Chefe do Hezbolá exige a demissão do governo

A crise política no Líbano ganhou novos contornos neste domingo, com a exigência feita pelo líder do Hezbolá, em discurso transmitido pela TV Al Manara, que pertence ao Partido, de demissão do governo e formação de um governo de coalizão nacional.

O presidente do Hezbolá pediu aos seus militantes e seguidores que se mantenham prontos para se necessário realizar manifestações de rua a fim de acelerar a queda do governo. ''Ha duas soluções para sair da crise – disse o dirigente do partido que liderou a vitoriosa resistência contra a agressão israelense em julho e agosto últimos – ou a formação de um governo de coalizão, o qual participem todas as forcas políticas, ou a realização antecipada de eleições . Continua possível a opção de formar um governo de coalizão''.


 


 


Para o dirigente da formação islâmica, o governo caiu no descrédito e perdeu a confiança, porque ele ''corresponde às decisões e aos desideratos da Administração norte-americana. As manifestações que realizaremos têm por objetivo obter através dos nossos próprios meios a queda do governo ilegítimo e inconstitucional, deste governo que é  o governo do embaixador Feltman'', referindo-se ao representante da Casa Branca no país.


 


Manifestações não têm prazo para acabar


 


Ao mesmo tempo que anunciou a disposição de seu partido para convocar manifestações, Nasrrallah pediu aos seus militantes e seguidores que não atentem contra a segurança nem a estabilidade do pais, pediu que evitassem confrontos com o exercito e todas as confissões religiosas. A decisão de manter a calma e imprimir um caráter ''pacifico e civilizado'' às manifestações não deve ser confundida, segundo o líder xiita, com falta de determinação.


 


''Estamos dispostos a nos manifestar durante dois dias, duas semanas ou mais, se for necessário''. E prometeu que as etapas seguintes serão ''as greves e a desobediência civil'', passos que devem ser acertados com as demais forças políticas aliadas que fazem oposição ao governo.


 


Hassan Nasrallah aproveitou a oportunidade para desmentir as acusações de que seu Partido  violará os  acordos de Taef — que puseram fim à guerra civil — e que pretende tomar o poder sozinho e construir um Estado xiita que seria imposto a todos os libaneses. ''Tais acusações são risíveis e estúpidas'', explicando em seguida que nenhum partido, mesmo se quisesse, poderia proceder dessa maneira no Líbano.


 


 


 


O líder do Hezbolá classificou de ''a acusação mais idiota'', a que foi lançada pelo governo estadunidense de que seu partido pretende lançar o Líbano na confrontação política e religiosa para ajudar o Irã na crise que está enfrentando com os EUA sobre a questão nuclear.


 


 


O discurso de Nasrallah teve grande acolhida entre as forcas oposicionistas. O Partido Comunista assegurou a participação dos seus militantes e adeptos nas manifestações e agregou que ''este é o caminho para avançar o sentido da reestruturação do regime político do Líbano, com caráter democrático''.


 


 


Por sua vez a Corrente Patriótica Livre, do general nacionalista Michel Aoun, anunciou que a agremiação está pronta para mobilizar 70 mil pessoas para se somar às manifestações. Nesta segunda-feira realiza-se na residência do ex-ministro Abdel Rahim Mrad, tido como pró-Síria,uma reunião de todos os partidos que integram a aliança oposicionista para tomar as medidas necessárias ao desencadeamento das manifestações.


 


 


Em plena defensiva,mas insensível ao fato de que o governo se esgotou, o líder do Bloco Parlamentar Futuro, Saad Hariri, filho do ex-primeiro ministro Rafic Hariri e que desempenha no Líbano o papel de porta-voz dos interesses norte-americanos, declarou que para criar um governo de coalizão ''é necessário ter vontade de resolver os problemas, não de cria-los''. E negou que o governo vá cair.


 


 


Na quinta-feira passada, Hariri teve um encontro com Feltman, o embaixador dos Estados Unidos, e lhe assegurou o mesmo. Este, por seu turno, reiterou o apoio da Casa Branca ao governo libanês. Em meio a esse tenso ambiente, encerrou-se o Encontro Internacional de Apoio à Resistência , que reuniu mais de 400 participantes de todo o mundo, entre partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, organizações de solidariedade e movimentos pela paz. O Encontro aprovou uma Declaração cujo titulo é revelador do caráter combativo e antiimperialista dos debates: ''Pelo direito dos Povos à Resistência''.


 


As delegações internacionais visitaram no sábado e no domingo os bairros do sul de Beirute e as cidades e aldeias do sul do Líbano bombardeadas pela aviação israelense na guerra de agressão de julho e agosto últimos.


 



José Reinaldo Carvalho,
De Beirute