Franklin Martins vê acertos de Lula na montagem do novo governo

O jornalista Franklin Martins publicou em seu blog no portal iG um artigo no qual avalia como positivos os passos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está dando atualmente para a montagem da base que irá sustentar seu segundo mandato.


Leia abaixo o texto 
 


O ritual é muito importante na política. Ontem, parece que finalmente Lula deu-se conta disso. E fez três salamaleques muito competentes, demonstrando que está mais à vontade numa arte que nunca foi o seu forte. Primeiro, ele fez questão de iniciar a temporada de formação do seu novo governo com uma longa conversa com a executiva nacional do PT. De acordo com os participantes, não foram discutidos nem nomes nem cargos, mas a concepção de governo de coalizão e o conteúdo do seu programa de metas. O PT e o PMDB serão os dois pilares desse projeto. 


 



O segundo gesto importante de Lula foi o convite feito ao presidente do PMDB, Michel Temer, para uma reunião no Palácio do Planalto na próxima quarta-feira. Temer andava magoado, e com razão, com o fato de estar sendo escanteado nas negociações para a entrada do partido no governo. A pedido de Lula, o ministro Tarso Genro telefonou para Temer, dizendo que o presidente da República quer se reunir com ele e com a direção do PMDB para apresentar formalmente a proposta de um governo de coalizão.


 


O terceiro gesto, que praticamente passou despercebido pela grande imprensa, foi o convite ao presidente do PDT, Carlos Lupi, para uma reunião formal no Palácio do Planalto na segunda-feira, 27 de novembro. O PDT fez parte da base governista no início do primeiro mandato de Lula, mas depois se afastou. Terminou na oposição. Nas eleições, lançou a candidatura de Cristovam Buarque e, no segundo turno, não apoiou formalmente nenhum dos dois candidatos, embora, segundo as pesquisas, os eleitores de Cristovam tenham votado maciçamente em Lula. No encontro com Lupi, pretende convidar o PDT a integrar o governo de coalizão. 


 


Esses três gestos não são fortuitos, nem se devem ao acaso. Ao começar a rodada de conversas pelo PT, Lula quis deixar claro que, apesar de todos os problemas e dificuldades recentes do partido, ele é a plataforma de largada do seu governo. Certamente o PT não terá no segundo mandato o mesmo número de ministérios do primeiro, mas seguirá sendo a espinha dorsal do governo. Tudo indica que controlará os ministérios mais importantes da área econômica, da cozinha do palácio e da área social. Cederá espaço, mas não irá para o canto. Esse foi o recado básico dado ontem por Lula.


 


O convite a Temer tem o mérito de deixar claro que Lula não pretende comer o PMDB pelas beiradas, como mingau quente. Trata-se de uma mudança da água para o vinho em relação ao primeiro mandato. O que o Palácio do Planalto busca agora é uma aliança institucional com todo o partido, e não com essa ou aquela ala.


 


Embora todos saibam que haverá defecções entre os caciques pemedebistas, Lula quer reduzi-las ao mínimo. Caberá ao PMDB administrar suas diferenças internas e construir sua unidade, no grau em que ela for possível.  


 


O gesto em relação ao PDT simboliza a preocupação de Lula em relançar pontes em direção aos setores da esquerda que se afastaram do governo. O PDT é um dos sete partidos que ultrapassou a cláusula de barreira. Com 24 deputados e 5 senadores, tem um peso parlamentar maior do que o PL ou o PTB. Além disso, por sua trajetória e programa, tem mais a ver com Lula do que os partidos médios de perfil mais conservador. No Palácio do Planalto, a avaliação é de que indispensável reconstruir os laços com essa área mais à esquerda, na qual também se situa o PV e personalidades do PSOL.


 


Isso posto, fica mais claro o cronograma de montagem do novo governo. Até o fim do mês, Lula pretende encerrar a primeira rodada de negociações, centrada na proposta do governo de coalizão e na discussão de seu programa. Encerrada essa etapa preliminar, em dezembro o presidente passaria à discussão de nomes e ministérios com cada partido. O mais provável é que o processo com um todo só venha a ser concluído pouco antes do Natal.


 


Fonte: Franklin Martins