La Jornada: O apagão na Europa, a privatização e crise energética

Milhões de europeus ficaram sem energia elétrica no dia 4, sábado, após uma falha nas redes que alimentam vários países do velho continente. O apagão afetou amplas zonas da Franças, Espanha, Itália, Bélgica e Alemanha. Até o encerramento desta edição (5/1

Segundo a Electricité de France (EDF), o corte verificou-se devido a um problema na conexão internacional européia, especificamente em duas linhas de alta tensão de 400 mil volts na fronteira da França com a Alemanha. Estas anomalias verificam-se no momento em que o mercado elétrico europeu experimenta uma intensa abertura ao investimento privado, pois as diretivas européias contemplam uma abertura total do mercado energético em julho de 2007.


 


De acordo com a EDF Espanha, atualmente privatizou-se até 70 por cento do mercado europeu. Só na França, 18 por cento do abastecimento elétrico é proporcionado por empresas privadas, alheias ao grupo EDF, responsável pelo abastecimento nesse país.


 


Esta crise recorda os apagões ocorridos em anos recentes na Califórnia e em Nova York. Em maio último uma falha semelhante deixou presas vários milhares de pessoas nesta cidade, depois de o sistema ferroviário ser afetado.


 


Dois meses depois, bairros como Queens ficaram sem luz por mais de cinco dias, em prejuízo de mais de 100 mil pessoas. Em agosto de 2003 um apagão deixou sem eletricidade vários estados e cidades dos Estados Unidos e Canadá, dentre eles a própria Nova York, Cleveland, Toledo, Hartford, Detroit, o Estado de Massachussetts, Toronto e Ottawa (ambas as cidades no Canadá).


 


Nesta zona dos EUA o abastecimento de energia é da responsabilidade de empresas privadas, como a Con Edison. Em todos os casos as falhas foram atribuídas à ineficiência das empresas fornecedoras de eletricidade.


 


A privatização da energia elétrica, uma tendência que se acelerou nos últimos anos, trouxe consigo uma grande incerteza quanto à qualidade e eficiência do serviço. O exemplo mais claro destas más manobras é a Califórnia.


 


Em 1998, o legislativo desse Estado aprovou a desregulamentação do mercado elétrico com a promessa de que, ao eliminar os controles oficiais e privatizar a produção, a competição reduziria os preços.


 


Contudo, ocorreu exatamente o contrário. As tarifas para o consumidor foram artificialmente congeladas para evitar o forte golpe econômico da livre flutuação de preços, mas a procura elevada foi correspondida por custos especulativamente altos da parte das companhias geradoras, pondo as empresas à beira da bancarrota, uma vez que transferiram milhares de milhões de lucros pela venda de centrais eletroprodutoras às suas companhias matrizes.


 


Basta recordar o caso Enron para ilustrar esses malefícios. Como resultado desta manobra, a seguir a inumeráveis apagões, dos quais os mais célebres ocorreram em 2000 e 2001, o estado da Califórnia teve que tratar do resgate destas companhias e financiar a compra de eletricidade.


 


As conseqüências desta onda de privatizações do setor elétrico por todo o mundo é, como se pode ver nos casos mencionados, a incerteza e a corrupção. Será este o futuro que desejam aqueles que promovem a privatização do sector no México? Mais vale ir com cuidado, pois à luz dos resultados nos Estados Unidos e na Europa as privatizações não são a melhor opção para proporcionar um melhor serviço aos cidadãos.