Violência explode em Paris à base de refrões racistas

Autoridades de segurança e esportivas francesas condenaram a violência racista de uma turba de torcedores de futebol, ocorrida nesta capital na sexta-feira (24/11), depois que um policial negro, ao tentar proteger um judeu que torcia por um time israelens

Segundo depoimentos da polícia e de testemunhas, o policial, Antoine Granomort, 32, correu em socrro de um torcedor francês do time de futebol Hapoel Tel Aviv no final da última quinta-feira, depois que a equipe israelense derrotou o Paris Saint-Germain em uma partida da Copa da UEFA.


 


Cerca de cem torcedores encurralaram os dois homens perto do Parc des Prices, o estádio de Paris no qual o jogo foi disputado, gritando refrões racistas e frases anti-semitas, além de fazerem saudações nazistas. Quando eles começaram a espancar Granomort e ameaçaram matar o torcedor, o policial abriu fogo com o seu revólver funcional.


 


Um homem de 25 anos morreu e um outro, de 26, ficou ferido. Ambas as vítimas foram identificadas pela polícia como sendo membros de um grupo de extrema-direita que apóia o Paris Saint-German, um clube que possui uma longa história de hooliganismo. “A gravidade desse episódio vem confirmar a necessidade absoluta de combatermos o racismo e o anti-semitismo entre os torcedores do Paris Saint-German”, declarou o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë.


 


Escalada
As autoridades parisienses enfrentam há muito tempo o problema da violência dos hooligans na capital, mas até o momento não foi implementada uma legislação mais dura. Houve pelo menos seis incidentes sérios de violência de torcidas envolvendo torcedores do Paris Saint-German nos últimos 14 meses.


 


O racismo ostensivo é uma ocorrência comum no Parc des Princes, o estádio sede do Paris Saint-Geraman. Lá os torcedores humilham jogadores negros, cantando músicas sobre macacos e gritando slogans de extrema direita. O ministro dos Esportes, Jean-François Lamour, manifestou na sexta-feira o seu repúdio “ao clima de tensão e violência em certas partidas de futebol”. O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que é um torcedor do Paris Saint-German, prometeu reprimir a violência.


 


Granomort, que estava detido na sexta-feira enquanto a Justiça investigava a sua alegação de que agiu em autodefesa, recebeu o apoio dos colegas policiais, que ressaltaram que ele tinha o direito de se defender. A violência teve início às 22h50 da quinta-feira, segundo Philippe Brossard, um jornalista da revista L'Express que testemunhou o incidente.


 


Dezenas de torcedores furiosos do Paris Saint-German saíram em perseguição a Yanniv Hazout, um francês que torceu pelo time de Tel Aviv, quando o jovem caminhava rumo à estação de metrô que fica próxima ao estádio. Escalado para vigiar um pátio de estacionamento próximo, Granomort, um policial que trabalha à paisana, tentou primeiro conter os torcedores violentos com uma bomba de gás lacrimogêneo.


 


“Ele disse várias vezes ao rapaz atacado: 'Fique atrás de mim! Fique atrás de mim!”, relatou Brossard na sua descrição do incidente no website do jornal “L'Express”. “Mas os atacantes continuaram se aproximando, insultando-o”, escreveu. “Ele recuou, entrou em pânico, tentou escapar pela direita, perdeu a sua granada de gás lacrimogêneo, recuperou-a, e recuou mais. Mas a turba continuou se aproximando”.


 


Anti-semitismo
Segundo Sarkozy, alguns torcedores gritaram “Morte ao judeu!” antes de atacarem Hazout. Granomort foi chutado e espancado antes de cair no chão e sacar a arma, contou o ministro do Interior. As tropas policiais de choque são uma presença comum no Parc des Princes. O Paris Saint-German tem várias facções de torcedores desordeiros, mas a mais afamada é a “Kop Boulogne”, um grupo conhecido pela sua lealdade a partidos de extrema direita como a Frente Nacional, de Jean-Marie Le Pen.


 


Trinta torcedores do Paris Saint-German foram formalmente proibidos de ingressar no estádio, e alguns foram ordenados a se apresentar à polícia durante os jogos. Mas dezenas de outros hooligans continuam assistindo aos jogos, muitas vezes se concentrando em um canto do estádio. Frederic Thriez, presidente da liga profissional francesa de futebol, disse que ficou chocado com o que aconteceu. “O futebol não diz respeito ao ódio”, declarou ele na sexta-feira. “O futebol não pode ser uma guerra”.


 


Fonte: Herald Tribune