Correa promete tirar base americana do Equador

Do diário mexicano  La Jornada
“Derrotamos os talões de cheque mais gordos e inescrupulosos deste país”, afirmou o candidato do partido de esquerda Alaiça País, Rafael Correa Delgado, economista, virtual vencedor das eleições presidenciai

Com 72,4% dos votos contados, Correa obteve 61,3% dos sufrágios (2.758.715), contra 38,6% (1.739.332) do candidato direitista.* Este, além de não admitir a derrota, pediu ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) a revisão das atas eleitorais e votos, correspondentes a duas províncias do sul do país, Guayas y Manabí, pedido recusado pelo Tribunal.



A petição de Noboa foi o único incidente registrado depois do segundo turno das eleições presidenciais, no último domingo. Uma vez superado o questionamento e confirmado pelo TSE que Correa tinha o dobro da votação obtida por Noboa, apuradas 24% das urnas, o candidato nacionalista encabeçou uma manifestação multitudinária em Guayaquil, apesar da cidade ser um tradicional bastião da direita, celebrando sua vitória com a frase “Até a vitória, sempre”.



Com o punho erguido e agitando uma bandeira do Equador, Correa afirmou que sua vantagem de votos sobre Noboa é a mais alta que um candidato já obteve no Equador nos últimos 30 anos.



Proposta: ampliar a agenda social



“Essa oligarquia corrupta e arrogante equivocou-se ao acreditar que somos um povo de mendigos”, disse o economista, seguidos da escola do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que defende a ampliação do apoio às demandas sociais.
Depois da festa, o virtual vencedor da eleição anunciou numa coletiva de imprensa que uma das medidas que seu governo vai tomar será o cancelamento de um convênio com os Estados Unidos, pelo qual este país mantém uma base aérea antidrogas na província de Manta, litoral do Equador. A base cederá lugar a um aeroporto internacional.



Na mesma hora, a embaixadora estadunidense Linda Jewell emitiu uma declaração onde felicitava Correa por seu “aparente” triunfo e antecipou, como confirmou mais tarde o Departamento de Estado, em Washington, que “esperamos trabalhar produtivamente com a administração” do político nacionalista da Aliança País.
A imprensa estadunidense noticiou a vitória de Correa sob a ótica de que o Equador se somou a um eixo esquerdista.



“Uma vitória de Correa poderia levar o Equador para um grupo de nações latino-americanas com presidentes esquerdistas, que inclui a Bolívia, Cuba, Nicarágua, aliadas do presidente venezuelano Hugo Chávez”, destacou o diário The New York Times. Sua análise coincidiu com a do The Washington Post.



Confirmada a tendência dos resultados eleitorais, Chávez assumirá a presidência em 15 de janeiro de 2007, sucedendo ao presidente interino Alfredo Palacio, que foi vice de Lúcio Gutiérrez, presidente destituído pelo Congresso equatoriano em abril de 2005.



Correa será o quarto presidente a chegar ao poder pelo voto direto. Os três anteriores não concluiram seus mandatos devido ao descontentamento popular, que obrigou a nomeação interina de outros quatro governantes.



Além dos EUA, Correa recebeu nesta segunda-feira mensagens de delicitações da Venezuela, Brasil e Cuba. O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o chileno José Miguel Insulza, ainda não se pronunciou sobre o resultado. Mas destacou, em Madri, que Correa “fez um grande esforço para apresentar um programa moderado que contemplou uma grande quantidade de equatorianos”.



Segundo analistas, a vitória do ex-ministro da Economia no início do governo Palacio indica o ascenso da esquerda, depois da volta da democracia em 1978, sob a égide de um líder nacionalista que espera fortalecer sua relação com a Venezuela ao invés de se somar a uma relação de livre comércio com os EUA.



“Correa venceu porque as pessoas não queriam um presidente como Noboa, quer dizer, uma espécie de patrão, dada sua trajetória de empresário. Antes de votar pelo líder da Aliança País, muitos votaram contra um governo como o desejado por seu rival”, disse Patricia de La Torre, diretora do Observatório Político da Universidade Católica.



“Também existe outro setor da população, com maior consciência, que acreditou em sua proposta de contruir uma cidadania em um Estado diferente, não aquela dos partidos políticos, que causam desconfiança”, agregou.



O economista “representa o repúdio de vários setores a um sistema político considerado inepto e corrupto, mas que também possui tazões para temer a Noboa, pois o considera influente demais para dar-lhe mais poder”, disse Fernando Bustamante, sociólogo e analista da Univesidade San Francisco.



No entanto, agregou Bustamante, “será um governo difícil, pois não terá nenhum apoio no Parlamento, e isto vai lhe criar um gravíssimo problema de governabilidade. Por isso ele terá que pensar em abrir diálogo com setores que não o apoiaram”, disse. O analista recordou que Correa não apresentou candidatos ao Congresso em 15 de outubro passado, quando ocorreram as eleições gerais, junto com o primeiro turno presidencial.