Novo governo Lula terá menos petistas e mais aliados

O presidente Lula tem sido discreto nas articulações sobre a composição do time de ministros e secretários que irá iniciar com ele o segundo mandato. Mas as conversas e ações do gabinete presidencial, até agora, indicam que o novo governo terá mais esp

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (8) que o próximo mandato será baseado em alianças institucionais com as legendas, descartando a negociação no varejo para receber os apoios políticos necessários.


 



“O governo vai ser composto de uma forma diferente. Nós não vamos fazer uma salada de frutas, ou seja, quero construir alianças por partidos políticos, quero discutir com seriedade, o que importa são as políticas publicas que o governo vai colocar em prática”, afirmou o presidente a jornalistas no encerramento Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica.


 



Lula tem insistido que não há pressa para anunciar a composição do ministério e nem mesmo a auxiliares muito próximos tem revelado preferência por nomes para compor o segundo mandato. ''Eu ainda não pensei em um único nome. Nem em quem fica, nem em quem vai entrar. Não vão ser as manchetes e notícias de que sai fulano e que entra beltrano que vão me fazer tirar ou colocar ministros. Vou fazer (as mudanças) com a tranqüilidade de quem precisa acertar'', declarou Lula.


 



Mas apesar da contundência da declaração, o presidente já fez sondagens para a montagem da nova equipe. Procurou, por exemplo, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter e o convidou a participar do governo, provavelmente no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no lugar de Luiz Fernando Furlan. Gerdau mandou sua assessoria divulgar nota negando o convite e confirmando a intenção do empresário de não ocupar nenhum cargo público.


 


Agora é Lula


 



Diferentemente do que aconteceu na formação do primeiro time de ministros, no início do atual governo, desta vez o presidente Lula decidiu ter controle integral sobre os acordos partidários para a formação do próxima equipe de colaboradores.


 



Lula também já disse ao PMDB, PTB, PP e PR (o Partido da República, resultado da fusão do PL com o Prona) que podem começar a escolher seus integrantes que vão participar do novo governo ao lado de aliados já tradicionais como PSB, PCdoB e, obviamente, o PT, que deve perder espaço mas continuará como o partido com maior representação na estrutura do governo.


 



Os movimentos do gabinete presidencial, até agora, indicam que a principal preocupação de Lula é atrair para o governo pessoas que “façam as coisas acontecerem”. Neste sentido, o presidente deve solicitar aos partidos aliados que ao fazerem suas indicações, se preocupem especialmente com a capacidade técnica e gerencial dos indicados.


 



O espaço do PMDB


 



O PMDB tende a ser o principal aliado do governo. O presidente quer o apoio formal e integral do PMDB e dos demais partidos que vierem a compor a base de sustentação do governo.


 



A cúpula do PMDB trabalha para, atendendo a exigência do presidente Lula, tentar fechar o apoio do partido ao governo em bloco – ou pelo menos com a grande maioria de seus integrantes. Para isso, planeja armar uma ''saída honrosa'' para os peemedebistas que ficaram na oposição no primeiro governo petista: convocar o Conselho Político do partido para opinar sobre o apoio.


 



As lideranças acreditam ser possível costurar a unidade interna em 15 dias e assim abrir caminho à negociação do espaço no futuro governo de coalizão. A conversa formal de Lula com o PMDB ainda não aconteceu, mas a expectativa é de que se realize nos próximos dias.


 



A maioria dos analistas políticos tem defendido que a incorporação integral do PMDB à base de sustentação do governo é a chave do sucesso para o segundo mandato de Lula. Por outro lado, alertam para a voracidade peemedebista por cargos e benesses, o que obrigará o presidente Lula a manter controle cotidiano sobre as ações dos aliados.


 



Atualmente, já estão na “cota” do PMDB três ministérios: da Saúde, das Comunicações, e das Minas e Energia. Além de manter estes postos, os peemedebistas também estão de olho no Ministério da Integração Nacional e no Ministério das Cidades.


 



Outro ministério importante, o da Justiça, também pode acabar nas mãos de um peemedebista.


 



Lula tem pedido reiteradamente ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para permanecer na equipe pelo menos por mais alguns meses, no próximo mandato. Até agora, porém, ele está disposto a entregar o cargo. Já avisou ao presidente que precisa se dedicar mais à família. Se Thomaz Bastos sair, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nélson Jobim, que é do PMDB, está cotado para a vaga.


 



Os espaços do PT


 



Na outra ponta, a cúpula do PT tem feito pressões para manter os cargos que ocupa, apesar da retórica oficial de que é preciso deixar Lula 'à vontade'. O PT ocupa 15 dos 34 ministérios e não admite perder postos considerados estratégicos, como Desenvolvimento Agrário, Educação e Planejamento.


 



O PT perderá espaço no governo, mas manterá ministérios importantes. Vários ministros devem permanecer, como Tarso Genro (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luiz Marinho (Trabalho).
A incerteza é sobre quais pastas estes ministros encabeçarão. Por enquanto, há apenas um movimento forte para que Guido Mantega continue à frente do Ministério da Fazenda.


 



Mudanças no BC


 



E se nada mudar na Fazenda, no Banco Central as mudanças certamente devem acontecer. Nesta semana, o presidente Lula sinalizou que pretende manter o Banco Central sob comando do atual presidente, Henrique Meirelles, mas irá trocar alguns diretores do Banco considerados “ortodoxos”.


 



Em 2002, após ser eleito deputado federal mais votado pelo PSDB de Goiás, Meirelles só aceitou a missão de trocar o certo pelo duvidoso depois de obter garantias de Lula de que teria ''plena autonomia'' para montar sua equipe. ''O presidente não fará nada sem consultá-lo'', assegurou ontem um interlocutor de Lula.
''Mas realmente ele já disse que há, no Banco Central, alguns diretores que não entendem nada de ´povo´, são burocráticos, tecnocratas e só pensam em viés de alta e viés de baixa.''


 



A imprensa chegou a especular quais seriam os prováveis substituídos. Entre eles está o diretor o diretor de Política Econômica, Afonso Sant´Anna Bevilaqua.
Figuram no time dos conservadores do BC, ao lado de Bevilaqua, os diretores Rodrigo Azevedo (Política Monetária), Mário Mesquita (Estudos Especiais) e Paulo Vieira da Cunha (Assuntos Internacionais), todos afinados com a linha da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. O diretor considerado mais ''flexível'' na cúpula do banco é Alexandre Antonio Tombini, titular de Normas e Organização do Sistema Financeiro. 


 



Haddad e Gil


 



Ontem, a mídia interpretou que o presidente Lula também pretende manter o petista Fernando Haddad no ministério da Educação. Ao participar do encerramento da 1a Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, em Brasília, Lula afirmou que ''vamos marcar hoje como o dia do fico do Fernando Haddad''.
Mas depois, ao ser avisado da repercussão de seu discurso, o presidente Lula explicou sua declaração: “Eu disse porque os alunos começaram a gritar 'Fica! Fica', e eu tinha que dar uma resposta. Até 1º de janeiro, todo mundo é ministro. Depois, vamos ver o que vai acontecer”.


 


Fernando Haddad, cumprindo o protocolo, também desconversou: “Foi um momento de descontração numa conferência. Deixa o homem trabalhar! Mais importante do que a pessoa é o compromisso do presidente com a educação”, disse.
Ainda ontem, Lula participou de um evento promovido pelo Ministério da Cultura e, novamente, ouviu do público presente ao evento manifestações de apoio à permanência de um de seus ministros, no caso Gilberto Gil, que está à frente do Minc desde o início do governo Lula.


 



Lula elogiou a conduta de Gil no ministério, mas ao contrário do que fez no evento com Haddad, desta vez o presidente não respondeu às manifestações de “fica”, “fica” da platéia presente à cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural a artistas brasileiros. Mas Gilberto Gil falou.


 



O ministro disse que gostaria de permanecer no ministério no segundo mandato do presidente reeleito. “Gostaria de continuar, ainda que não possa ficar”, afirmou, ao comentar que também gostaria de dedicar mais tempo para suas questões pessoais. Ele ainda disse que sua vida profissional não seria um empecilho para esta continuidade.


 


Demissão coletiva


 



 Enquanto Lula monta sua equipe, vários ministros articulam uma protocolar renúncia coletiva, no início de dezembro. Na prática, trata-se de um gesto apenas simbólico para que Lula não se sinta constrangido ao promover as mudanças que julga necessárias nessa fase de montagem do novo ministério.


 



A proposta começou a ser discutida reservadamente no gabinete da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mas logo ganhou resistências. Hoje, ninguém sabe se será tocado em frente. Pode até ser que fique apenas no campo das intenções.


 



'A renúncia coletiva não é necessária', afirmou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, ao ser questionado sobre o tema, antes de tirar licença não remunerada de dez dias e embarcar para Buenos Aires. 'Afinal, todos os cargos são do presidente Lula. Nenhum ministro deve fazer cogitações sobre se fica ou sai do governo porque isso pode parecer ambição pessoal ou pressão.'


 



Não é a primeira vez que a idéia da renúncia coletiva vem à tona. Em meados de 2005, o então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo (Secom), Luiz Gushiken, propôs que todos os colegas entregassem os cargos para Lula, para facilitar uma reforma ministerial. O então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi um dos que rejeitaram a idéia.



 
Veja como está composto hoje o quadro ministerial:



 
Ministérios



 
» Agricultura, Pecuária e Abastecimento: Luís Carlos Guedes Pinto (perfil técnico, ligado ao PT)



» Cidades: Márcio Fortes (indicação do PP) 



» Ciência e Tecnologia: Sergio Machado Rezende (PSB) 



» Comando da Aeronáutica:  Luiz Carlos da Silva Bueno (militar de carreira)



» Comando da Marinha:  Roberto de Guimarães Carvalho (militar de carreira)



» Comando do Exército:   Francisco Roberto de Albuquerque (militar de carreira)



» Comunicações: Hélio Costa (PMDB) 



» Cultura: Gilberto Gil (PV, mas sua indicação não tem viés partidário)



» Defesa: Waldir Pires (PT) 



» Desenvolvimento Agrário:  Guilherme Cassel (PT)



» Desenvolvimento Social e Combate à Fome:  Patrus Ananias (PT)



» Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior:  Luiz Fernando Furlan (sem vínculo partidário)



» Educação: Fernando Haddad (PT) 



» Esporte: Orlando Silva (PCdoB) 



» Fazenda: Guido Mantega (PT) 



» Integração Nacional: Pedro Brito (PSB)



» Justiça: Márcio Thomaz Bastos (sem vínculo partidário)



» Meio Ambiente: Marina Silva (PT)  



» Minas e Energia: Silas Rondeau (PMDB) 



» Planejamento, Orçamento e Gestão: Paulo Bernardo (PT) 



» Previdência Social: Nelson Machado (perfil técnico, ligado ao PT) 



» Relações Exteriores: Celso Amorim (PT)



» Saúde: Agenor Álvares (perfil técnico, sucessor de Saraiva Felipe – PMDB) 



» Trabalho e Emprego: Luiz Marinho (PT)



» Transportes:  Paulo Sérgio de Oliveira Passos (perfil técnico, indicação do PL)



» Turismo: Walfrido Mares Guia (PTB)



 
Secretarias e órgãos especiais com status ministerial



 
» Casa Civil: Dilma Roussef (PT) 



» Secretaria-Geral: Luiz Dulci (PT) 



» Secretaria de Relações Institucionais: Tarso Genro (PT) 



» Gabinete de Segurança Institucional: Jorge Armando  Felix (carreira militar) 



» Secretaria de Imprensa e Porta-Voz: André Singer (PT)



» Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE): Luiz Gushiken (PT)



» Advocacia-Geral da União:  Álvaro Augusto Ribeiro Costa (sem vínculo partidário)



» Controladoria-Geral da União:  Jorge Hage Sobrinho (PT)



» Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca:  Altemir Gregolin (PT)



» Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial: 
Matilde Ribeiro (PT)



» Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres: Nilcéa Freire (PT) 



» Secretaria Especial dos Direitos Humanos: Paulo Vannuchi (PT)
 


Da redação,
CLáudio Gonzalez