Assassino de sindicalista Dezinho pega 29 anos de prisão

O Tribunal de Justiça do Pará condenou na noite de segunda-feira (13/11), por votação unânime dos jurados, Wellington de Jesus Silva pelo crime de homicídio triplamente qualificado, com pena de reclusão de 29 anos em regime fechado. Ele foi acusado de ass

A viúva do sindicalista, Maria Joel Dias da Costa, também comemorou. “Essa não é uma vitória minha, mas da sociedade, lutamos pelo fim da violência na terra e por dignidade aos trabalhadores”. A família do pistoleiro também esteve no julgamento, mas preferiu não comentar o resultado. “Precisamos agora levar para o júri os dois intermediários e o mandante do crime”, solicitava Maria Joel.


 


O Tribunal do Júri condenou Wellington em seis quesitos, entre eles, recebimento de recompensa pelo crime. Antes do veredicto, os jurados permaneceram cerca de 20 minutos dentro da sala secreta. Na leitura da sentença, o juiz da 2ª Vara Penal, Raimundo Moisés Alves Flexa, ressaltou que o acusado não mostrou arrependimento pelo crime. Wellington surpreendeu a promotoria ao negar que tenha disparado a arma.


 


No debate final, a defesa argumentou que a pólvora combusta encontrada na mão do acusado não serviria como prova para incriminá-lo. “A defesa não conseguiu explicar a pólvora combusta na mão esquerda dele. Aquilo comprova a participação. Aliás, a defesa estava mais preocupada em fazer um trabalho prévio para o mandante do crime do que para o réu”, afirmou Aton Fon Filho, advogado da Rede Social de Justiça dos Direitos Humanos.


 


Julgamento
Wellington alegou que só havia confessado o crime na fase do inquérito e em juízo porque foi espancado pelos policiais. “Eles queriam que eu confessasse um crime que eu não cometi”, afirmou. Embora tenha sido encontrado ao lado da arma na cena do crime, Silva relatou que foi procurar Dezinho por ordem de Igor Ismar Mariano Nunes, mas não sabe quem atirou. Nunes e outro suposto intermediário, Rogério de Oliveira Dias, estão foragidos. Já Domício de Souza, também envolvido no caso, está na Penitenciária Mariano Antunes, em Marabá.


 


Assassino foi até a residência do sindicalista – Para o promotor Edson Souza, a manobra da defesa é uma forma de abrandar a participação de quem ordenou o crime. Segundo ele, há um consórcio para matar lideranças do campo, e os pistoleiros dão depoimentos fragilizados para evitar que se chegue ao mandante que, no caso, seria o fazendeiro José Décio Barroso Nunes, o Delsão. No depoimento da viúva do sindicalista assassinado, Maria Joel Dias da Costa, o Tribunal do Júri estava cheio.


 


Depois de declarar que o acusado era o assassino de Dezinho, a viúva pediu que Silva fosse retirado do Tribunal do Júri, por se sentir constrangida na presença dele. O juiz da 2ª Vara Penal, Raimundo Moisés Alves Flexa, atendeu a solicitação. Maria Joel, que hoje preside o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, contou que nunca tinha visto o acusado, mas na noite do crime ele foi procurar Dezinho em casa, alegando que precisava de ajuda para encaminhar uma pensão para a avó.


 


Apesar de saber que o marido vivia recebendo ameaças, ela não estranhou o pedido. “Era de rotina que os trabalhadores procurassem o Dezinho pedindo apoio”, contou a viúva. Depois de meia hora de espera, o acusado resolveu sair para comprar um cigarro, e ela o acompanhou até a porta. Neste momento, o sindicalista estava chegando e Maria Joel deixou os dois sozinhos na frente de casa. “Minutos depois, ouvi três disparos. Corri para a porta e vi os dois lutando, já caindo num buraco”. A vítima caiu por cima do acusado, impedindo a fuga. Os advogados de defesa do acusado, Américo Leal e Eduardo Imbiriba, insistiram no fato de que ela não viu o disparo ser efetuado.


 


Também foi ouvido como testemunha de acusação o sindicalista José Soares de Brito, que na época do crime era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, onde Dezinho exercia o cargo de secretário de Política Agrária. Brito afirmou que, dez dias antes de ser assassinado, o colega havia descoberto que várias propriedades da região tinham título falso, o que desagradou os fazendeiros.


 


Medo
Uma das principais testemunhas, Francisco Martins da Silva Filho, não compareceu ao julgamento. Segundo Brito, há comentários de que ele tem informações que comprometem o fazendeiro Delsão, por isso estaria com medo de aparecer. Outra testemunha de acusação, Sebastião Carvalho Oliveira, que consta nos autos como uma das pessoas que impediram a fuga do acusado, foi dispensada a pedido do Ministério Público. A mãe de Wellington Silva, Maria de Jesus Silva, foi ouvida como testemunha de defesa.


 


Ana Júlia comparece ao julgamento – A Praça Felipe Patroni, em frente ao Fórum Cível, amanheceu ontem repleta de barracas de lona preta. Trabalhadores rurais e representantes de entidades de luta pela terra começaram a chegar na véspera para organizar um ato pela condenação de Wellington de Jesus Silva, acusado de assassinar o sindicalista José Dutra da Costa, o Dezinho. Mas o foco da mobilização não era apenas esse crime. Os manifestantes colocaram cruzes de madeira no canteiro em memória das vítimas da violência no campo. Um carro de som animava a manifestação, que no final da manhã foi reforçada pela presença da governadora eleita Ana Júlia Carepa. “Nós queremos trabalhar para acabar com a violência que se comete contra trabalhadores e defensores dos direitos humanos. Esperamos punição não só para os que apertaram o gatilho, mas também para os que financiam a violência”, ressaltou.


 


Por Natália Câmara e Marcela Andrade (CUT-PA)