Equador vai às urnas dividido entre Noboa e Rafael Correa

Mais de 9 milhões de equatorianos vão às urnas neste domingo (26/11) para definir o disputadíssimo segundo turno das eleições presidenciais. Segundo as últimas pesquisas, o esquerdista Rafael Correa e o magnata de direita Alvaro Noboa, aliado dos Estados

Levantamento do instituto Cedatos-Gallup divulgado na sexta-feira mostra Correa na liderança, com 52% das intenções de voto, contra 48% para Noboa, o que significa um empate técnico diante da margem de erro. O número de indecisos é de 17%. No dia 17 de novembro, a sondagem da mesma empresa dava a Noboa 52% das preferências, contra 48% para Correa, indicando que o multimilionário havia perdido 18 pontos em relação ao adversário.


 


Noboa saiu vitorioso no primeiro turno, em 15 de outubro, com 26,8% dos votos válidos, contra 22,8% para Correa. Agora, devido à estreita margem – e diante da inexistência de uma contagem rápida de votos -, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) pediu que os institutos de pesquisas e meios de comunicação evitem a divulgação de resultados de boca-de-urna, se a diferença de votos ficar entre as margens de erro. O processo eleitoral está sob a observação de 80 membros da OEA e 3 mil voluntários da organização civil Participação Cidadã.


 


No primeiro turno, o TSE contratou a empresa brasileira E-Vote para realizar a contagem rápida, mas um colapso impediu a contagem. Para o segundo turno, não foram firmados novos contratos. O resultado oficial deve ser divulgado segunda-feira ou terça-feira e as eleições contarão com a missão de observadores da Organização de Estados Americanos (OEA).


 


Clima tenso
Correa promete integrar o Equador ao que chama de “novo socialismo” da América Latina, ao lado dos governos do venezuelano Hugo Chávez, do argentino Néstor Kirchner e do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato recusa o livre-comércio com os Estados Unidos e a ampliação do convênio com os americanos para as operações antidrogas, a partir da base de Manta (sul do Equador).


 


Também é crítico da política externa do presidente George W. Bush. Em campanha, Correa não escondeu sua preferência política no continente. “Chávez é meu amigo – qual é o problema? Bush é amigo da família (do líder da Al-Qaida) de Bin Laden. Cada um é livre para escolher seus amigos.”


 


Na direção conservadora, Noboa promete atrair os investimentos externos, promover o livre comércio com os Estados Unidos e ampliar as relações com o presidente colombiano – o ultradireitista Alvaro Uribe. O candidato pelo Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), homem mais rico do Equador, tumultuou a campanha ao vincular Correa à desordem. Um governo do esquerdista iria transformar, segundo seu discurso, o Equador em “outra Cuba” e deflagrará uma “guerra civil no país”.


 


Últimos votos
No dia decisivo de campanha, o candidato do movimento civil Aliança País, Rafael Correa, pedia o voto dos indecisos para evitar que o Equador se torne “uma fazenda bananeira”. “Não queremos ser um povo de mendigos nem uma fazenda bananeira do herdeiro mais rico e convencido do país”, discurso no comício com o qual terminou sua campanha em Quito.


 


O ex-ministro da Economia também pediu aos indecisos para “consolidar” a vitória e ironizou um pedido similar feito por Noboa, de joelhos, quase chorando. “O Equador vencerá as carteiras corruptas que quiseram comprá-lo. Acharam que éramos mendigos e hoje estão de joelhos chorando lágrimas de sangue”, frisou.


 


Correa alertou, nos últimos dias, que a campanha de Noboa “e seus sócios da oligarquia” tentarão uma fraude. Para evitar que isso aconteça, convocou seus partidários para que acompanhem, inclusive, os caminhões militares que vão transportar os votos.


 


Cenário duro


Será em meio a essa troca de acusações que os equatorianos tentarão superar uma aguda crise de instabilidade que impediu, na última década, que os três presidentes eleitos concluíssem seu mandato, pressionados por revoltas populares que acabaram com sua destituição no Congresso.


 


Quem vencer neste domingo assume o cargo em 15 de janeiro, em substituição a Alfredo Palacio, no poder após substituir Lucio Gutiérrez, destituído em abril de 2005. Nos últimos dez anos, sete presidentes governaram o país – e as três destituições ocorreram após crises econômicas, políticas e mobilizações civis.