PCdoB do Pará inicia processo de avaliação política

Moisés Alves, de Belém



O Partido Comunista do Brasil paraense iniciou nesta semana a avaliação da batalha eleitoral de 2006.

Reunido no dia 20 de novembro, o secretariado estadual aprovou o documento inicial que vai servir como base do debate com os dirigentes e os comitês municipais do partido no estado, culminado com a reunião do pleno marcada para dezembro, quando será aprovado o documento.


Momento importante na vida do PCdoB no Pará, a avaliação deve analisar os erros e aprimorar os acertos que a batalha mostrou, além de tirar o conjunto dos ensinamentos. Para isso, é preciso ter visão larga para superar os desafios e buscar construir um partido forte em um estado complexo em sua geopolítica. Acompanhe abaixo o documento inicial sobre as eleições no Pará.



Lula ganha com ampla vantagem e pode aprofundar mudança


  01 – Findo o processo eleitoral é hora do coletivo partidário avaliar os resultados, identificar os avanços e as falhas, retirar os ensinamentos visando as próximas batalhas.A eleição de 2006, foi uma batalha de dimensões históricas, onde se enfrentaram forças políticas e projetos antagônicos. Significou uma derrota do Imperialismo e das elites brasileiras, e seu resultado, influirá no futuro do Brasil, da América Latina e na luta dos povos, nos próximos anos.


 02 – Apesar do violento e sistemático ataque da oposição liberal-conservadora com apoio da mídia, as forças populares e democráticas saíram vitoriosas na batalha central com a reeleição de Lula.É fundamental que o governo Lula aproveite o saldo político advindo das eleições para mudar a política econômica e assegurar a criação de bases sólidas e duradouras para o desenvolvimento e inclusão social.


No Pará, vitória histórica do povo  


           03 – A eleição de Ana Júlia governadora representa um marco na história política do Estado. A Frente Muda Pará conquistou o Governo do Estado com 300 mil votos de diferença, pondo fim a doze anos de domínio absoluto do consórcio PSDB/PFL. De certa forma, podemos dizer que a vitória da esquerda é também uma vitória da política do  PC do B, que desde o primeiro momento bateu-se no sentido de constituir uma ampla frente, estabelecendo diálogos com o centro, em especial o PMDB, aliança que foi importante para o resultado eleitoral.
 
04 – O nosso Partido jogou importante papel na construção da candidatura de Ana Júlia e da aliança com o PMDB, nacionalmente e no Estado. Quando muitos não acreditavam na possibilidade de vitória, o PCdoB buscou influir para a construção de uma candidatura com densidade eleitoral e a construção de uma frente que unisse todas as forças de oposição ao Governo Tucano. Teve participação ativa em toda a campanha e deu destacada contribuição para se alcançar a vitória.


05 – A vitória de Ana Júlia, abre uma nova fase na luta do povo paraense, criando condições favoráveis para o avanço do processo de acumulação das forças populares.Cria possibilidades para se trilhar um novo projeto de desenvolvimento com inclusão social, que se contraponha ao centenário sistema extrativista-excludente-exportador, aplicado pelas elites paraenses, com a pilhagem de nossas riquezas naturais e exploração do povo trabalhador.Ao mesmo tempo, a eleição de Ana Júlia cria um novo ambiente político no Estado, com possibilidades de crescimento da esquerda e do PC do B, representando um novo momento para o nosso partido.E o PCdoB está credenciado a dar sua contribuição, apontando caminhos e participando da gestão pública estadual.


Analisar as causas da derrota do projeto específico do Partido


  06 – Embora na batalha majoritária tenhamos obtido grande êxito, o mesmo não ocorreu com o projeto partidário específico que colocava como centro a eleição de deputada federal e a reeleição de deputada estadual. Sofremos um revés. Não atingimos as metas e objetivos estabelecidos; não alcançamos o objetivo de eleição da deputada federal e perdemos o espaço na Assembléia Legislativa.


07 – A derrota eleitoral traz grave impacto para a ação partidária.No caso de deputado federal, perdemos um instrumento imprescindível de opinião política e articulação na sociedade, instrumento este, que, mesmo em pouco tempo revelou-se importante para a aproximação do partido com vastos setores sociais.No caso da perda do mandato estadual representa um retrocesso no processo eleitoral que vinha sendo construído a cada eleição.Perdemos um espaço importante na tribuna e ao mesmo tempo, um instrumento importante de relação social mais ampla, pois o espaço institucional parlamentar é o exercício da opinião do partido.Cabe uma análise criteriosa, objetiva e abrangente para identificar as causas da derrota, e ao mesmo tempo uma visão em perspectiva da ação partidária


Desafio de atualizar nossa linha política eleitoral


08 – Uma avaliação mais global afirma que nacionalmente o PCdoB obteve um resultado positivo, acumulando forças. Teve papel de destaque na construção da frente que elegeu Lula e em sua campanha. Embora não tenha alcançado a cláusula de barreira, elegeu um senador, e pela primeira vez na história terá uma bancada de dois senadores no Senado Federal alcançando nesta batalha 7,53% dos votos válidos; aumentou sua bancada federal para 13 deputados, alcançou os 2% de votos para federal em nove Estados.


 09 – Há que se considerar que a legislação eleitoral prejudicou os candidatos de opinião, restringindo o debate de idéias e a campanha de massas. Também a cláusula de barreira nos levou a buscar expressiva votação para deputados federais, o que em certa medida, prejudicou as campanhas estaduais, fenômeno sentido em muitos estados, a exemplo de São Paulo onde infelizmente não conseguimos eleger nenhum deputado estadual.


 10 – Um dos aspectos a ser debatido é a migração dos votos de opinião para a direita e ultra-esquerda em razão da questão ética, com mudança na base social de apoio a Lula, com o afastamento de parte da classe média (no primeiro turno) e uma maior aproximação com as classes populares. Isso restringiu o eleitorado preferencial da esquerda.O PT compensou a perda de espaço junto à este eleitorado através da capitalização da atividade em prefeituras e programas do governo federal.O Partido, que tinha nas capitais e no voto de opinião seu principal eleitorado, foi quem mais sofreu com essa mudança, particularmente os deputados estaduais, que tinham sua base principal nas capitais.


 11 – Nossa votação no Estado – 2006:






















































     Candidato


 Estado


  Belém


Ananindeua


Metropolitana


  Interior


Socorro Gomes


   53.963


  25.198


      6.216


    32.338


    20.625


Sandra Batista


   18.993


    8.055


      1.687


      9.977


      9.016


Paulo Fonteles


     9.321


    7.243


      1.449


 


 


Antonio Lima


     5.072


         32


 


 


 


Wanderley Milhom


     1.233


         12


 


 


 


Edílson


        708


         66


 


 


 


 


 




















 


  Estado


  Belém


  Ananindeua


Federal


             2.596


             784


            185


Estadual


             4.293


          1.115


            280



12 – Algumas constatações:
a – Para deputado federal: obtivemos 53.963 votos e 2.598 de legenda. Longe do 3° colocado em nossa coligação, que obteve mais de 71 mil votos.
b – A meta que definimos para federal (120 mil) estava muito acima da linha de corte, de 73 mil votos e muito longe da votação alcançada, de 53 mil votos . Ficamos a 20 mil votos do último eleito e a mais de 15 mil votos para eleger a quarta vaga de federal.
 c – A tese da segunda candidatura em Belém, para ampliar a votação da federal, não se confirmou. Nossa votação para federal em Belém foi de 25.198 mil votos, inferior à de 2002 (30.239), quando havia apenas um candidato a deputado estadual em Belém. Também em Ananindeua não houve crescimento. Em 2002 obtivemos neste município, 5.954 votos e agora 6 mil e poucos votos.
 d – Nossa votação cresceu no interior e estagnou em Belém ficando longe da meta estabelecida de alcançar 80 mil votos na capital. Votação só conseguida por Jader Barbalho nos seus mais de 300 mil votos. Embora tenhamos obtido a maior votação para federal em Belém, entre os candidatos de esquerda, não tivemos força para a necessária ampliação. Essa questão do voto do interior, inclusive, precisa ser mais estudada, já que o fenômeno de crescimento de votos no interior e redução nas capitais foi fenômeno nacional. Da votação nacional do Partido para federal, 60,4% vieram do interior e 39,6% das capitais, com um incremento de 79,7% da votação no interior.
 e – A tese do desgaste e redução de votos do PT e de seus candidatos a federal  não se confirmou totalmente. Ao contrário, a votação do PT para federal e estadual cresceu em relação a 2002 . O PT manteve seus 3 deputados federais e elegeu 6 estaduais. Os candidatos do PT capitalizaram eleitoralmente sua participação institucional.Compensaram o desgaste em Belém com o voto do interior.


O grande desafio de eleger deputado federal


13 – No caso da disputa para deputado federal,diferente de candidatos concorrentes, não construímos com antecedência a conquista do mandato. Ao contrário, definimos a candidatura já nas vésperas das eleições, contamos com pouco mais de seis meses de mandato e ainda houve a descontinuidade da presença da candidata por conta de tarefas nacionais.


14 –  Embora tenhamos realizado a maior campanha para deputado federal de nossa história, construído dezenas de dobradas com candidatos a deputado estadual, o esforço não foi suficiente para superar os concorrentes. É preciso que se diga que não foi por falta de trabalho, empenho e dedicação. Ao contrário, apesar dos exíguos recursos materiais, desenvolveu-se uma campanha dinâmica, ampla, com razoável participação do coletivo partidário. Em nossa coligação, nossa candidata teve o maior numero de programas de TV e rádio, programas e materiais impressos de qualidade. Sem dúvida no campo da esquerda, foi a candidata de maior visual na capital. Além do que, nosso material de propaganda tinha estreita vinculação com Lula e Ana Júlia.


 15 – Há que se considerar as dificuldades que temos tido para eleger deputado federal em coligações estreitas. Ao contrário, o resultado aponta para a necessidade de considerarmos outras alternativas.Vai ficando cada vez mais nítida a dificuldade de chapas em composição com o PT. Neste pleito, por exemplo, dois deputados federais, eleitos pelo PMDB, obtiveram menos votos que a nossa candidata.


 16 – Embora contássemos com uma candidata bem posicionada, conhecida e com prestígio, embora tenhamos aumentado nossa influência de massa, tivéssemos presença em instrumentos institucionais importantes, contamos com um Partido pouco estruturado, particularmente na capital, onde planejávamos obter mais de 70% de nossa votação. Nossa força organizada não foi suficiente para superar a força do PT. Não monitoramos os concorrentes, subestimamos sua força, e a ausência de presença organizada do partido em todo o Estado.


17 – Em princípio, os resultados demonstram que o Partido no Estado, na situação em que se encontrava, não tinha condições de atingir o objetivo definido de eleger uma deputada federal, na coligação que concorreu. Apesar do esforço desenvolvido, e da conquista da primeira suplência, ficamos longe deste objetivo.


No caso do deputado estadual, a superestimação de forças


18 – As metas de votos aprovadas para deputado estadual corresponderam a linha de corte. A votação de nossa candidata prioritária, no entanto, ficou longe da última vaga. Nossos votos para estadual, com duas candidaturas na capital, se dividiram, não ocorrendo a potencialização e ampliação esperada. Sandra em 2002 obteve no total, em torno de 26 mil votos, sendo 17 mil em Belém. Em 2006, a soma de votos de Sandra mais Paulo perfazem 29 mil votos, sendo que em Belém, 15 mil. Ou seja ocorreu o inverso
19 – Nossa votação no interior cresceu. Em 2002, Sandra obteve em torno de 6 mil votos no interior e agora subiu para 9 mil. Antonio Lima obteve votação expressiva: mais de 5 mil votos, o que o credencia para as próximas eleições. Wanderley obteve votação razoável (1.300 mil votos) e Edílson obteve uma votação aquém do almejado (700 votos).
Numa avaliação inicial podemos dizer que, no caso de deputado estadual houve uma superestimação de nossa força eleitoral, análise esta que deu origem a proposta de lançamento de dois candidatos a deputado estadual com atuação na região metropolitana. A tese do lançamento da segunda candidatura em Belém para ampliar a votação de federal também não se confirmou.