Amorim pede “paz no Mercosul” ao  Uruguai e Argentina

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim afirmou em Montevidéu, na manhã desta quinta-feira (23), que é necessário existir a “paz entre os sócios do Mercosul”. O chanceler se negou a comentar as afirmações do presidente da Argentina, Ne

“Não vou fazer comentários sobre as frases de um chefe de Estado. Nosso papel é ajudar e não agravar os problemas, e nossos comentários são inúteis neste caso”, respondeu Amorim ao ser questionado pelos jornalistas no encerramento, em Montevidéu, de um ato pelo 20º aniversário de lançamento da Rodada Uruguai do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), entidade que precedeu a Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas Amorim salientou que “precisamos de paz entre os povos e paz entre os sócios do Mercosul”.



Declarações



Numa escalada da crise entre Argentina e Uruguai, o presidente argentino Néstor Kirchner classificou o colega uruguaio, Tabaré Vázquez, de “intransigente”. Os dois, segundo seus assessores, não se falam há vários dias, desde que chegaram a um impasse pela construção de uma fábrica de celulose, a finlandesa Botnia, na localidade uruguaia de Fray Bentos, às margens do rio Uruguai, que banha Argentina e Uruguai.



“Nós buscamos todos os caminhos possíveis, mas eles (uruguaios) romperam os acordos que tínhamos (de proteção) do rio Uruguai. Mas esse presidente aqui (ele mesmo) vai continuar, por mais forte que sejam os interesses da Botnia e outras coisas que podem estar por trás”, disse Kirchner, diante das câmeras de televisão.



Banco Mundial



As palavras do presidente argentino foram ditas um dia depois que o Banco Mundial (Bird) aprovou um crédito à Botnia de US$ 170 milhões. Os recursos seriam suficientes para a conclusão das obras da fábrica, prevista para ser inaugurada no ano que vem. O Bird aprovou ainda um seguro “de risco político” por até US$ 350 milhões, como informou à imprensa argentina. Para Kirchner, a decisão do Banco Mundial era esperada porque o organismo não costuma olhar, insinuou, para a América Latina.



A aprovação do crédito foi decidida por 23 votos a um (da própria Argentina) e incluiu, como destacaram os jornais argentinos Clarin e La Nación, os votos do Brasil, México, Japão, Canadá, Rússia, China e das delegações árabes e africanas, entre outros. Os argumentos argentinos de que a fábrica poluirá o meio ambiente não convenceram os países votantes. Nem mesmo a carta oficial, que teria sido assinada por Kirchner, pedindo que o crédito não fosse liberado.



O Ministério das Relações Exteriores da Argentina divulgou ainda, nesta quarta-feira, nota oficial condenando os créditos do Bird à Botnia.



“A decisão não ajuda, num momento de esforço diplomático e quando o governo tenta tranqüilizar os moradores de Gualeguaychú”, afirmou a nota, referindo-se à cidade argentina em frente a Fray Bentos.



Desenvolvimento econômico



O governo do presidente Tabaré Vázquez argumenta que a fábrica será “decisiva” para o “desenvolvimento da economia do país”, como afirmaram assessores governamentais. Num documento de oito parágrafos, a Corporação Financeira Internacional (CIF), que libera os recursos do Bird, informou que o projeto cumpre todas as exigências e não danificará o ecossistema. No seu discurso, o presidente Kirchner fez um apelo para que os manifestantes argentinos suspendam o bloqueio na principal rodovia – a 136 – de acesso ao Uruguai.



“Não estou de acordo, porque temos que evitar provocações”, disse. O protesto – que chegou a durar mais de 90 dias seguidos no último verão – voltou a ser realizado há cerca de um mês.



Em Montevidéu, as palavras de Kirchner e a decisão do Bird tiveram fortes repercussões. O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Reinaldo Gargano, disse que Tabaré Vázquez não podia ser chamado de “intransigente”, já que tinha buscado todas as formas de diálogo com a Argentina. Quando perguntado por jornalistas uruguaios se o país poderia retirar seu embaixador de Buenos Aires, ele foi conciliador, dizendo que tratam-se de repúblicas irmãs.



O mesmo repetiu o ministro da Agricultura, José Mujica:



“O que vocês querem? Guerra? Não, não. A amizade dos uruguaios e dos argentinos está acima destas coisas”, tentou minimizar, ao falar com jornalistas uruguaios. O ministro da Economia, Danilo Astori, reconheceu que a situação é “preocupante” e disse que espera que “termine logo” o bloqueio na principal estrada que liga os dois países. “Esse bloqueio no trânsito prejudica nossa economia”, afirmou.



Nesta quarta-feira, duas das três empresas de ônibus que ligam as capitais – Montevidéu e Buenos Aires – anunciaram que suspendiam as viagens, já que registram perdas com a manifestação realizada contra a fábrica de papel e que impede a passagem do trânsito.



Carnaval



A queda de braço pelas “papeleras” já se arrasta há meses. E a pressão dos protestos dos moradores de Gualeguaychú levou a segunda fábrica de celulose, a espanhola ENCE, que ali seria instalada, a procurar outro endereço. A cidade de Gualeguaychú é conhecida principalmente pelo carnaval que realiza. Seus moradores argumentam que a fábrica “poluirá” o rio e afastará turistas do lugar.



A Argentina já tinha sido derrotada no Tribunal Internacional de Haia, que deu razão ao Uruguai e não viu problemas na construção das fábricas.



“É hora de o governo perceber que não acertou em nenhuma das estratégias com as papeleras”, escreveu o analista político do jornal La Nación [conservador], Joaquín Morales Solá.



Fonte: http://correiodobrasil.cidadeinternet.com.br