PSDB usa grosseria para dizer que fará oposição com “civilidade”

A cúpula do PSDB reagiu de forma estridente ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva feito ontem durante encontro com representantes de 18 governos estaduais. No encontro, Lula usou um jogo de palavras interpretadas fora do contexto pela imp

Nareunião, o presidente disse também que “quem for civilizado e quiser fazer política civilizada terá espaço para uma boa conversa”.


 


A reação tucana ao discurso de Lula, porém, passou longe do conceito de civilidade. Os tucanos, liderados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, classificaram a declaração de Lula como “autoritária e digna de ditadores” e avisou que não dará trégua ao governo. “'Oposição é sempre. Só quem não gosta de democracia rejeita a oposição. A oposição é a essência da democracia”, afirmou o governador reeleito de Minas, Aécio Neves, após sair de reunião à noite na casa de FHC em São Paulo.


 


O presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, que também participou do encontro, como o ex-governador Geraldo Alckmin, disse que a opinião de Lula faz parte da linha autoritária do PT. 'Um país que não tem oposição é ditadura. Reconheço que tem tido no PT um viés autoritário, mas o PSDB nunca vai permitir que isso aconteça.'


 


Aécio ressaltou que a proposta de Lula não faz sentido e, amenizando o tom das críticas, disse não acreditar que Lula seja contra os princípios democráticos. 'Eu quero viver muitos anos ainda sem estar num país onde não exista oposição e não acredito que essa tenha sido a intenção do presidente porque é algo sem qualquer sentido.'


 


Os quatro tucanos ficaram reunidos ontem por duas horas. Na pauta de discussão, disseram ter tratado dos novos rumos do PSDB. Segundo Tasso, ficou sob responsabilidade de FHC organizar um primeiro congresso para discutir temas relevantes para o País.


 


Aécio reiterou que a oposição do PSDB não buscará exemplos na conduta petista quando estava fora do governo. 'A nossa oposição não irá revolver o passado lembrando aquela oposição que virava as costas ao País como o PT, que era contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e tudo oriundo do governo.'


 


Segundo Tasso, o PSDB será firme, enérgico, mas atuará 'dentro da civilidade'. O tucano disse que ainda não foi convidado por Lula para um encontro, mas que está aberto. 'Nunca nos negaremos a conversar. Mas deixando claro que as diferenças com esse governo são gigantescas, principalmente no campo ético.'


 


Aécio também usou um tom ameno quanto a futuras conversas com Lula, mas fez algumas cobranças. 'Temos diferenças profundas de compreensão em relação às questões brasileiras com o governo que aí está.'


 


Os tucanos também ironizaram o desabafo do presidente de que teria aprendido que, para governar, não se pode ter ao lado somente amigos, mas pessoas qualificadas. 'Ele aprendeu um pouco tarde, mas ainda não aplicou. O governo só tem amigos e muito incompetentes. Espero que ele use essa lição, porque até agora não usou', criticou Tasso.


 


Alckmin e FHC não falaram com a imprensa. O governador eleito de São Paulo, José Serra, não participou do encontro porque tinha reunião com o governador reeleito do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB).


 


Lula: ser oposição é fácil


 



Ao ser informado do tom grosseiro e belicoso dos tucanos, o presidente Lula disse nesta sexta-feira que quando é oposição tudo parece fácil. “Quando a gente é oposição, está tudo na ponta da língua. Mas quando a gente é governo, tem que fazer as coisas. E ao tentar fazer as coisas, encontra uma série de obstáculos”, disse.


 


O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, por sua vez, defendeu que, apesar do “ressentimento” provocado pela “derrota tão acachapante” nas eleições, a oposição deveria aceitar as tentativas de aproximação do presidente Lula.


 


Segundo ele, não está mais em jogo a disputa entre oposição e governo, e sim o “programa para que o Brasil tenha 5% de crescimento no ano que vem”.


 


Na opinião do ministro, esta agenda comum em prol do desenvolvimento será boa até para os opositores. “Isso interessa para todo mundo, inclusive para os prováveis candidatos da oposição [em 2010], porque eles vão poder navegar em um país com mais sustentabilidade, mais crescimento, portanto, com com mais capacidade de debate político.”


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez