Movimentos querem que Lula assuma agenda política avançada

Entidades que integram a Coordenação dos Movimentos Sociais discutem como se unir para aumentar a pressão sobre Lula e reivindicar mudanças sobretudo na área econômica.

Os movimentos sociais, centrais sindicais e grupos políticos de esquerda estão discutindo formas de se unir para aumentar a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo mandato. Vão cobrar o apoio que deram a ele no segundo turno das eleições e reivindicar mudanças na política econômica. No fundo, querem se transformar em atores de peso no debate instalado, desde o anúncio da vitória do candidato petista, entre os chamados desenvolvimentistas e monetaristas. Como acontece em setores do PT, consideram que o governo está em disputa e desejam puxá-lo para a esquerda.


 


'Houve muita tolerância com Lula no primeiro mandato, por causa de seu passado de sindicalista e perseguido político, e isso abriu espaço para a direita na área econômica', diz Antonio Carlos Spis, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do País, com 3.370 sindicatos, ligada ao PT. 'Agora não dá mais para ficar ouvindo que ele vai convidar o Jorge Gerdau e o Delfim Netto para seu governo.'


 


Spis será o representante da CUT na reunião da Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais que acontece hoje em Guararema, interior de São Paulo, com representantes de 34 organizações, entre as quais o Movimento dos Sem-Terra (MST), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Marcha Mundial das Mulheres. Eles vão avaliar o resultados das eleições e discutir como unir suas forças em 2007.


 


O ponto de unidade até agora é o combate à política econômica. Ninguém acredita que sofrerá alterações, a menos que o presidente seja pressionado. 'Os movimentos sociais se desencantaram. Viram que as conquistas sociais não virão de graça, sem muita organização. Nem com Lula na Presidência', diz Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST. Com cerca de 150 mil famílias acampadas no País, o MST acusa Lula de ter favorecido o agronegócio no primeiro mandato e negligenciado a reforma agrária, que abriria mais oportunidades de emprego. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que é vinculado à CNBB e deve enviar um representante para o encontro de hoje, também acusa o governo de ter sucumbido às pressões do agronegócio.


 


'Por causa disso a violência aumentou nas áreas indígenas, ao mesmo tempo que diminuiu o volume de terras demarcadas', diz Egon Heck, da coordenação do Cimi em Mato Grosso do Sul. 'Mudanças só virão com pressão sobre o governo.'


 


Integrantes da coordenação acham que o presidente deveria ouvi-los com mais atenção. 'Lula perdeu a eleição no primeiro turno e só venceu no segundo depois que a esquerda, os movimentos e os sindicatos foram às ruas', diz Spis.


 


Na área sindical existe o temor de que a reforma sindical a ser encaminhada por Lula no segundo mandato reduza direitos trabalhistas. Por causa disso, já se discute a realização de uma greve geral, ainda no primeiro semestre do ano que vem.


 


Fonte: Agência Estado