Uma nova esquerda emerge na Holanda

Por Paul Falzon, no L'Humanité*
Depois de ter sido a ponta-de-lança da oposição antiliberal à Constituição Européia, o SP (Partido Socialista) se impõe como a terceira força política na Holanda. Seu desempenho foi a única mudança real nas elei

O escore seria impensável dois anos atrás, para um partido que deve sua originalidade a um posicionamento claramente antiliberal, quando o consenso político holandês faz do mercado o regulador dominante da economia.



Um “Não” de esquerda e audível



“Enquanto a campanha para as eleições legislativas passadas, em 2003, estava focalizada na imigração e no Islã, este ano o debate tratou da previdência social, do emprego, da habitação, dos verdadeiros problemas de todos os dias, explica Hans van Heijningen, responsável pela campanha do SP nestas eleições.



“Ora, dá para sentir que as pessoas estão cansadas das políticas aplicadas há mais de vinte anos. Elas enxergam o liberalismo, não mais como uma oportunidade, mas como uma ameaça para a economia”, agrega.



Origens no maoísmo



Por muito tempo desconhecido do grande público, o SP (originário historicamente do movimento maoísta, mas que federou na última década a maior parte das correntes de inspiração marxista, assim como militantes sociais e sindicais) explodiu na cena midiática durante o referendo constitucional europeu de junho de 2005.



Diante do consenso dos grandes partidos (democratas-cristãos, liberais, trabalhistas) e aos “soberanistas”, o Partido Socialista soube criar um “Não” de esquerda audível.
O resultado foi uma mobilização sem precedentes em torno de temáticas novas para o país: a Europa social, a necessidade de uma democratização da UE (União Européia) e uma rejeição massiva da Constituição (61% pelo “Não”), que os observadores creditaram ao SP.



Um ano e meio depois desse êxito, os socialistas continuam a fazer da Europa o seu tema preferido. Enquanto os principais partidos evitaram tratar do assunto Constituição nas suas campanhas, o SP propôs o engajamento contra os projetos de retomada espoçados pela Alemanha, que presidirá a UE no primeiro semestre de 2007.



“Os eleitos pelos trabalhistas e democratas-cristãos já jotaram em uma proposta (no Parlamento Europeu de Strasburgo), solicitando que, apesar de tudo, que a Constituição Européia seja adotada antes de 2009”, denuncia Harry van Bommer, responsável do SP para a UE. “Depois do referendo, o apoio à Euroconstituição diminuiu ainda mais na população. Os pertidos não devem ignorar esta realidade”, comenta. Para embasar sua posição, o SP divulgou uma pesquisa indicando que 64% dos eleitores holandeses votariam “Nâo”, caso o tratado fosse novamente submetido às urnas.



Disposto a uma aliança, com garantias



A atitude do SP deixou claramente em maus lençóis os outros partidos, que mal acabavam de se recompor do voto de desconfiança na primavera de 2005. Sobretudo os trabalhistas: por muito tempo sem contar com concorrentes à esquerda, exceto o pequeno partido ecológico Groenlinks, o PVDA assistiu à maioria dos seus simpatizantes votando com o SP no dia do referendo constitucional.



As eleições legislativas confirmaram que uma parte do eleitorado trabalhista se voltou para o SP: aquela parte que mais sofreu com as reformas da direita visando diminuir as indenizações por demissão e os gastos sociais, constatando a ausência de propostas alternativas no proigrama do PVDA.



Com tradições antimilitaristas, o SP também se opôs, ao contrário dos brabalistas, ao engajamento da Holanda no Iraque. O tema entrou na ordem do dia depois que um diário revelou que soldados holandeses praticaram atos de tortura em iraquianos.
Apesar destas divergências, o SP se declara disposto a formar uma coalizão com o PVDA, caso a esquerda obtenha maioria. Os socialistas, porém, não se dispõe a aceitar essa “aliança social” a qualquer preço. “Precisaremos ter certeza de que teremos os meios de conduzir uma política diferente”, afirma Hans van Heijningen. As conversações terão início amanhã.


 


* Fonte: http://www.humanite.fr; os dados sobre a apuração foram atualizados pelo Vermelho; os democratas-cristãos perderam no total três cadeiras, elegendo 41 deputados; os trabalhistas despencaram dez posições, passanso de 42 para 32 lugares no Parlamento; os liberais, antes a terceira força, elegeram 22 deputados, seis a menos que em 2006; as 29 cadeiras restantes ficaram pulverizadas por forças que vão de um direitista partido anti-islâmico a um que tem como plataforma a proteção dos animais