Eleições nos EUA: Pesadelo republicano aumenta com baixas no Iraque

A declarada insatisfação de grande parte dos americanos com a atuação do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no conflito no Iraque somado às 105 mortes de soldados americanos neste conflito no mês passado minam as chances dos republicanos nas e

“Há muitos fatores que pesam contra os republicanos nesta disputa, mas a Guerra do Iraque é o maior deles”, diz à Folha Online Steven Smith, professor de Ciências Políticas da Universidade de Washington em Saint Louis (WUSL) e autor de seis livros sobre o Congresso dos EUA.


 


“A popularidade de Bush, devido à Guerra do Iraque, continua a decrescer. Outubro foi o mês em que o número de mortes entre soldados americanos bateu recorde no Iraque, então, o conflito é o principal assunto”.


 


Recorde do ano


 


Com 105 mortes, outubro marcou o recorde de baixas entre as tropas dos EUA desde janeiro de 2005, quando 107 soldados americanos morreram no Iraque. O mês com maior número de mortes foi novembro de 2004, com 137 baixas. Desde a invasão do país, em março de 2003, mais de 2.800 militares americanos morreram em território iraquiano.


 


Segundo Smith, as repetidas denúncias de corrupção e outros crimes envolvendo legisladores republicanos também dificultam o cenário para o partido, como o escândalo sexual envolvendo o deputado Mark Foley, acusado de trocar e-mails com teor sexual com estagiários do Congresso.


 


De acordo com o especialista, os republicanos já enfrentavam problemas antes da eclosão do escândalo envolvendo Foley. Mas o caso, segundo ele, agravou a situação, já que os líderes do Congresso foram acusados de serem lentos e não agirem para conter Foley, mesmo tendo informações sobre a denúncia meses antes do escândalo estourar.


 


“Grande parte da população dos EUA ficou com a impressão de que o tempo dos republicanos já passou, e que já é hora de uma mudança. O escândalo reforçou a insatisfação que já existia contra os republicanos”, diz.


 


Renovação nos representantes


 


A poucos dias das eleições legislativas, as pesquisas e os analistas políticos apontam que o Partido Democrata têm possibilidades de alcançar a maioria na Câmara dos Deputados e, ainda que em menor número, também no Senado.


 


As eleições renovarão todos os membros da Câmara dos Deputados, um terço do Senado e 36 governadores dos 50 Estados americanos. Os deputados e senadores — que cumprem mandatos de seis anos — são eleitos a cada dois anos.


 


Os democratas têm mais vantagem na Câmara que no Senado. Atualmente, os republicanos têm 232 assentos contra 202 dos democratas na Câmara dos Representantes. Com mais 15 cadeiras, conseguirão a maioria. “E eles parecem estar muito próximos disso”, afirma Smith.


 


Já no Senado, as chances de os democratas obterem a maioria aparentemente são menores. Lá, os democratas precisam de mais seis cadeiras e, provavelmente, conseguirão ao menos duas ou três, mas não se sabe se alcançarão mais do que isso.


 


Atualmente, o Senado dos EUA é composto por 55 republicanos, 44 democratas e um senador independente.


 


“Se os democratas conseguirem cinco cadeiras, por exemplo, o número de assentos ficará empatado. Neste caso, o vice-presidente (Dick Cheney), que é o presidente do Senado, decidiria quem tem a maioria, e optaria pelos republicanos”.


 


Estratégia no Iraque


 


Segundo Smith, caso a tendência de vitória democrata se confirme, o governo de Bush enfrentará problemas com o Congresso se não mudar sua política em relação ao Iraque.


 


“O Congresso é quem aprova os recursos para a ação no Iraque. Se os democratas conseguirem a maioria em uma ou em ambas as Casas, podem barrar a liberação de recursos para o governo de Bush”, explica.


 


Por isso, de acordo com Smith, é provável que Bush mude sua estratégia para evitar problemas com o Congresso, começando, por exemplo, a retirar as tropas americanas do Iraque.


 


“Há várias possibilidades. Uma delas é que Bush aprenda uma lição com as eleições e mude sua política. A segunda é que ele confronte o Congresso, que resistirá a seus pedidos de liberação de verbas. A terceira é que o Congresso realize investigações contra a política de Bush no Iraque, o que traria ainda mais problemas para a administração”, diz Smith.


 


Presidente fracassado


 


Mas os democratas devem enfrentar dificuldades para realizar mudanças no governo. “É pouco provável que eles consigam a maioria no Senado, então, os senadores republicanos poderão evitar que projetos de lei dos democratas sejam aprovados”, afirma.


 


Smith diz ainda que o Partido Democrata quer implementar reformas nas áreas de seguridade social, educação, saúde, e energia, para que os EUA utilizem fontes energéticas alternativas e deixem de ser tão dependentes do petróleo. “São as áreas que eles querem priorizar, mas aprovar leis, com a oposição de Bush e do Senado, não será fácil”.


 


Em relação às eleições presidenciais de 2008, Smith diz acreditar que uma vitória dos democratas nas legislativas prejudicará as ambições da administração Bush.


 


“Se os democratas vencerem as legislativas, ficará muito mais difícil para Bush e os republicanos imporem sua agenda”, diz. Para ele, os democratas terão mais facilidade para agir, e para tentar comprovar a teoria de que os republicanos são um “obstáculo” para o progresso.


 


Na opinião do especialista, o Partido Republicano encontrará menos problemas se tentar eleger um republicano moderno para presidente. “Bush faz parte da linha conservadora e se tornou um modelo de presidente “fracassado”. Um candidato como John McCain, do Arizona, será mais fácil de eleger do que um nome mais conservador”, diz.