Felício frisa unidade dos movimentos sociais na reeleição

João Felício, secretário-geral da CUT, que coordenou a área de movimentos sociais da campanha pela reeleição de Lula, avalia que estes ''deram uma demonstração de muita unidade, ousadia, capilaridade''. Destaca ''em primeiro lugar o espírito unitário''. E

Felício falou ao Vermelho no Hotel Intercontinental, a um quarteirão do trecho da Avenida Paulista onde ocorreu a Festa da Reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. O hotel fervilhava de personalidades brasileiras e estrangeiras na noite de ontem.



Diversas formas de mobilização



Em uma suite do hotel, o presidente reeleito recebia, às 8h22, o telefonema de seu adversário Geraldo Alckmin para reconhecer o resultado e cumprimentá-lo. Enquanto isso, nas salas embaixo, centenas de  líderes sindicais, estudantis, comunitários e outros, ministros de Estado e governadores, dirigentes de partidos estrangeiros simpáticos à reeleição, deputados e líderes dos partidos aliados, no primeiro e no segundo turno, acompanhavam a apuração e trocavam impressões sobre a vitória.



''Esta campanha teve diversas formas de mobilização. Havia o Conselho Político da campanha; havia as ações dos partidos políticos de sustentação, o PT, PCdoB, PSB, PMDB; e havia os movimentos sociais, aqueles que deram sua contribuição para consolidar o que há de luta neste país, ajudaram a eleger o Lula em 2002. Eles novamente deram uma demonstração de muita unidade, ousadia, capilaridade'', afirma Felício, citando a seguir, exaustivamente, todos os segmentos que se mobilizaram.



''Nós temos agenda''



O dirigente da CUT destaca a importância da participação, na campanha, de forças de outras centrais, como a Força Sindical, a CGT, a CGTB e a SDS. Ele propõe que estas agora ''mantenham a unidade'', no que se refere à pressão política para exigir a redução dos juros, mais emprego, mais salário e mais direitos, ''pois os empresários e a direita vão pressionar também''.



''Nós temos agenda'', afirma o secretário-geral da CUT. Para ele, o engajamento dos dirigentes de movimentos sociais, na campanha pela reeleição, não conflita com a liberdade e autonomia dessas forças.



Com a experiência de quem passou três meses na coordenação da área de movimentos sociais da campanha de Lula, Felício destaca ''em primeiro lugar o espírito unitário''. E promete produzir um levantamento de todas as ações de campanha puxadas por essa área ''de base'' do povo organizado, muito presente na batalha pela reeleição e praticamente nula na campanha do bloco conservador PSDB-PFL.



Olha a luta de classes aí outra vez



Por que a diferença? Para Felício, que presidiu a CUT até este ano, ''os movimentos sociais nunca na história — e eu sei que este 'nunca' incomoda a direita — tiveram tanto espaço'' como no governo Lula. ''E isto não é pouco num país com a nossa cultura autoritária'', valoriza o sindicalista, projetado nos movimentos dos professores da rede estadual de São Paulo.



O sindicalista também concorda, como o próprio Lula e o grosso dos que o apoiaram, que o segundo turno foi benéfico na definição dos dois projetos. ''Eu digo que há males que vêm para o mal e há males que vêm para o bem. Como este segundo turno.''



Por que? Felício argumenta que o 29 de outubro ajudou a deixar as coisas ''muito nítidas''. E ajudou a trazer de volta para o centro das atenções conceitos como o da luta de classes, que ''alguns intelectuais'' diziam ser coisa ultrapassada. ''Eu nunca vi luta de classes como nesta eleição. De um lado, a elite apoiando Alckmin. De outro, a classe média, a intelectualidade, empresários progressistas mas, acima de tudo o povão'', avalia.



''Um contraponto importante''



Felício faz o balanço da campanha de olho no futuro. ''Eu acho que isso deixa uma lição importante: que estes movimentos mantenham a sua unidade; e que mantenham a pressão. Contra a pressão da mídia e dos conservadores, nós podemos ser um contraponto importante, para que este projeto, que inclui, seja aprofundado.''



''Também estaremos vigilantes, porque sabemos da ousadia da direita. Não admitiremos retrocesso, como não admitimos no ano passado, quando ameaçaram o impeachment e saímos às ruas em defesa do mandato de Lula'', afirma João Felício.



De São Paulo