Instituições financeiras impedem desenvolvimento do Haiti

A dívida, o livre comércio, a pobreza e as perspectivas de desenvolvimento latino-americano. Todos esses temas foram debatidos por organizações sociais de vários países da América Latina, entre 26 de outubro e 2 de novembro, num encontro realizado em Port

Convocado pela Campanha Jubileu Sul e pela Plataforma de Ação para um Desenvolvimento Alternativo no Haiti (Papda), o encontro contou com a participação de representantes do governo haitiano. O ministro de Planejamento, Jean Max Bellerive, disse que quem exerce as funções do governo são as agências multilaterais, como o Banco Mundial (BM), e a maior parte dos empréstimos dessas instituições não vai para o Estado, mas para organizações não-governamentais (ONGs). Diante disso, revela Rodrigo Ávila, economista e integrante do Jubileu Sul, “propus ao ministro a realização de uma auditoria na dívida haitiana com a participação da sociedade, e ele concordou”.


Em um texto final, chamado Declaração de Porto Príncipe, assinado por todas as entidades que participaram do encontro, as instituições financeiras multilaterais (IFIs), como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), são consideradas responsáveis pela destruição da economia haitiana. O documento reforça que o Quadro de Cooperação Interina (CCI), conjunto de propostas para a economia haitiana elaborado pelo BM e pelos chamados “doadores internacionais”, vai contra o direito do povo haitiano de determinar seu próprio desenvolvimento, pois suas políticas de liberalização comercial e privatizações provocam outras modalidades de endividamento.



Falsa integração
A declaração denuncia que o projeto da Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sulamericana (IIRSA), criada pelas IFIs , não é uma alternativa de integração. “Esta iniciativa responde à necessidade de criar uma base física para que as corporações possam expandir suas atividades e controlar recursos estratégicos como as fontes de energia, água e biodiversidade”, afirma o texto.



“As políticas aplicadas ao Haiti são desenhadas e aplicadas por essas instituições. O BM faz um empréstimo ao Haiti se forem aplicadas as políticas neoliberais como a instalação de zonas francas”, afirma Fabrina Furtado, assessora política sobre instituições financeiras multilaterais da Rede Brasil, que participou do encontro.



Segundo dados da Rede Brasil, a dívida do Haiti chegava a 1,35 bilhão de dólares (sendo 556 milhões do BID), em 2004. A organização destaca que o montante dos pagamentos reclamados duplicou entre 1996 e 2003, sendo que 22% do orçamento governamental para 2004 e 2005 foi destinado ao pagamento dos serviços da dívida.