Éric Meireles lança em SP “Fragmentos de Poesia Marginal”

O poeta mineiro e comunista Éric Meireles de Andrade lança nesta quinta-feira (23/11) Fragmentos de Poesia Marginal. O evento ocorre no Bardo Batata, em São Paulo (SP), a partir das 19 horas. Trata-se do primeiro livro de poemas do autor – um min

Quem prefacia a obra é o historiador Célio Turino. Em sua opinião, “a poesia marginal de Éric expressa a lucidez da revolta, 'rompe a parede dos tempos', ouve seu amigo chorar 'Benito', volta à 'Minas que tardia', reencontra sua mãe, sonha com 'chuvas chorosas' e nelas busca a paz, bondosas chuvas para quem segura 'o mar nas montanhas'”.


 


Fragmentos de Poesia Marginal apresenta 82 poemas. A influência do modernista Mário de Andrade na obra pode ser notada, por exemplo, em Morte aos Elefantes Brancos – uma aparente versão da célebre Ode ao Burguês. Já Confrários, mais longo, exalta as características dos “amigos que escrevem poesia”. O Vermelho os reproduz abaixo.


 


Ler os poemas de Éric compensa, na opinião de Célio Turino. “Boa leitura a todas e a todos, nestes fragmentos há poesia de primeira qualidade, de um Brasil de primeira qualidade, marginal e que começa a florir.”


 



Morte aos Elefantes Brancos


Morte aos Elefantes Brancos!
Adornados de memorandos numerados
E pedras de ofícios.


 


Sepultem seu gosto burocrático
De sua carne gorda e corrupta
E sua medíocre tromba de domínio.


 


Morte aos elefantes brancos!
E morte aos seus donos de terno e gravata
(magnatas em potes de classe dominante
E moradores em castelos de marfim).


 


Não titubeiem, fuzilem seus passos de deboche
E suas patas de insensibilidade sádica,
Que castigam um povo com orçamentos frios,
E com filas, é com papéis, e com senhas, e com salas de espera.


 


Morte aos Elefantes brancos!
Ódio aos seus pesos que sufocam
Aos seus dentes que maltratam
E suas bostas que tripudiam!


 


Sim, morte aos elefantes brancos!


 



Confrários
Meus amigos escrevem poesias em pé.
Levantam humores rápidos,
Sentimentos dos mais rápidos
Aos mais meticulosos.


 


Meus amigos vivem poesias
Todos lêem poesias de outros poetas,
Dos mais requintados, exigentes,
Aos mais podres e imediatos.


 


Meus amigos escrevem poesias
E não se perdem na sinceridade,
Preocupam-se em não serem medíocres
E nem poeiras apodrecidas de livros.


 


Meus amigos escrevem poesias
E não poemas de pré-vestibulares,
Abanam a história dos homens
E se refrescam em frestas de peludas mulheres.


 


Meus amigos escrevem poesias,
Contemporâneas como são as revoluções.
Destilam-se na sensibilidade da luta,
E se abraçam, esperando o fim do dia.


 


Meus amigos escrevem poesias.
Chico César torce pelo Botafogo,
Guiberto Genestra bebe tertúlias,
A Mariana, que é safada, reza para Deus,
E eu sou parte de todos.


 


Por esta liberdade de serem poetas,
Escrever é o fuzil singelo
De mandar ao expurgo de Antártida
Os medíocres “escritores” de escrivaninha.
E para o inferno de ilhas sem águas,
Os lambe-sacos que escrevem
Para o nada
(E de anáguas)…