''Mercado'' e imprensa já pressionam por definição na Fazenda

Presidente Lula diz que Guido Mantega permanece no cargo, ao menos por enquanto. Mas disputa pela agenda do segundo mandato do petista já começou. Em jogo, a flexibilização ou não da política econômica.

Marcel Gomes – Carta Maior


 


SÃO PAULO – Começou a disputa pela agenda do segundo mandato do presidente Lula. Primeiro foi o debate sobre os rumos da política externa, que ganhou as páginas dos jornais na semana passada. Agora, é a questão econômica começa a pegar fogo. Em pauta, o que todos querem saber é qual será o perfil da próxima equipe econômica, se Guido Mantega e Henrique Meirelles serão mantidos, se o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ou o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, serão integrados a ela.


 


Em entrevista ao Jornal Nacional , da TV Globo, nesta segunda-feira (30), o próprio Lula disse que tem até o dia 1º de janeiro para definir seu novo ministério – até porque o novo Congresso só assumirá nessa data. É um tempo longo demais para um mercado financeiro viciado no velocíssimo ritmo do sobe e desce de ações. Por isso, o presidente pode se preparar para a boataria, que deve continuar até que uma decisão definitiva seja anunciada.


 


Ciente de que a ansiedade do mercado pode afetar os voláteis índices financeiros (o dólar subiu 0,75% hoje, para R$ 2,15), a presidência da República já havia divulgado uma nota oficial, durante a tarde, em que reforça o apoio de Lula a Mantega, mas não esclarece se ele será mantido no próximo mandato. Diz a nota, assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer: “Diante de rumores sobre uma suposta substituição do atual ministro da Fazenda, o Presidente da República reafirma que só a ele cabe indicar ministros e que o ministro escolhido por ele para ocupar a pasta da Fazenda chama-se Guido Mantega”.


 


Escolhido por Lula para ficar por enquanto? Para ficar até o final do ano? Para ficar no segundo mandato? Essas são as perguntas que os operadores do mercado financeiro e os colunistas de jornais afinados a eles estão se perguntando. Até porque a pauta desejada por boa parte deles é clara: manutenção do superávit, corte nos gastos, conservadorismo na política monetária e na redução dos juros.


 


Se Mantega realmente ficar, os defensores do ortodoxismo dificilmente verão cortes drásticos no orçamento. Mais de uma vez, o ministro se manifestou dizendo que é possível melhorar a qualidade dos gastos do governo e fazer cortes pontuais, mas sem choques fiscais, porque isso atingiria inevitavelmente os programas sociais. Mantega se comprometeu, porém, a estabelecer um redutor de gastos correntes sobre o orçamento. O objetivo seria reduzir, a cada ano, de 0,1 a 0,2 ponto porcentual os gastos correntes, que representam cerca de 18% do PIB. O objetivo é derrubar esse percentual gradativamente.


 


Mas essa proposta não agrada a muitos no mercado financeiro. A opção seria convencer Lula de que é melhor para o país colocar no cargo alguém mais afinado com as idéias do ex-ministro Antonio Palocci, para quem a questão fiscal era chave. Mas Lula, ao longo da campanha, deixou claro que sua prioridade no segundo mandato seria elevar o crescimento econômico. No último do domingo, quando as urnas ainda estavam ligadas, o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) saiu a público para dizer que a ''Era Palocci acabou''.


 


Com esse horizonte à vista, o perfil mais indicado para a Fazenda seria a manutenção do próprio Mantega ou a indicação de um outro economista fiel ao desenvolvimentismo. A queda-de-braço com o mercado financeiro está apenas começando.



 


Fonte: Agência Carta Maior