Eleições-Venezuela: Grupos da oposição recebem ajuda dos EUA

Desde que o presidente Hugo Chávez impediu a tentativa de golpe em 2002, os EUA enviaram milhões de dólares para organizações venezuelanas, muitas delas críticas do governo local. Essa ajuda se tornou uma importante questão nas eleições presidenciais do p

Longa reportagem publicada nesta quinta-feira (10/11) no jornal norte-americano New York Times trata a respeito desse assunto. Apesar desse apoio, as últimas pesquisas têm mostrado que Chávez segue tranqüilo rumo à reeleição.



“Washington acha que pode comprar a mudança de regime na Venezuela”, disse Carlos Escarra, advogado constitucional e importante congressista na Assembléia Nacional que defende regulamentos mais rígidos ao financiamento americano de grupos venezuelanos. “Essa é uma afronta à nossa soberania como nação que não é dócil aos interesses de Washington.”



Escarra refletia comentários recentes de outras autoridades e de Chávez, que na maior parte das pesquisas tem uma liderança de dois dígitos sobre seu principal adversário, Manuel Rosales, governador do Estado de Zulia. Chávez raramente refere-se a Rosales pelo nome, e descreve sua campanha como uma escolha entre seu governo e o governo Bush.



Apoios
A Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA distribuiu cerca de US$ 25 milhões (em torno de R$ 55 milhões) para várias organizações venezuelanas nos últimos cinco dias, de acordo com autoridades envolvidas nos projetos. Os fundos foram canalizados para grupos venezuelanos por entidades privadas e públicas dos EUA que abriram escritórios em Caracas.



Entre essas, a Development Alternatives Inc., uma firma de Bethesda que trabalha junto ao Departamento de Estado para distribuir fundos em torno do mundo, além do Instituto Republicano Internacional e do Instituto Democrata Internacional, dois grupos de Washington que forneceram treinamento a líderes políticos emergentes na Venezuela.



Documentos obtidos do governo norte-americano sob o Ato de Liberdade de Informação citam numerosas bolsas concedidas pelos EUA nos últimos dois anos a grupos com atividades críticas ao governo de Chávez. A Agência de Desenvolvimento Internacional não quis divulgar os nomes de muitos dos beneficiados, dizendo que a revelação de suas identidades poderia colocá-los em risco de retaliação política.



Todos os fundos foram canalizados pela Development Alternatives, que trabalhou em nome do Escritório de Iniciativas de Transição, um braço pouco conhecido da Agência de Desenvolvimento Internacional que começou a operar na Venezuela depois do golpe de abril de 2002.



Autoridades da Agência de Desenvolvimento Internacional não mantiveram em segredo a identidade de todos que receberam verbas na Venezuela, para salientar que parte da ajuda foi para grupos de caridade na forma de equipamentos de beisebol e material para telhados. Uma verba de US$ 15.728 (aproximadamente R$ 34.600) foi doada para um programa de nutrição do governo municipal de Baruta, uma área de Caracas cujo prefeito, Henrique Capriles Radonski, é crítico aberto de Chávez.



Outras bolsas pareciam ter o objetivo de apoiar rivais potenciais de Chávez. Uma verba de US$ 47.459 (em torno de R$ 104.400), por exemplo, foi doada em julho de 2005 a uma organização cujo objetivo era se reunir com outras para construir uma “campanha de liderança democrática”.



As bolsas da agência na Venezuela geraram preocupações entre alguns analistas políticos que vêem paralelos nos esforços de Washington para desestabilizar o governo socialista de Salvador Allende no Chile, no início dos anos 70, ou tentativas de influenciar o sistema político da Nicarágua nos anos 80.



“Eu não me sentiria confortável se o governo chinês fizesse alguma coisa assim nos EUA”, disse Jeremy Bigwood, analista de política internacional do Centro de Política Econômica e Pesquisa em Washington. Bigwood está processando a Agência de Desenvolvimento Internacional para que revele os nomes de seus beneficiados. Ele disse que, ao não fazê-lo, suas atividades deixavam de ser “um serviço civil e passavam a ser um serviço clandestino”.



Reações
Enquanto isso, a reação ao financiamento americano vem crescendo. Promotores entraram com ações de conspiração contra o Sumate, um grupo de educação do eleitor, depois que este recebeu US$ 31.000 (cerca de R$ 68.000) do Fundo Nacional para a Democracia, outra entidade patrocinada pelo governo americano que distribui verbas para grupos na Venezuela.



Um projeto de lei também está chegando à Assembléia Nacional que propõe o regulamento do financiamento internacional de organizações não governamentais. A análise do projeto, que foi criticado por grupos anticorrupção como Transparência Internacional, foi adiada para depois das eleições.



Alguns analistas estão chamando a reação do governo local ao financiamento americano de hipócrita, enquanto a Venezuela aumenta sua assistência externa em uma tentativa de influenciar a direção política de países como Bolívia e Nicarágua.



“Eles pensam que, se é pela revolução, então por definição é correto”, disse Aníbal Romero, professor de ciências políticas na Universidade Simon Bolívar. “Mas se o dinheiro vem de Washington, então é definitivamente errado.”