Morte de Robert Altman esvazia cinema de arte

O diretor, roteirista e produtor Robert Altman morreu aos 81 anos, em um hospital de Los Angeles (EUA), conforme anunciou sua produtora nesta terça-feira (21/11). A causa da morte não foi divulgada. Genial e inovador, o cineasta revolucionou Hollywoo

Altman começou sua carreira como documentarista e diretor de filmes institucionais e publicitários. Sua estréia no cinema aconteceu em 1957, com Os Delinqüentes. Tinha 30 anos na época. Em seguida, mudou-se para Hollywood, onde teve sua grande chance com M.A.S.H.. Mas o cineasta foi longe de ser a primeira opção para dirigir o filme – e só conseguiu o trabalho depois de o roteiro ter sido rejeitado por uma dúzia de outros diretores.


 


Seus diálogos irreverentes e improvisados pegaram os espectadores de surpresa e inauguraram uma nova era do cinema. Altman mudou o vocabulário do cinema americano com M.A.S.H. – uma comédia satírica de humor negro sobre uma unidade médica na Guerra da Coréia. O filme foi lançado em 1970 e imediatamente cristalizou a ira que muitos americanos sentiam em relação aos políticos que os atolaram na Guerra do Vietnã.


 


Outsider e independente


Outros filmes de Altman foram reverenciados, incluindo Nashville e o faroeste Quando os Homens são Homens, vistos como os filmes dos melhores nos anos 70. Ele também teve sua dose de fracassos, incluindo o desastre financeiro Popeye.


 


Muitos de seus trabalhos se caracterizaram pelo comentário social direto. O diretor, nascido em Kansas City, Missouri, sempre foi visto como outsider e independente em Hollywood, onde o lucro tem prioridade sobre a política. Ainda assim, recebeu cinco indicações ao Oscar de melhor diretor – por M.A.S.H., Nashville, O Jogador, Short Cuts – Cenas da Vida e Assassinato em Gosford Park. Nunca recebeu o prêmio.


 


Oscar


Por Nashville e Gosford Park, dividiu indicações ao Oscar de melhor filme. No início deste ano, uma justiça: talvez para compensar o fato de ter sido preterido tantas vezes, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas lhe deu um Oscar pelo conjunto de sua obra. O presidente da Academia, Sid Ganis, ao anunciar o prêmio a Altman, descreveu-o como um homem inovador, que “redefiniu os gêneros, inventou novos modos de utilizar o meio e revitalizou os antigos”


 


Na cerimônia, em março, Altman revelou ter passado por um transplante de coração dez anos atrás, mas que guardou segredo do fato para poder continuar a trabalhar. “Nunca tive de dirigir um filme que eu não tivesse escolhido ou desenvolvido”, acrescentou. “Meu amor pelo cinema me deu uma entrada ao mundo e à condição humana”


 


Mais de 80 filmes


Neste ano, o cineasta lançou o longa A Última Noite, com Meryl Streep, que foi exibido recentemente na 30ª Mostra de Cinema de São Paulo. Foi o ponto final de sua carreira, que registra mais de 80 filmes como diretor, 39 como produtor e 37 como roteirista.


 


“A única coisa que lamento é que um dia verei a luz no fim do túnel e não poderei continuar fazendo cinema”, disse numa de suas últimas entrevistas. Esse dia foi ontem, 20 de novembro de 2006.