Cuba x EUA: Prejuízos causados aos cidadãos dos dois países

A principal intenção do governo dos Estados Unidos ao recrudescer o bloqueio contra Cuba é afetar sua economia, mas em alguns casos essa política atinge outros alvos – inclusive cidadãos norte-americanos.
Por Fernando Damasceno

Entre as novas regulamentações do bloqueio impostas pelo governo Bush, estão alguns itens cuja função é proibir, frear ou condicionar o desenvolvimento de intercâmbios acadêmicos de parte a parte.



Dessa forma, as viagens de estudantes e professores, o fluxo de informações entre os dois países, a difusão de novas descobertas científicas e a aquisição de insumos, meios e instrumentos para a docência e a pesquisa sofreram forte abalo, atingindo cidadãos cubanos e norte-americanos.



Até 2004, apesar da vigência do bloqueio, alguns convênios entre universidades dos dois países eram mantidos sem qualquer tipo de interferência governamental. Em alguns casos, a já citada (quarta reportagem da série) extraterritorialidade também teve papel importante, como no convênio entre escolas cubanas e a Universidade Peruana de Ciências Aplicadas. Em 2005, dois professores precisaram retornar a Havana, pois uma instituição norte-americana adquiriu a Universidade e proibiu a continuidade do intercâmbio.



Ao longo dos dois últimos anos, os Estados Unidos deixaram de conceder 183 vistos a professores e acadêmicos cubanos, que participariam de simpósios e encontros em território norte-americano. A justificativa alegada em alguns casos baseava-se em um sombrio ponto do Plano de Anexação para uma Cuba Livre, chamado de 212F, que ''proíbe a entrada de indivíduos cuja presença neste país seja em detrimento dos interesses dos Estados Unidos''.



As recentes barreiras impostas afetaram áreas como a cultura também. O consagrado Balé Nacional de Cuba não pôde se apresentar nos Estados Unidos em 2005 e nenhuma companhia norte-americana pôde efetuar o tradicional intercâmbio entre as duas escolas. Por sua vez, caiu em cerca de 75% a quantidade de visitas de artistas plásticos dos EUA a Cuba.



Saúde
Os maiores prejuízos para os cidadãos dos dois países, no entanto, se refletem na área da saúde – setor em que há décadas Cuba é vanguarda e tem muito a oferecer aos Estados Unidos.



Além da negativa de vistos para dezenas de médicos cubanos, o governo norte-americano proibiu que seus laboratórios – e conseqüentemente, seus cidadãos – tivessem acesso a inovadores tratamentos desenvolvidos pela Ilha. Da mesma forma, impediu que milhares de cubanos usufruíssem de suas inovações tecnológicas nessa área.



O custo da saúde nos Estados Unidos é consideravelmente alto – estima-se que cerca de 45 milhões de norte-americanos não têm qualquer tipo de seguro médico. Recaem principalmente sobre essa parcela da população os efeitos do bloqueio. Dois casos ilustram com clareza essa situação:



– Devido ao bloqueio, os EUA não puderam fazer testes com o TheraCIM, medicamento cubano para o tratamento de tumores cerebrais em crianças. Na Europa e nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 40 mil meninos e meninas morram anualmente por conta desse problema. Até hoje, os esforços realizados por médicos norte-americanos, japoneses e de alguns países da Europa não obtiveram sucesso.



– Calcula-se que há cerca de 20 milhões de norte-americanos com diabetes. Uma de suas complicações é o aparecimento de úlceras no pés de parte dos enfermos. Só nos EUA, esse problema resulta em mais de 70 mil amputações por ano. Para combater esse mal, médicos cubanos desenvolveram o Citopropt, um produto que acelere a cura da úlcera e reduz drasticamente o risco de amputações. Vários países já solicitaram sua patente, mas os Estados Unidos ainda não fazem parte dessa lista, por conta do bloqueio.



Votação na ONU
Como já foi lembrado na primeira reportagem desta séria, nesta quarta-feira, 8 de novembro, o governo de Cuba apresentará pela 15ª vez na Assembléia Geral da ONU, uma resolução pedindo o fim do bloqueio, oficialmente pelos Estados Unidos ao país desde 7 de fevereiro de 1962.



Desde 1992, o governo norte-americano foi derrotado em todas as votações. Em 2005, apenas Israel e as Ilhas Marshall se posicionaram favoravelmente ao bloqueio. Deste então, mais de cem países se manifestaram contra a política de Bush.



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Vermelho inicia série sobre o bloqueio a Cuba
As recentes investidas norte-americanas à Ilha
A oposição ao bloqueio dentro dos Estados Unidos
O bloqueio e a questão da extraterritorialidade
Os efeitos sociais do bloqueio – parte 1

Os efeitos sociais do bloqueio – parte 2