Antonio Abujamra confirma participação na Bienal da UEE-SP

Por Karina Padial


Antonio Abujamra à primeira vista parece ser daqueles típicos senhores de 70 anos rabugentos. De suspensório e sentado numa poltrona, ele recebeu os coordenadores da 3ª Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UEE-SP para conversa

Com língua afiada, ele não perdoa nada. Age como se estivesse em seu programa Provocações – que segundo ele está indo mal, com audiência lá embaixo – e nos provoca a toda hora. Provoca a juventude, fala contra o ar puro de Campos do Jordão, dizendo que lhe fará mal, e solta vários palavrões.


 


Abujamra diz que gosta de contar de suas experiências, levar aos jovens um conhecimento que eles não podem aprender na escola, na universidade. ''Quero falar sobre televisão, sobre viagens, sobre pessoas''.


 


E, por isso, sua proposta é apresentar aos estudantes uma síntese do seu monólogo A Voz do Provocador, no qual fala sobre a internacionalização da Amazônia, lê poemas de Clarice Lispector e dialoga com o público que pode enviar perguntas.


 


Sem formalidade


Abujamra é uma figura excêntrica e, no mínimo instigante. Deixou bem claro que quer ser provocado. E garantiu que não deixará a aula-espetáculo ser algo monótono. ''Se for preciso, mando todo mundo tomar no cu. Vocês deixam? Mas mesmo se não deixarem eu vou mandar!'', disse.


 


Com as formalidades dispensadas, Abujamra contou algumas histórias de Cláudio Santoro, músico, maestro e seu amigo pessoal, que dá nome ao auditório onde será realizada a apresentação em Campos do Jordão. Contou que na época em que estiveram na Alemanha Oriental, Santoro pegava um avião e ia até a Suíça só para almoçar a bordo. O motivo: ele não podia cruzar a fronteira com o dinheiro que ganhava na Alemanha e trocava em passagens.


 


Questionou também a afirmação de que as reservas de água no mundo estão se esgotando. ''Já falaram que tanta coisa estava acabando. Agora é água. E ainda dizem que o Brasil é o país que mais concentra água no planeta por causa do aqüífero Guarani. Quem sabe o que é aqüífero? Eu não sabia. E lençol freático, eu também não sabia. Querem dificultar tudo ao invés de deixarem as coisas mais didáticas'', acrescentou.


 


Confirmada sua presença e fechado o espetáculo, ele se despediu perguntando se os coordenadores sabiam de quem era as gravuras que estavam na parede de sua casa. Ninguém reconheceu, e ele disparou: ''Essa juventude não sabe nada''. Quando falou que era Helene Weigel, logo a coordenadora reconheceu como sendo a mulher de Brecht. Foi o suficiente para ele sentir uma pouco mais de afeição pelo grupo.


 


Encerrou a conversa assim: ''Agora já posso expulsá-los. Tchau!''.