O preço da criatividade: um novo boom na arte

O mercado internacional ultrapassa a velocidade do final dos anos 80, define preços exagerados e a valorização da arte contemporânea.

O mercado internacional de arte voltou a se acelerar e as notícias de vendas recordes se sucedem em uma velocidade que lembra o boom do final dos anos 80, animado pelo auge do iene e o fascínio japonês pelos impressionistas.


 


Duas décadas depois, pode-se falar no início de outro boom econômico, ou pelo menos de um novo ciclo? Uma das bíblias do mundo econômico, o “Financial Times”, citou Michael Moses, cujo índice influi nos preços de mercado, que afirma que de junho de 2005 a junho de 2006 os preços das obras de arte subiram 22%, mais que o dobro do aumento anual desde 1961. Outro índice, o Standard & Poor's, registra uma alta de 8,3% desde o início deste ano. Enquanto isso, a Artprice afirma que a arte contemporânea e a fotografia sobem como espuma: 245%.


 


Os grandes colecionadores internacionais têm uma equipe meticulosa de especialistas que realizam uma busca sistemática de obras para seus clientes, e por isso as grandes peças que chegam aos leilões são raras. Uma das novidades é que algumas dessas operações começaram a ser divulgadas. O “New York Times” revelou em junho passado a compra do “Retrato de Adele Bloch-Bauer”, de Klimt, por Ronald S. Lauder.


 


A venda por US$ 135 milhões bateu o recorde mundial, ostentado até então por “Jovem com Cachimbo” de Picasso. Em outubro foi a “The New Yorker” que revelou a frustrada venda recorde de “O Sonho” de Picasso (US$ 139 milhões) para um magnata de Las Vegas, Steve Wynn, que não arrematou a operação depois de prejudicar a tela com uma cotovelada inoportuna quando a examinava rodeado de amigos. E há poucos dias “The New York Times” afirmou que um mexicano, David Martínez, havia se colocado na dianteira dessa louca corrida para ter o quadro mais caro do mundo, ao comprar do magnata do mundo dos espetáculos David Geffen a obra “Number 5. 1948”, de Pollock, por US$ 140 milhões.


 


No ano passado, Larry Gagosian, conhecido como GoGo, o galerista e marchand mais influente do mundo, pagou US$ 20 milhões por “Cubi XXVIII” (1965), de David Smith, uma peça monumental de aço inoxidável. Se hoje se fala nos artistas pelo preço de suas obras, e não por seus estilos, vejam Gagosian – ou Saatchi, o galerista que veio do mundo da publicidade.


 


Leopoldo Rodés, que além de presidir a Fundação Macba é conselheiro da Christie's para a Europa, membro do conselho diretor do MoMa e do Whitney de Nova York, acredita que o boom é mais poderoso do que nos anos 80 e aponta três explicações. “Em primeiro lugar, o mundo vive uma fase de prosperidade sem precedentes, e isso faz que os ativos se revalorizem e haja uma inflação geral de preços evidente. Depois ocorre que surgiram com força compradores de países emergentes: China, Índia, Rússia, Europa do leste. E em terceiro lugar há uma proliferação de museus em todo o mundo que antes não havia.”


 


Os EUA continuam sendo o maior consumidor de arte, e seus gostos tendem mais para os artistas nacionais, daí que se valorizem os criadores surgidos a partir do expressionismo abstrato. A consultora de arte Carmen Schjaer acrescenta que a idade dos colecionadores diminuiu: “Hoje há gente de 30 e poucos anos, habituada aos novos mercados, que investe forte em arte”, e adverte que estão pagando preços exagerados. Schjaer detecta que os negociantes já visitam as escolas de arte em busca de alunos promissores. E se pergunta se suas obras vão suportar a pressão do mercado.


 


Klimt, Picasso, Modigliani


 


Uma natureza-morta de Cézanne, vendida por US$ 37 milhões, e “O Filho do Porteiro” de Modigliani, por US$ 31,1 milhões, foram as obras que conseguiram maior preço na segunda-feira no leilão de arte moderna da Sotheby's em Nova York, o maior desde 1990. Os US$ 239 milhões arrecadados superaram as vendas do ano passado de US$ 130 milhões e as estimativas anteriores, de US$ 219 milhões.


 


Mas embora as vendas na Sotheby's tenham sido elevadas, “Paisagem de Praia de Trouville”, pintada por Monet e que se esperava vender por até US$ 20 milhões, não levantou nenhum lance. Mais doloroso para os bolsos da Sotheby's foi o fiasco da obra de Picasso “O Resgate”, que além de não atrair o interesse do público estava garantida pela casa de leilões.


 


Ontem à noite sua rival Christie's realizou outro leilão cuja obra principal deveria ser “Retrato de Angel Fernández de Soto”, de Picasso. Mas algumas horas antes a firma retirou o quadro, avaliado em US$ 60 milhões, de acordo com a proprietária, a Fundação Lloyd Weber, devido às demandas apresentadas à justiça pelos herdeiros de um antigo dono, que reclamam sua propriedade.


 


Fonte: La Vanguardia / UOL Míodia Global
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves