Daspu, a grife carioca feita por prostitutas, chega a Paris

É abrindo espaços no interior de um polígono formado pelos Jardins das Tulherias, Museu do Louvre, Ópera Garnier e Palácio Real, uma das regiões mais tradicionais, ricas e badaladas de Paris, que a grife carioca Daspu planeja conquistar a França.

Criada há cerca de um ano pela organização não-governamental Davida, que defende o reconhecimento da prostituição como atividade profissional, a marca, ironicamente inspirada na luxuosa Daslu, de São Paulo, negocia com algumas das mais tradicionais etiquetas e lojas francesas. A Galeria Lafayette, um símbolo de Paris, está entre as lojas que francesas que analisam vender roupas da Daspu a partir de 2007.


 


O primeiro encontro entre o submundo carioca e a elite parisiense ocorreu entre os dias 4 e 7 de setembro, na temporada de desfiles de prêt-à-porter. No evento, blusas, camisetas, vestidos de cortes sensuais e calças corsário foram apresentadas a estilistas e empresas européias a convite de Hervé Huchet, presidente do Salão de Paris. Aos franceses, o apelo da beleza unido à idéia de justiça social é um charme irresistível.


 


Conquistas
Peças idealizadas pela estilista brasileira Rafaela Monteiro já foram vendidas em sete países. A relação com as grifes francesas foi estabelecida por meio da ModaFusion, organização que faz contatos no mundo da moda. “A Daspu tem uma mensagem clara, que envolve a auto-estima das prostitutas do Rio e a luta pelos seus direitos. Os franceses gostam muito do que vem sendo feito”, diz Nadine Gonzalez, de 31 anos, idealizadora da ModaFusion.


 


Em Paris, as principais parcerias estão em fase de fechamento. Fifi Chachnil, estilista de moda íntima com butiques nos endereços mais chiques da cidade, apoiou os primeiros passos da marca brasileira na Europa. Famosa pela criação de figurinos para o cinema e para a publicidade, Fifi vestiu as finalistas do Miss Europa 2006. Há cinco dias, foi apresentada como a 'madrinha' da Daspu em Paris pelo jornal Le Monde.


 


A criação de uma linha de roupa íntima feminina unindo as duas marcas, inspirada nos anos 60, vem sendo planejada e deve vir a público no Fashion Rio, em janeiro, segundo Nadine. A porta-voz da marca francesa confirma o início das negociações, mas ressalva que há termos a serem acertados.


 


Mais renome
No segundo andar de uma butique na esquina das Ruas Saint-Honoré e 29 Juillet, em Paris, a marca Daspu também já é conhecida. No endereço funciona a Colette, badalada 'loja-conceito' da moda na França. Lá, as camisetas e os biquínis cariocas têm causado frisson.


 


Representantes de vendas da Colette confirmaram ontem que peças da Daspu ficaram em exposição para análise de profissionais da moda parisiense. Mas a Assessoria de Imprensa da loja disse que as roupas da loja brasileira ainda não estão à venda e não quis dar adiantar se Daspu se juntará a suas etiquetas alternativas, como Revolver e Tenth Division.


 


A coordenadora da Daspu, Gabriela Leite, disse ontem no Rio já ter sido procurada pela Galeria Lafayette, que deseja comprar uma grande quantidade de mercadoria assim que a coleção for lançada. Ela disse que ainda existem entraves burocráticos para a marca ser exportada, mas espera poder resolvê-los até o início de 2007. 'Vamos ter duas coleções: uma voltada para o mercado interno e outra para exportação. Os estrangeiros gostam muito do fio-dental, que só agora começa a ser mais aceito por aqui', disse.


 


Fonte: O Estado de S.Paulo