Chávez faz festa por visita de Lula; oposição reclama

O presidente venezuelano Hugo Chávez afirmou neste sábado (11) que a Venezuela vai fazer deste domingo um dia de festa pela visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para inaugurar a segunda ponte sobre o rio Orinoco, no sul do país. Para a oposiç

O presidente venezuelano Hugo Chávez afirmou neste sábado (11) que a Venezuela vai fazer deste domingo um dia de festa pela visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para inaugurar a segunda ponte sobre o rio Orinoco, no sul do país.



“Amanhã chega o presidente do Brasil para nos visitar, e desde já declaramos dia de festa na Venezuela por esta ilustre visita do reeleito Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou Chávez num comício em Maracaibo, oeste de Caracas.



Lula chega na noite deste domingo a Puerto Ordaz, sudeste, e volta ao Brasil na segunda-feira (13) à noite. Enquanto estiver fora, a presidência do Brasil será assumida interinamente pelo presidente da Câmara, deputado aldo Rebelo (PCdoB-SP).



Depois da inauguração da ponte, os dois presidentes visitarão a Faixa Petrolífera do Orinoco, especificamente o bloco petroleiro Carabobo 1, onde as estatais Petróleos de Venezuela (PDVSA) e Petrobrás têm uma empresa mista para certificação de reservas.



A ponte estava pronta há vários meses, mas Chávez se negava a inaugurá-la sem a presença de Lula, que se encontrava em plena campanha eleitoral, já que a obra foi construída com financiamento brasileiro.



A ponte de 3.156 metros tem quatro canais veiculares e um de via férrea e foi construída pela brasileira Odebrecht a um custo final próximo do um bilhão de dólares.


 



A Oderbrecht construirá também uma terceira ponte sobre o rio Orinoco, entre os estados de Guárico e Bolívar, por 991 milhões de dólares e que deve estar pronta em 2010.


 



Refinaria em Pernambuco


 


Durante a viagem, Hugo Chávez e Lula tratarão também da construção conjunta de uma refinaria de petróleo em Pernambuco. O investimento deve ser feito em conjunto entre a Petrobras e a estatal venezuelana a PDVSA. O ministro de Minas e Energia, Silas Roundeau, e o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, integrarão a comitiva.


 



Na quinta-feira (10), no Rio de Janeiro, Gabrielli recebeu a visita do governador eleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para acertar os detalhes da instalação. A Petrobras negou informações de que desistiria da parceria com a Venezuela e tocaria o projeto sozinha.



Segundo a empresa, dois terços do terreno onde será construída a refinaria, no distrito industrial de Suape, já foram liberados. O governador eleito de Pernambuco se comprometeu a liberar o restante do terreno quando assumir o cargo. A expectativa é de que a Petrobras comece a terraplenagem do projeto em meados de 2007. O investimento total da refinaria é de R$ 2,8 bilhões.


 


Oposição de direita reclama


 


Enquanto os dois governos estreitam as relações políticas e comerciais, a oposição venezuelana, majoritariamente de direita, reclama. A poucas semanas da realização das eleições presidenciais na Venezuela, a visita do presidente Lula ao país é considerada “inconveniente” pelos opositores do governo Chávez.


 


Para a oposição, a visita é considerada um apoio político a favor do presidente Hugo Chávez, candidato à reeleição.


 



“Neste momento a presença de Lula é inconveniente. Acredito que essa visita poderá ser manipulada eleitoralmente pelo governo”, alegou à BBC Brasil Timoteo Zambrano, diretor de Assuntos Internacionais do candidato de oposição, Manuel Rosales.


 


Zambrano também questiona o fato de que o presidente brasileiro inaugure a obra de uma empresa privada, como é o caso da construtora brasileira Odebrecht, responsável pela construção da ponte. “Não vejo porque ele (Lula) tem que participar de uma inauguração deste tipo, ainda mais nas vésperas das eleições”, questiona o opositor, sem levar em conta que em quase todo o mundo as grandes obras de infra-estrutura são realizadas por empresas privadas.


 


Agenda adiada


 


Maximilien Arvelaiz, assessor de Assuntos Internacionais do governo, disse à BBC Brasil que o mandatário brasileiro cumprirá uma agenda que já estava prevista, e que no entanto, “foi adiada devido aos compromissos da campanha eleitoral”do brasileiro.


 


A explicação, no entanto, é rebatida pelo diretor de Assuntos Internacionais do candidato opositor Manuel Rosales.


 


“Se Lula não pode vir antes porque estava em campanha eleitoral no Brasil, vir à Venezuela durante a nossa campanha eleitoral também não é aconselhável”, diz Zambrano.


 


Manuel Rosales é o principal candidato de oposição que disputa as eleições com Hugo Chávez, dia 3 de dezembro.


 


Além da agenda pública de inauguração da ponte sobre o rio Orinoco e da certificação de um poço petroleiro, Chávez e Lula deverão discutir a pauta da próxima Cúpula Sul-Americana de Chefes de Estado, que será realizada na Bolívia em dezembro.


 


“Os presidentes têm que preparar os temas da Cúpula e conversar sobre os projetos que temos em comum”, afirma Maximilien Arvelaiz.


 


Integração


 


Para Edgardo Lander, professor de sociologia da Universidade Central da Venezuela, a visita de Lula é “sem dúvida, uma expressão de apoio político a Chávez”.


 


No entanto, mais do que interferir na política venezuelana, Lander acredita que a presença de Lula indica quais serão as prioridades da política exterior brasileira no segundo mandato.


 


Na avaliação do sociólogo, a ausência do presidente brasileiro na 16ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado, realizada na semana passada no Uruguai, indica que o governo brasileiro pretende priorizar outro tipo de integração.


 


“No Uruguai vimos uma forte presença do governo espanhol. Estão interessados na economia latinoamericana. Ao não participar da Cúpula, Lula indica que pretende fortalecer a integração no continente para poder disputar de igual para igual com a União Européia”, afirma Lander.


 


Na 16ª Cúpula Ibero-Americana as discussões se centralizaram na contenta entre Argentina e Uruguai pela construção das fábricas de celulose no Rio Uruguai, na divisa entre os países. As negociações foram intermediadas pela Espanha.


 


EUA e Europa


 


No entanto, a lógica de fortalecer o Mercosul e a Comunidade Sul Americana de Nações para poder negociar com União Européia e EUA parece não agradar a estes países.


 


“Estados Unidos e União Européia pretendem impedir que seja criado em torno do Brasil um eixo alternativo de negociações. Por isso tratam de dividir os blocos entre o eixo da esquerda responsável e do eixo do mal”, disse Edgardo Lander.


 


Recentemente a Venezuela se integrou à categoria de membro pleno do Mercosul. O presidente Lula tem anunciado a pretensão de ampliar o número de membros para fortalecer o bloco regional.


 


“É muito importante que a Venezuela seja o primeiro país a ser visitado por Lula depois de sua triunfal vitória nas urnas. Indica que a integração latino americana se aprofundará neste segundo mandato”, afirma Arvelaiz.


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez
com agências