meu caro Demian Fiocca, presidente do BNDES,
 Maria Fernanda, presidente da Caixa Econômica Federal,
 Não sei se o Rossano está aqui, do Banco do Brasil,
 Ministro dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União,
 Meus amigos e minhas amigas dirigentes das federações estaduais e da Confederação Nacional da Indústria,


 O Armando pai deve estar percebendo que o Armando filho fez um discurso com a cara mais leve, e só tem uma razão de ser: é pela penca de votos que ele conquistou nessas eleições, em Pernambuco. Uma eleição bem-sucedida deixa todo mundo mais feliz.
 Meus amigos e minhas amigas,
Armando, eu queria começar dizendo a você que quando terminar este ato eu vou ter que sair muito rápido, porque eu embarco as 10 horas para a Nigéria e ainda tenho que ir em casa buscar a mala, porque as mulheres conquistaram a independência e não arrumam mais a mala da gente, a gente é que tem que arrumar a nossa própria mala.
 Eu creio que o Brasil dispõe hoje de um poderoso consenso para acelerar a sua história. Estou falando da consciência nacional em torno da idéia de que o crescimento é a ferramenta que falta para superar os desafios pendentes da nossa sociedade.
Não se trata mais, simplesmente, de preparar a sociedade para o crescimento. O que se coloca agora é permitir que o crescimento prepare a sociedade para o futuro ao qual temos direito e pelo qual tanto lutamos nesses últimos anos.
Estamos dedicando toda a nossa energia para destravar os gargalos institucionais e econômicos que ainda retardam o passo seguinte da nossa história. São 26 anos em que a economia brasileira sonha com um crescimento maior.
Avanços dessa magnitude não se dão por acaso. Crescimento e prosperidade não são obras de forças mecânicas, nem tampouco respondem a qualquer automatismo de mercado. São, isso sim, obras de um verdadeiro esforço nacional, da união de forças dos mais diversos setores da sociedade com o objetivo de construir um Brasil mais justo e muito mais preparado para o futuro.
A industrialização brasileira, por exemplo, poderia não ter acontecido. Sua existência deve-se, em primeiro lugar, à visão histórica de lideranças políticas, sociais, empresariais e intelectuais que souberam juntar forças e lutaram para que isso acontecesse.
Ao seu tempo e ao longo de sucessivas gerações, essas lideranças souberam estabelecer as bases de entendimento político para que a democracia e a produção pudessem prosperar entre nós. E por esse motivo que me sinto especialmente orgulhoso em participar deste evento com todos os aqui presentes e, sobretudo, com a nova direção da Confederação Nacional da Indústria.
Em seus quase 70 anos de história, a entidade desempenhou um papel fundamental na defesa e no desenvolvimento de um parque industrial brasileiro sólido e produtivo. Essa atuação, que teve início ainda no início de nossa industrialização, durante o governo Vargas, continua sendo muito importante até os dias de hoje.
Quero, portanto, aqui, Armando, registrar aquilo que eu disse no filme, que você só pôde passar porque as eleições acabaram, o meu reconhecimento ao papel democrático que a CNI tem exercido nesse último período.
Eu não sei quantas vezes a CNI promoveu a quantidade de debates que vocês promoveram aqui dentro. E também não sei quantas vezes a CNI e outras entidades empresariais tiveram tanto acesso na sua relação com o poder central para discutir as saídas que tanto o povo brasileiro almeja.
Eu não poderia deixar de fazer esse reconhecimento, porque certamente não fizemos todas as conversas que precisamos fazer, mas, certamente, fizemos mais do que durante décadas os empresários conseguiram fazer. Até porque, a bem da verdade, houve um tempo neste País em que dificilmente, numa reunião de empresários, dos empresários com o governo, poderia se abordar uma deficiência do governo. Ao passo que, no nosso governo, eu já fiz muitas críticas a companheiros empresários de que, muitas vezes, a falta da crítica permite que a gente continue cego e não enxergue o caminho que nós temos que percorrer. Meus parabéns à nova diretoria e eu espero que vocês tenham um grande sucesso.
O diálogo franco e democrático que mantivemos nesses quase quatro anos de governo foi fundamental para que construíssemos, juntos com os demais setores da sociedade, as bases de um projeto de desenvolvimento que já está tornando o Brasil um país mais justo.
A todos os integrantes da nova diretoria da CNI – representados pelo presidente Armando Monteiro Neto, que está sendo reconduzido ao cargo – eu quero dizer: espero que tenhamos mais quatro anos de profícuo trabalho e que o resultado possa ser a melhora do crescimento econômico e, junto com o crescimento econômico, pois não basta apenas crescer, fazer uma justa distribuição de renda para que todos os 190 milhões de brasileiros participem deste chantili, que é o crescimento da economia.
Todos sabemos que até 2010 ainda teremos um enorme trabalho pela frente. E tenho a certeza de que, nesse período, nosso diálogo e nossa colaboração serão cada vez mais intensos e cada vez mais produtivos.
Meus amigos e minhas amigas,
O Brasil pode, deve e vai dobrar a aposta histórica da sua gente no desenvolvimento e na democracia. Não se trata de uma guinada, nem de uma ruptura. Mas de impor velocidade e solidez a um processo retomado desde que ganhamos as eleições. Um dos grandes saldos positivos deste período é que, hoje, a nossa economia não tem mais restrições externas para crescer. Essa é uma novidade que veio para ficar e ela pode mudar muito a história do Brasil.
Temos reservas cambiais superiores a 81 bilhões de dólares, cinco vezes maiores do que dispúnhamos no início do mandato. Descontadas essas reservas, a dívida externa do setor público encontra-se zerada. Zeramos também a dívida com o FMI e podemos acionar ferramentas hibernadas no ciclo de ajuste que já foi em parte concluído.
O risco Brasil declina. A inflação dos preços livres atinge alguns dos índices mais baixos das últimas décadas. E o horizonte, portanto, é de uma queda inexorável das taxas de juros.
O que estamos dizendo é que uma porção importante dos constrangimentos históricos à expansão brasileira deixou ou está deixando de existir. O terreno movediço das contas externas, o descontrole da inflação, o desperdício de um mercado de massas reprimido, bem como a paralisia da construção civil durante 20 anos, mudaram de sinal.
Hoje, essas dinâmicas trabalham a favor do crescimento. Só o crédito imobiliário acrescentará mais um ou dois pontos percentuais ao PIB nos próximos anos.
Estamos estruturando um fundo de incentivo à habitação popular que vai reduzir em até 60% o valor das prestações dos compradores da casa própria. Serão beneficiadas diretamente as faixas de renda até cinco salários mínimos. Justamente onde se concentram mais de 80% do déficit habitacional do nosso País.
O mercado de capitais está se fortalecendo. O otimismo elevou em mais de 60% o valor das emissões acionárias este ano.
Mas nós queremos mais. E sabemos que é preciso mais para atingir o ponto de mutação do desenvolvimento sustentável. Por isso, estamos criando incentivos adicionais para a desoneração fiscal do investimento produtivo, bem como a antecipação de créditos do PIS e do Cofins.
Os gargalos de infra-estrutura e saneamento também serão equacionados com o reforço de fundos de investimento. Queremos igualmente isentá-los de Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. A idéia é liberar o capital de giro das empresas para que elas possam se concentrar na implementação de novos projetos. Até porque, se a economia voltar a crescer como sonhamos, é preciso que os investimentos produtivos aconteçam com muita rapidez, senão a inflação volta e a gente vai ver as revistas semanais publicarem a cara do dragão durante semanas e mais semanas, e nós não queremos que isso aconteça mais no Brasil.
Estamos empenhados em armar uma engrenagem de crescimento que não traz a assinatura de um partido. Não é de autoria de um só ministro. Tampouco é fruto de medidas heróicas, que muitas vezes têm eficácia passageira ou conseqüências funestas.
O que estamos propondo ao conjunto da sociedade brasileira é mais consistente do que tudo isso. Trata-se de um artesanato democrático com todas as forças políticas e sociais da Nação. Um projeto de um governo de portas abertas, que tem a determinação incansável de buscar soluções que contemplem os apelos da cidadania, o imperativo da estabilidade e as necessidades do crescimento e da produção.
Hoje, creio, o Brasil e suas lideranças estão maduras para compreender que o desenvolvimento não é obra de receitas ou panacéias administrativas. Ele é fruto de um amplo entendimento para a transformação da sociedade, de um esforço coletivo que se traduz na definição de linhas de passagem, exaustivamente negociadas, e que vão mobilizar os recursos necessários aos projetos cobrados nesta quadra da nossa história.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil tem energia acumulada para desencadear esse novo e vigoroso ciclo de expansão. Fizemos os ajustes necessários para isso. Temos o mandato das urnas para crescer e um alicerce firme para cumprir a delegação do voto popular.
É preciso exercer a liberdade conquistada para não perdê-la. Abre-se um tempo novo para nossa gente e a nossa economia. Temos os instrumentos para continuar investindo pesado em infra-estrutura. Podemos ajustar esses instrumentos, podemos dotá-los de maior agilidade, podemos complementá-los. Podemos ampliar a desoneração fiscal do capital produtivo como estamos fazendo. Faremos o que for preciso e o que for necessário.
Mas é, sobretudo, indispensável despertar a atenção da sociedade para o novo ciclo que se anuncia. É hora de trocar a obsessão pela liquidez do passado, pela confiança no futuro e nas possibilidades do desenvolvimento nacional. Não temos mais o direito de deixar de acreditar em nós mesmos.
Tudo o que fizemos nos últimos anos foi justamente construir alternativas para que o Brasil pudesse voltar a crescer sem inflação e com estabilidade. Crescer promovendo a inclusão social, a distribuição de renda e a geração de empregos.
Vencemos esse patamar. Não podemos agora desperdiçar o horizonte que se abre à nossa frente. Temos condições de fazer do Brasil um dos maiores mercados do mundo. A recuperação do salário mínimo e o crédito consignado revelaram amplas potencialidades adormecidas. E desenharam uma nova geografia do varejo nacional. O consumo nas faixas de renda D e E cresceu 11% em média nos últimos quatro anos.
É preciso, portanto, romper com uma cultura de crise permanente, que durante décadas mergulhou a subjetividade nacional num fatalismo paralisante, que desperdiçou energias econômicas e sacrificou a criatividade social.
Não podemos mais lutar a batalha apenas do dia anterior. A inflação foi derrotada e não permitiremos que ela ressurja. A nova trincheira está na batalha pelo crescimento. Certamente, nós venceremos essa luta.
Minhas amigas e meus amigos,
Antes de encerrar, gostaria de dizer que o crescimento que concebemos para o Brasil nos próximos anos não visa unicamente aumentar a oferta e o acesso à riqueza. Trata-se, também, de erigir o primado de uma cidadania ativa, engajada na construção do bem-estar coletivo. Superar as antigas iniqüidades é, sobretudo, um esforço ético de toda a Nação brasileira.
Estou falando de uma ética associada à luta pelo desenvolvimento e que norteie a construção de uma economia intrinsecamente receptiva aos valores democráticos e republicanos. Ricos ou pobres, somos todos filhos da nossa história e das grandes decisões nacionais. Os interesses de toda a sociedade, portanto, precisam sempre estar representados nos conflitos do desenvolvimento. No alicerce de justiça e de busca pela igualdade, devemos erguer um compromisso histórico inédito, capaz de inaugurar um verdadeiro ciclo de desenvolvimento material e humano para toda a sociedade.
 Meu querido amigo Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria,
 Governadores,
 Meu querido companheiro José Alencar,
 Quem convive comigo mais próximo sabe que, durante muito tempo, eu disse que não haveria outra razão para alguém querer ser candidato à reeleição se não tivesse o propósito de fazer mais e melhor no segundo mandato. Porque quem já é governador e foi reeleito, ou quem é prefeito – como estou vendo dois aqui, o de Petrolina e o de Recife – e está reeleito, sabe que a exigência da sociedade brasileira é para que façamos mais e melhor, porque se você fizer igual, não presta, e se fizer pior, será crucificado pela sociedade. A história está cheia de exemplos.
 Entretanto, é importante que nós tenhamos clareza de que a possibilidade que nós temos de construir este Brasil dito aqui pela boca do nosso presidente da CNI, que seria dito pela boca do ministro do Trabalho, ou que seria dito pela boca de um dirigente sindical, ou pela boca do Gerdau, ele só será construído, Armando, se nós agirmos com a seriedade que a sociedade espera de nós. E quando eu digo seriedade, é a seriedade do governo federal, a seriedade da Câmara dos Deputados, a seriedade do Senado da República, a seriedade dos políticos em geral, a seriedade dos empresários, a seriedade dos dirigentes sindicais, a seriedade dos intelectuais, a seriedade da imprensa brasileira. É preciso que todos assumam o compromisso de cumprir com a sua parte, sem ficar quieto, exigindo que a outra parte arque com as responsabilidades pelos desacertos que acontecem no Brasil.
 Eu, meu caro Armando, posso fazer uma confissão aqui, na frente de tantos governadores, de tantos empresários e de tantos ministros. Se eu fosse levar em conta todas as desgraceiras vendidas do Brasil o dia inteiro na imprensa, eu não sairia de casa de manhã. Porque a impressão que eu tenho é que o Brasil tem dia que vai acabar, tem dia que não vai acabar. Tem dia que eu fico imaginando: espera aí, esse é o Brasil que eu estou vivendo ou não é o Brasil que estou vivendo? Então, quando você faz uma reunião com economistas, como eu fiz a vida inteira, depois de uma análise econômica, meu caro Fernando, eu falava: espera aí, se o Brasil vai acabar, como eles estão dizendo, por que vou ser presidente da República?
 Eu estou dizendo isso, Armando, porque nós acabamos de sair de um episódio, em que uma parte dos políticos brasileiros aprovou o décimo terceiro salário para o Bolsa-Família. Eu estou falando, Armando, de pessoas que fazem discursos dizendo que querem ser sérios e aprovam 17% de aumento para os trabalhadores aposentados que ganham mais do que o salário mínimo, como se aquilo fosse apenas uma peça de campanha, sem a conseqüência do dia seguinte da irresponsabilidade. Não é possível este País dar certo se os políticos forem volúveis, não é possível este País dar certo se todos nós não assumimos a responsabilidade.
Eu poderia citar exemplos de governadores aqui que já tiveram dificuldades. Cada um de vocês vai tomar posse agora, em 1º de janeiro, e vocês vão perceber a dificuldade entre os discursos que foram feitos durante a campanha e a prática de governar os seus estados. Eu poderia citar o Rio Grande do Sul ou poderia citar Pernambuco, as dificuldades de cada estado, que estão proibidos de ter qualquer capacidade de investimento. Poderíamos pegar as prefeituras desses estados, porque nós falamos muito de infra-estrutura, muito de investimento, mas tem um senão, que é (inaudível) no pescoço de gato, que é de onde a gente vai tirar esse dinheiro.
E um estado rico, como o Rio Grande do Sul, que já foi exemplo de riqueza neste País, hoje é obrigado a conviver com a folha de inativos maior do que a folha de ativos. Yeda, prepare-se, minha cara governadora, porque vai ter muito trabalho. E não estou dizendo isso agora para você, porque está aqui, não. O Gerdau é testemunha que, com outros empresários do Rio Grande do Sul, nós estamos tentando discutir para não permitir que o Rio Grande do Sul sofra um retrocesso na sua economia, porque seria um prejuízo inestimável para este País. Um estado que conseguiu ser o que o Rio Grande do Sul foi, do ponto de vista da sua economia na década de 60, na década de 70, na década de 80. Um retrocesso é tirar de Pernambuco ou tirar do Maranhão a esperança de que esses estados podem crescer também.
 Eu queria, Armando, dizer para você que o nosso compromisso é irreversível e inadiável. Nós vamos fazer a economia deste País crescer. Mas preste atenção a uma coisa, porque eu não sei quanto tempo eu vou ter de oportunidade para falar com vocês ainda este ano. Faz 20 dias que eu não faço outra coisa a não ser discutir com todas as áreas de governo, e algumas áreas do governo já discutiram com setores empresariais, como destravar este País. Este País está travado por um setor e por uma gama imensa, que eu não vou aqui ficar nominando as coisas que travam este País. De vez em quando a gente facilita e encontra apenas um de “bode expiatório” e fica dizendo: é aquele. Não, tem muitos. Tem muitas coisas que entravam este País, que vai desde a morosidade do Poder Executivo, a morosidade do Congresso Nacional, até a falta de projetos definitivos para o crescimento da economia.
Os estados e as prefeituras estão totalmente falidos. Então, um País que não tem cidades com disposição de investir, estado com disposição de investir, a União não pode investir. Um País que tem que cumprir o superávit que nós temos que cumprir, e ainda tem a Lei de Responsabilidade Fiscal que nós temos que cumprir, vocês percebem que precisa mais do que um economista, precisa de um bando de mágicos para que a gente tente encontrar uma saída para fazer este País voltar a crescer. E, sem mágica, nós vamos fazê-lo voltar a crescer.
 Estou dizendo isso hoje aqui, Armando, na sua posse, para dizer que é uma determinação do nosso governo, porque na campanha eu disse que o nome do mandato seria desenvolvimento, distribuição de renda e educação de qualidade. E essas três coisas vão acontecer neste País, sem voltar a inflação e sem bulir, como diria um bom nordestino, na Lei de Responsabilidade Fiscal.
 Nós só não queremos vender ilusões, porque o discurso fácil às vezes se torna difícil na prática. Eu vejo que agora a moda é jogar a culpa na Previdência Social, todo e qualquer problema se resolve com a Previdência Social.
 Eu queria dizer uma coisa para vocês: a Previdência Social, se levasse em conta apenas o que os trabalhadores pagam e o que os empresários pagam, se levasse em conta apenas o que os trabalhadores que pagam recebem, o déficit dela não seria motivo de discurso de nenhum de nós. O problema é que nós, políticos brasileiros – e aqui tem muitos deles, aqui e aí – nós fomos constituintes em 88. Nós introduzimos, ao longo desses últimos anos, a aposentadoria ao trabalhador rural que é, talvez, uma das coisas que mais significa a distribuição de renda neste País. Depois, nós aprovamos a Loas, depois nós aprovamos o Estatuto do Idoso, e tudo isso é jogado na conta do déficit da Previdência Social, quando a conta é do Tesouro Nacional. Então, não é política de Previdência, é política de seguridade, e nós não podemos jogar nas costas de quem contribui.
 O desafio é muito maior do que a gente imagina. E eu estou determinado, meu caro Gerdau, estou determinado, meu caro Marinho, estou determinado, meu caro Armando – e o José Alencar voltou com muito mais saúde ainda, depois da cirurgia que ele fez – estou determinado a fazer com que este País saia desses 25 anos de crescimento medíocre. Eu ainda tive sorte, porque sou daqueles que, ao completar 60 anos de idade, vivi uma época de alto crescimento neste País, que foi na década de 70, contraditório com a falta de liberdade política que nós vivíamos.
 Então, fazer este País crescer, as bases estão colocadas para isso. Não existe hoje nenhum entrave, do ponto de vista da macroeconomia, para que o País não dê o seu salto de qualidade. Entretanto, Armando, com a seriedade que eu sempre te tratei, eu quero dizer para você: não haverá, da nossa parte, nenhuma vacilação em compreender que nós não podemos gastar mais do que aquilo que a gente recebe, e que responsabilidade está na lei, mas ela poderia estar no nosso comportamento pessoal, de tratar o dinheiro público como dinheiro público, efetivamente, e não para gastar com as vontades pessoais desse ou daquele político, em função de um mandato.
 Não haverá leviandade e não haverá falta de espaço para quem quiser contribuir, que contribua, para que este País possa permitir à geração que nós colocamos no mundo viver num mundo muito mais democrático, muito mais desenvolvido do que o mundo que nós estamos vivendo hoje.
 Este é o meu compromisso. E não me venham os governadores dizerem que tem que mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que nem discutimos isso. Discuto qualquer coisa com os companheiros, qualquer coisa, mas voltar à irresponsabilidade que este País já teve, nós não voltaremos.
 Então, o desafio, Armando, é este, seu, meu, dos meus ministros, dos nossos governadores e do povo brasileiro: é crescer. Crescer e crescer razoavelmente bem, sem permitir que o vandalismo econômico volte a tomar conta do nosso País.
 E eu estou comprometido com isso. Estou comprometido porque acredito piamente que estamos vivendo um momento de ouro para que a gente dê o passo seguinte. Se depender da minha turma, Armando, nós daremos este passo. Se depender do Aldo, certamente daremos o passo, se depender do Renan, também. De vez em quando, aprovam uma coisa no Congresso Nacional, e quando o projeto está pronto, aparece alguém e coloca um penduricalho lá, e depois vem para eu vetar. Não se preocupem que eu não terei medo de vetar uma única coisa que coloque em risco a seriedade da economia brasileira e a sustentabilidade que nós precisamos ter. Não se preocupem.
 Mas eu acho, meu caro Renan e meu caro Aldo, que está nas nossas mãos, porque o crescimento econômico e o desenvolvimento que nós queremos também estarão na mensagem de seriedade que a gente passar para a sociedade brasileira.
 Meus parabéns, Armando. Que Deus lhe abençoe nessa nova trajetória. E que agora, com esse monte de votos em Pernambuco, você possa ser muito mais leve para dirigir a Confederação Nacional das Indústrias.
 Um abraço e boa sorte.