Debate acirrado entre Olívio e Yeda no RS

Um confronto acirrado. Foi assim o último debate entre os candidatos ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, que aconteceu na noite desta quinta-feira (26), na RBS TV. O tema desenvolvimento deu a tônica no confronto. Os candidatos debateram durante um

O debate se deu em um momento decisivo da campanha para os dois candidatos. Isto porque as últimas pesquisas de intenção de voto apontam para uma disputa apertada pelo governo gaúcho no domingo. A diferença entre Yeda e Olívio, que chegou a ser de mais de 25 pontos percentuais no início do segundo turno, caiu para seis, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Methodus, divulgada nesta quarta (26). Nela a candidata tucana aparece 49,2% das intenÇões de voto, enquanto que Olívio aparece com 43,1%.


 


Apesquisa detectou queda acentuada de Yeda e crescimento do candidato da Frente Popular. Os números se confirmaram nesta sexta, com a divulgação da pesquisa do Correio do Povo. Nela os números são bem parecidos: Yeda tem 49,9% e Olívio Dutra, aparece com 42,2%, na estimulada.


 



Olívio procurou lembrar, por diversas vezes, que Yeda participou do governo de Antonio Britto e apoiou os governos de FHC. Yeda direcionou seus ataques ao governo Olívio no Estado (1999/2003) e teceu críticas às políticas de Lula no governo federal.


 


Segurança: Polêmica sobre desmembramento de Secretarias


 


No primeiro bloco, os temas foram escolhidos por sorteio. Olívo começou perguntando sobre segurança. Ele questionou a proposta de Yeda de separar as secretarias de Justiça e de Segurança, dizendo que a medida é semelhante a decisões tomadas em São Paulo, onde ocorreram diversos ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), e perguntou com quem ficariam os presídios.


 


Yeda explicou que a Segurança Pública cuidaria do combate ao crime, enquanto a Susepe e os presídios estariam sob jurisdição da Justiça. Olívio retrucou que não ia separar, ''criar duas coisas desnecessárias'', e que quer ''todas as instituições de forma integrada''. ''O importante é unificar, articular'', disse.


 


A candidata tucana perguntou sobre saúde. Acusou Olívio de, quando governador, ter aplicado mais em publicidade do que em médicos e equipamentos. Olívio respondeu dizendo que o seu governo foi o que mais aplicou em saúde. ''Nunca fomos acusados de desviar dinheiro da saúde. Queremos aumentar e qualificar os investimentos''. E alfinetou: ''O governo do Britto, que a senhora apoiou, gastou muito mais com publicidade que com saúde. Nós, não''.


 



Crescimento x tarifaço


 


Quando o assunto foi finanças do Estado, Yeda acusou Olívio de cometer irresponsabilidade ao propor redução de impostos. Olívio contra-atacou, dizendo que ela apoiou  ''o governo das privatizações, dos PDVs (Programa de Demissão Voluntária) que quebrou o Estado (sob Antônio Britto) e que apoiou os tarifaços de Britto e Rigotto. Essa é a diferença entre nossas propostas. Ninguém vai pagar mais por nada, no Estado. Vamos compensar com aumento da produtividade, encarar corretamente a crise. Queremos que o Rio Grande cresça positivamente, para aí podermos investir. O seu governo baixou o tarifaço. Nós não vamos repetir aumentos de impostos. É possível sim reduzir o ICMS, recuperar benefícios, e assim aumentar investimentos. Sem criação de pedágios, também'', disse Olívio.


 


Olivio propõe um programa de crescimento para o Estado que leva em conta a diminuição de impostos para setores estratégicos da economia gaúcha, como o coureiro-calçadista e de agroindústria alimentar; indústria têxtil; setor moveleiro e de madeiras; máquinas e implementos agrícolas; materiais de construção, incluindo madeiras, tijolos e telhas; produtos farmacêuticos; setor plástico; cerâmicas, pedras e minérios. A redução do imposto, segundo a proposta, será de 15% a 20%, dependendo do setor. A diminuição do ICMS estaria condicionada ao aumento do emprego e da atividade da empresa e do setor.


 



Gestão


 


No segundo bloco o tema era livre. Yeda questionou Olívio sobre a questão da transparência. Mencionou pontos do seu programa e enfatizou que um dos principais problemas do Estado é falta de qualidade gerencial. Neste momento Olívio reafirmou com força o compromisso de não privatizar ou tercerizar nenhuma empresa pública. A candidata tucana aproveitou para perguntar para Olívio como ele irá reduzir cargos de confiança, gastos e impostos, além de cumprir promessas de criar empregos e postos de trabalho. ''Eu prometi que o Rio Grande ia crescer acima da média nacional, e pegamos um Estado esgualepado. Conseguimos crescer mais que o restante do país, e conseguimos isso com política séria, austeridade, um controle maior da cidadania. E não tivemos nenhum aumento de imposto no nosso governo! Quem deu o tarifaço foi o governo que a senhora apoiou, o governo Britto'', respondeu Olívio.


 



Incentivos à agricultura


 


Outro destaque do bloco foi a discussão sobre a agricultura. Neste ponto se acirraram às críticas a governos que cada um apoiou. Yeda partiu para o ataque às políticas voltadas para o agronegócio praticadas pelo governo Lula, criticando o câmbio baixo e a falta de crédito e apoio. Olívio replicou que os governos apoiados por Yeda sempre agiram à base do ''tarifaço'', e voltou a insistir que pretende reduzir impostos de insumos e instrumentos utilizados na agricultura e em outros setores, possibilitando crescimento e geração de empregos e renda.


 


Olívio aproveitou para defender sua proposta de redução de impostos de insumos importantes para o setor, como o óleo diesel.


 


O terceiro bloco, novamente com temas sorteados, iniciou dando continuidade ao tema agricultura. A seca, que tem castigado os produtores gaúchos foi abordada. Yeda defendeu seu plano de irrigação e disse que ele não é apenas para os grandes. Olívio defendeu novamente realizações do período em que governou o Estado: ''Nós queremos articular ações para combater a seca. Nós financiamos perfurações e medidas para o correto tratamento do solo. Cuidamos da Emater, da Fepagro. Agora queremos aperfeiçoar, nosso governo foi o que mais investiu em agricultura familiar. Foi por isso que o PIB da agropecuária cresceu 21% no período''.


 



Polão


 


O clima esquentou quando olívio, no tema transportes, questionou Yeda sobre o ''Polão''. Segundo Olívio, Yeda defenderia obras para desafogar um trecho da BR-116, que contemplaria instalação de praças de pedágio. Yeda ficou bastante irritada. Tergiversou sobre o assunto e no final acabou admitindo a defesa do projeto.  


 


O contra-ataque de Yeda veio em seguida. Sobre empregos, ela questionou Olívio sobre a saída da Ford. Olívio, mais uma vez defendeu a proposta da Frente Popular para geração de empregos no Estado. Disse apostar na produção e produtividade, ''por isso vamos diminuir ICMS da agricultura em 20%, e dos outros setores, em 15%”. Afirmou que o projeto para enfrentar a crise prevê a criação de 125 mil postos de trabalho. Disse que tem compromisso com novos investimentos no Estado. ''Foi assim com a General Motors, com a Dell, vai ser com a Toyota''.


 


Yeda continuou atacando o fato de a Ford não ter permanecido no RS. Olívio disse assumir as atitudes que teve no caso e que lutou pela sua permanência, mas as negociações foram prejudicadas pelo governo de FHC; e acusou Yeda de ter apoiado a Medida Provisória 1740 (abril de 1999) que levou a Ford para a Bahia. ''A senhora votou contra os interesses dos gaúchos e a favor das oligarquias baianas e paulistas'', sentenciou.


 



De volta ao tema desenvolvimento



No quarto bloco, de volta ao tema livre, Olívio foi o primeiro a perguntar. Afirmou que pretende reduzir o ICMS de diversos setores industriais, e questionou a posiçào de Yeda sobre isso.


 


Yeda acusou Olívio de oportunista, garantindo que a proposta não pode ser cumprida. Em sua réplica Olívio afirmou que os governos apoiados por Yeda sempre baixaram ''tarifaços'', com aumento de impostos e cancelamento de benefícios já aplicados a segmentos da indústria.



''E agora a senhora é contra uma proposta de redução do ICMS para setores altamente produtivos e geradores de emprego! (…) Não tem coerência a sua posição!'' disse Olívio, afirmando que a adversária teria votado contra um projeto que reduziria os encargos financeiros do setor moveleiro. Neste momento, Yeda passou por dificuldades no embate e não conseguiu se desvencilhar do fato de não ter apoiado este importante setor produtivo gaúcho.


 


Olívio acusou Yeda de não apresentar propostas concretas para enfrentar a crise financeira do Estado e de usar um ''economês que o povo não entende''. Yeda defendeu-se, e afirmou que sua candidatura propõe um novo jeito de resolver problemas que ''histórica e culturalmente não foram atacados''. Olívio insistiu que no período em que governou no Estado o Rio Grande do Sul cresceu acima da média nacional.


 


Em sua última questão livre Yeda perguntou a Olívio sobre projetos para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, mencionando o crescimento das áreas de silvicultura no Estado.


 


Olívio afirmou que o plantio de árvores é uma boa alternativa, desde que conjugada a outras atividades para diversificar as fontes de renda e emprego. O candidato também lembrou que há uma questão ambiental a ser observada quando se resolve plantar árvores em um bioma originalmente do Pampa.


 


Em sua réplica Yeda afirmou ter medo das atitudes que um governo da Frente Popular pode tomar frente aos investimentos em silvicultura, já que sua base de apoio foi responsável pela destruição de áreas da empresa Aracruz.


 


Na tréplica Olívio garantiu que usará sua experiência para trabalhar respeitando diferenças. ''Isto é democracia. Não a unanimidade. (…) A silvicultura é importante, mas não para substituir, e sim diversificar e gerar recursos e empregos. Tudo isso sem nunca agredir o bioma Pampa''.


 



Considerações finais


 


Ao se despedir, Yeda procurou valorizar sua experiência como professora e deputada. Repetiu que a saída para o Rio Grande é o seu ''novo jeito de governar''.


 


Olívio Dutra iniciou suas considerações finais fazendo referência ao papel da sua vice, Jussara Cony. Reafirmou a disposição de trabalhar, no se governo, afinado com o segundo mandato do presidente Lula, ''isso vai ser bom para o Rio Grande e vai ser bom para o Brasil'', disse.



De Porto Alegre
Clomar Porto
Com agências