Bento XVI chega à Turquia em meio a protestos

O papa Bento XVI e o primeiro-ministro turco Recep Tayiip Erdogan se encontraram rapidamente nesta terça-feira (28/11) no aeroporto internacional Esenboga, de Ancara, por 20 minutos. O avião do papa aterrisou às 13h locais (9h em Brasília), iniciando assi

“Quero manifestar-lhe a nossa felicidade por vê-lo e à sua delegação no nosso país”, disse Erdogan ao representante do Vaticano, observando que a sua visita à Turquia acontece “num momento muito importante”, em referência ao projeto da Aliança de Civilizações, que será apresentado na sede da ONU em Nova York no próximo mês.


 


Erdogan, de partida para a capital da Letônia, Riga, vai participar esta semana da cúpula do Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan). O primeiro-ministro turco desculpou-se por não poder receber Bento XVI, por ter de participar da cúpula da Otan.


 


Visita contestada


 


O presidente de Assuntos Religiosos turcos, Ali Bardakoglu, afirmou que “durante a visita à Turquia, o Papa deve expressar abertamente que o Islã é uma religião de paz” e não está na base do terrorismo.


 


Citado pelo jornal Zaman, do milionário muçulmano turco-americano Fetullah Guulen, Bardakoglu afirmou que “o Papa deve dizer: a base do terrorismo não é a religião, mas o terror é uma derivação viciosa”.


 


Em setembro, um trecho do discurso pronunciado por Bento XVI durante uma aula magistral na Universidade de Regensburg (Ratisbona), provocou uma onda de protestos no mundo muçulmano e entre alguns chefes de Estado e líderes religiosos.


 


No seu discurso o Papa citou palavras do imperador Manuel II Paleólogo (1391), segundo o qual Maomé só contribuiu com “coisas ruins e desumanas, como a sua ordem de difundir, com a espada, a fé que predicava”.


 


Então o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que as palavras papais eram “inaceitáveis para a Turquia e para o mundo islâmico”.


 


Missa, não


 


Os jornais afirmaram que Bento XVI teve de renunciar ao seu projeto inicial de realizar uma missa no museu de estado de Santa Sofia, que até a invasão de 1453 foi uma igreja bizantina cristã e, até 1934, convertida em mesquita.


 


O jornal Yeni Shafak, próximo ao governo, afirma que no dia 30 o Papa participará em Istambul de uma missa pela festa de Santo André com o patriarca ortodoxo Bartolomeu I e só depois visitará Ayasofia (Santa Sofia), sem nenhuma cerimônia religiosa.


 


O jornal de esquerda Cumhuriyet escreve que o fato do Papa viajar para a Turquia com um programa mais religioso que político “coloca problemas para Ancara”; e observa que o Vaticano apresentou como “gesto papal à Turquia” a visita ao mausoléu de Ataturk, que na verdade é uma obrigação protocolar.


 


Já o jornal islâmico Milli Gazete deu seqüência aos protestos pela presença do papa católico, estampando no alto de sua primeira página uma faixa com a afirmação “Que o Papa não venha”.


 


O motivo oficial da viagem do papa à Turquia foi dado hoje pelo ex-porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro Valls, em um editorial publicado pelo jornal italiano La Repubblica, onde se alega que Bento XVI “vai ao oriente para levar uma mensagem de identidade e de paz, um testemunho pessoal do esforço da responsabilidade que implica tal objetivo”.


 


“É evidente que estamos diante de um grande encontro da história e este encontro importante de reconhecimento mútuo da identidade comum só poderá se realizar com a participação de todos e somente se todos tiverem a coragem de vencer o medo mais perigoso e insidioso existente: o terror enfrentar o seu próprio tempo”, conclui o editorial.


 


O arcebispo de Canterbury e primaz da Igreja Anglicana, Rowan Williams, que hoje comentou com a imprensa o balanço de sua visita ao Vaticano, afirmou que durante a sua viagem à Turquia sem dúvida o Papa “fortalecerá as minorias cristãs”.


 


O presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, Walter Kapser, lembrou que “o primeiro objetivo da viagem papal à Turquia é o diálogo ecumênico” e sem dúvida “Bento XVI apoiará todas as minorias cristãs. (…) Não é uma visita fácil mas é muito importante”.