Ali exalta América Latina em livro sobre Fidel, Chávez e Evo

O escritor britânico de origem paquistanesa Tariq Ali acaba de publicar um livro dedicado à frente aberta por líderes latino-americanos contra o neoliberalismo e o chamado consenso de Washington. O título é Pirates of the Caribbean – Axis of Hope

Ali dedica o livro ao uruguaio Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina. Seu trabalho é fruto de viagens e de seu conhecimento sobre a região e seus intelectuais. Os piratas aos quais o título faz “jocosa referência”, como o autor reconheceu em conversa, são o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e o cubano Fidel Castro.


 


Motivações
O interesse pela América Latina é antigo na vida do escritor, que foi um dos heróis da chamada revolução estudantil européia do final da década de 1960. À mesma época, após uma viagem ao Vietnã do Norte, ele visitou a Bolívia, onde o intelectual e revolucionário francês Régis Debray acabava de ser detido e condenado a 30 anos de prisão como integrante do grupo guerrilheiro de Che Guevara.


 


O livro é polêmico, e seu primeiro alvo é o que Ali chama de “imprensa transatlântica” – publicações de referência anglo-saxã como a revista The Economist e o jornal Financial Times. Ali os qualifica como “pilares do consenso de Washington”, em uma referência às medidas de liberalização do comércio e o fluxo de capitais, e de disciplina fiscal e reordenação do gasto público, contidas nos programas do Fundo Monetário Internacional (FMI).


 


Crises na região
O Chile de Augusto Pinochet, primeiro, e depois outros países da América Latina foram alvo dessas receitas econômicas. Com sua enorme dureza e desastrosas conseqüências sociais, as medidas provocaram explosões populares, reprimidas muitas vezes pela força das armas, como em 1989, na Venezuela de Carlos Andrés Pérez, com o chamado “Caracazo”.


 


Segundo o escritor britânico, boa parte da imprensa ocidental faz uma campanha de “desinformação” sobre o que ocorre atualmente na Venezuela e outros países latino-americanos, omitindo os dramáticos antecedentes sociais que podem explicar o surgimento de líderes como Chávez e Evo.


 


Os novos líderes
Ali acrescenta que participam da campanha os convertidos à Nova Ordem Mundial, antigos radicais de esquerda arrependidos que passaram para o outro lado do espectro político e defendem sua nova fé com ardor e intolerância. Os novos líderes latino-americanos, afirma Ali, sofrem “demonização” por esses meios transatlânticos.


 


Mas esses mesmos líderes, surgidos de movimentos sociais de ampla base e referendados nas urnas, “aplicam políticas sociais mais igualitárias e de redistribuição” de caráter social-democrata. E o fazem em contextos especialmente difíceis.


 


A omissão de Washington
“Se cometeram algum delito, foi o de desafiar as certezas da Nova Ordem Mundial”, afirma o ensaísta britânico, acrescentando que “até o surgimento de um líder como Chávez, Washington fez praticamente caso omisso” sobre a América Latina.


 


Ali diz vislumbrar “uma alternativa política” no continente em contraste com o que acontece no Oriente Médio, onde “há resistência militar à ocupação”, mas “sem uma visão social real do que é preciso fazer para transformar o mundo”.